Poupança: Um Investimento Tradicional
Com 160 anos de história, a caderneta de poupança, criada por Dom Pedro II, continua sendo um investimento altamente tradicional e popular entre os brasileiros. Este tipo de aplicação é amplamente reconhecido por sua simplicidade e fácil acesso, mesmo para pessoas menores de idade. Contudo, muitos brasileiros estão começando a deixar de lado a poupança. De acordo com dados recentes do Banco Central, no mês de setembro, mais de R$ 15 bilhões foram retirados das contas de poupança. Esse movimento se deve, em parte, à rentabilidade insatisfatória.
Ainda assim, em um país enfrentando níveis recordes de inadimplência e baixos índices de educação financeira — com 55% da população afirmando saber pouco (40%) ou nada (15%) sobre o tema, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) —, o Dia Mundial da Poupança serve como um importante lembrete da necessidade de iniciar pelo básico: a prática de guardar dinheiro.
A Rentabilidade da Poupança
Embora a caderneta continue a ser a opção mais familiar para os brasileiros, os títulos públicos do governo têm se destacado por oferecer uma rentabilidade superior, além de segurança e flexibilidade para aqueles que desejam começar a investir. Quando a taxa Selic (taxa básica de juros) se encontra acima de 8,5% ao ano, a poupança ainda rende 0,5% ao mês, mais a Taxa Referencial (TR). Mesmo com a Selic atualmente elevada a 15% ao ano, o rendimento da poupança se mantém quase inerte, variando entre 0,5% e 0,6% ao mês, sem se aproveitar dos benefícios de uma taxa de juros alta.
De acordo com Fabricio Tonegutti, especialista em direito tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a caderneta de poupança apresenta um rendimento em torno de 8,4% ao ano, enquanto alternativas consideradas igualmente seguras, como o Tesouro Selic e o Certificado de Depósito Bancário (CDB) com liquidez diária, oferecem rendimentos que variam entre 12% e 14% líquidos.
Em um exemplo prático, ao utilizar a Calculadora do Cidadão, uma aplicação de R$ 1.000,00 na poupança geraria um retorno de R$ 73,31 em um período de 12 meses. Em contrapartida, o mesmo valor aplicado em um investimento do Tesouro Selic renderia R$ 136,71.
Marília Fontes, co-fundadora da Nord Investimentos, argumenta que “a poupança nunca vale a pena”, uma vez que sua rentabilidade sempre será inferior ao Tesouro Selic. A especialista salienta, ainda, que a caderneta é garantida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura ao investidor a devolução de até R$ 250 mil em situações de inadimplência ou falência do banco. Já o Tesouro Selic, por sua vez, possui a garantia do governo.
Quando a Poupança Faz Sentido
Tonegutti também observa que existem três situações em que a poupança pode ser uma escolha válida: para valores muito baixos (inferiores a R$ 100), para aqueles que necessitam de liquidez imediata e, principalmente, para iniciantes que estão começando a cultivar o hábito de poupar. “Neste caso, o valor é educativo — é mais importante desenvolver a disciplina de poupança do que buscar uma rentabilidade ligeiramente maior”, afirma.
O Momento de Migrar para Outros Investimentos
Para Tonegutti, a migração dos fundos da poupança para outros investimentos deve ocorrer assim que o investidor acumular mais de R$ 1.000 e puder optar pela liquidez de D+1 (disponibilidade do dinheiro no dia seguinte) em vez da imediata. Ele menciona que, ao manter quantias substanciais na poupança, o investidor acaba "deixando dinheiro na mesa".
Entre as opções acessíveis disponíveis no mercado estão os CDBs de instituições financeiras sólidas que oferecem liquidez diária, assim como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Além disso, o Tesouro Direto se destaca como uma escolha popular.
No contexto atual, Marília Fontes também explica em um vídeo como investir no Tesouro Selic pode ser benéfico para a reserva de emergência, além de explorar as vantagens do Tesouro Prefixado e do Tesouro IPCA+, que asseguram a proteção dos ganhos frente à inflação.
Cultivando o Hábito de Poupar
Especialistas afirmam que a prioridade deve ser a formação de uma reserva de emergência antes de considerar outros tipos de investimentos. Recomenda-se que os indivíduos guardem o equivalente a pelo menos seis meses de despesas essenciais para quem possui uma renda fixa, e entre nove a doze meses para trabalhadores autônomos.
Tonegutti apresenta algumas estratégias para ajudar nesse processo:
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Regra 50-30-20: Destine 50% da renda para despesas essenciais, 30% para gastos variáveis e 20% para poupança ou investimentos. Para quem está endividado, o ideal é usar esses 20% inicialmente para quitar empréstimos, começando pelas dívidas que apresentam os juros mais altos.
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Pague-se primeiro: Configure uma transferência automática no dia de recebimento do salário, direcionando uma porcentagem fixa (inicie com 5%) para uma conta separada de investimentos. Por exemplo, uma pessoa que tem um salário de R$ 3.000 poderia economizar R$ 150 por mês, acumulando R$ 1.800 ao longo de um ano apenas com disciplina.
- Regra das 48 horas: Para compras que excedam R$ 200, aguarde dois dias antes de tomar uma decisão. Pergunte-se: essa compra é realmente necessária? É possível pagar sem comprometer o orçamento? Essa aquisição agrega valor à minha vida?
O Dia Mundial da Poupança serve, portanto, como um convite à reflexão sobre a importância de desenvolver o hábito de poupar. A educação financeira é fundamental para alcançar estabilidade, independência e liberdade nas escolhas financeiras, seja por meio da poupança, do Tesouro Direto ou de qualquer outro tipo de investimento que se adeque ao contexto de vida do investidor.
Fonte: einvestidor.estadao.com.br