Atas do Comitê de Política Monetária – Copom
273ª Reunião – 16-17 setembro, 2025
A) Atualização da conjuntura econômica e do cenário do Copom
1. O ambiente externo permanece incerto devido à conjuntura econômica e à política monetária nos Estados Unidos. Como resultado, o comportamento e a volatilidade de diversas classes de ativos têm sido impactados, refletindo nas condições financeiras globais. Esse contexto impõe uma cautela especial aos países emergentes, em um cenário de tensões geopolíticas.
2. No cenário interno, os indicadores de atividade econômica continuam demonstrando uma moderação no crescimento, conforme esperado, embora o mercado de trabalho ainda apresente um dinamismo significativo.
3. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes permaneceram acima da meta estabelecida para a inflação. As expectativas de inflação para os anos de 2025 e 2026, segundo a pesquisa Focus, ainda se situam em patamares superiores à meta, com cifras de 4,8% e 4,3%, respectivamente.
B) Cenários e análise de riscos
4. O cenário prospectivo de inflação continua desafiador em diversas dimensões. O Comitê examinou o contexto internacional, a atividade econômica, a demanda agregada, as expectativas de inflação e também a inflação corrente. Após essa análise, discutiu as previsões e expectativas para a inflação antes de tomar decisões sobre a atual deliberação e a comunicação futura.
5. O cenário externo continua envolvidos em incertezas. Questões estruturais, como a situação fiscal em países desenvolvidos, têm contribuído menos para a formação dos preços de mercado do que o esperado. Em contrapartida, as movimentações de curto prazo da política monetária americana têm causado um impacto maior. Assim, assuntos como o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve e o ritmo de crescimento dos Estados Unidos emergem como temas importantes, ao passo que continuam as preocupações acerca do efeito das tarifas sobre a inflação nesse país. Independentemente disso, os riscos de longo prazo, como a introdução de tarifas e o aumento dos gastos fiscais, continuam presentes. O consenso no Comitê indica que essa inquietude sobre a situação externa ainda persiste; consequentemente, o Copom deve manter uma posição cautelosa. O Comitê se concentra nos mecanismos de transmissão dos desenvolvimentos externos sobre a dinâmica da inflação interna e como esses fatores influenciam o cenário futuro. Nesse debate, também se discutiu a recente apreciação do câmbio, que pode estar relacionada tanto ao diferencial de juros quanto à depreciação da moeda americana em relação a outras moedas.
6. A situação da atividade econômica doméstica indica uma moderação no crescimento. Isso traz maior certeza de que o cenário estabelecido pelo Comitê está, até o presente momento, se concretizando. Certos fatores que poderiam ter causado uma discrepância em relação a essa projeção, como estímulos fiscais ou de crédito, não resultaram até o momento em variações significativas em relação ao esperado. As pesquisas setoriais mensais e os dados mais recentemente disponíveis sobre consumo, em geral, corroboram a continuidade de um crescimento gradual em diminuição. Em momentos de mudança nos ciclos econômicos, é comum observar sinais mistos que podem surgir de indicadores econômicos ou de diferentes mercados. Por essa razão, o Comitê continuará a monitorar todos os dados disponíveis.
7. Apesar dos sinais contraditórios, o Comitê acredita que os sinais oriundos da demanda e da atividade econômica até o presente momento indicam que o cenário desenrola-se de acordo com o esperado e que é compatível com a política monetária em operação. Mercados mais sensíveis a condições financeiras, como o mercado de crédito, têm demonstrado uma desaceleração mais clara, refletindo na redução do volume de concessões, em comparação com o mercado de trabalho. Em similaridade, há uma diminuição mais acentuada na demanda por bens que dependem mais do crédito, em contraste com bens de consumo que estão mais associados à renda. Outro exemplo dentro do mercado de crédito é o arrefecimento mais significativo dos créditos de longa duração, em oposição aos créditos emergenciais. O Comitê ressalta que a desaceleração da demanda agregada é um componente essencial para o processo de reequilíbrio entre oferta e demanda na economia, além de facilitar a convergência da inflação em direção à meta estabelecida.
8. A política fiscal também exerce um impacto de curto prazo, principalmente por meio do estímulo à demanda agregada, além de uma dimensão estruturante que pode influenciar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e efetivar impactos no prêmio a termo da curva de juros. Uma política fiscal que se mova de maneira contracíclica e que ajude a diminuir o prêmio de risco contribui para a convergência da inflação à meta. O Comitê reafirmou a opinião de que um esmorecimento nas reformas estruturais e na disciplina fiscal, acrescido do aumento de créditos direcionados, assim como as incertezas acerca da estabilização da dívida pública, podem elevar a taxa de juros neutra da economia, prejudicando a eficácia da política monetária e, por consequência, aumentando o custo associado à desinflação em termos de atividade econômica. O Comitê sustentou sua convicção de que as políticas devem ser consistentes, confiáveis e contracíclicas. Em especial, a discussão no Comitê reafirmou a necessidade de uma harmonia entre as políticas fiscal e monetária.
9. As expectativas de inflação, que são medidas através de diversos instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, permanecem acima da meta em todos os prazos, perpetuando o cenário inflacionário adverso. Inicialmente, observou-se uma diminuição nas medições de inflação implícita extraídas de preços de ativos financeiros. Isso inclui tanto a redução dos prêmios de risco quanto as expectativas de inflação embutidas nessas métricas. Mais recentemente, porém, nota-se um ligeiro movimento de queda nas expectativas de inflação conforme medido pela pesquisa Focus, embora essa diminuição ainda esteja mais centrada nos prazos mais curtos, devido a uma combinação de fatores, que incluem a política monetária contracionista e os números de inflação mais recentes. O Comitê reiterou e renovou seu compromisso em ancorar as expectativas e em conduzir uma política monetária que promovesse essa reanálise. A reanálise das expectativas de inflação, segundo o Comitê, reduz os custos associados à desinflação e esse processo requer perseverança e firmeza.
10. A desancoragem das expectativas de inflação é uma preocupação compartilhada por todos os membros do Comitê e deve ser enfrentada. Foi enfatizado que situações de desancoragem das expectativas aumentam o custo da desinflação em termos de atividade econômica. O processo de almejar a convergência da inflação à meta se torna mais complexo em um ambiente onde as expectativas estão desancoradas por períodos mais longos. Na discussão sobre essas questões, a principal conclusão que todos os membros do Comitê concordaram foi que, diante de um clima de expectativas desancoradas, como é a situação atual, é necessária uma restrição monetária mais rigorosa e por um período mais extenso do que o que seria considerado adequado anteriormente.
11. As recentes leituras sobre a inflação evidenciam uma dinâmica mais favorável em comparação com o que era previsto no início do ano. A combinação de um câmbio mais valorizado e de um comportamento mais ameno das commodities esteve na origem da redução nas inflações de bens industrializados e alimentos. Em contrapartida, a inflação de serviços continua a ser mais resistente, refletindo um mercado de trabalho que permanece dinâmico e uma atividade econômica que apresenta uma moderada desaceleração. Além das variações em itens individuais ou oscilações de curto prazo, os núcleos de inflação têm se mantido acima do nível compatível com a obtenção da meta há meses, corroborando a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda, que exige a manutenção de uma política monetária contracionista por um período prolongado.
12. O Comitê analisou, então, as projeções. No cenário de referência, a trajetória da taxa de juros é obtida a partir da pesquisa Focus. A taxa de câmbio parte de um valor inicial de R$5,40 por dólar e evolui conforme a paridade do poder de compra. O preço do petróleo segue a curva futura nos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano a partir desse período. Adicionalmente, considera-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2025 e 2026.
13. No cenário de referência, as projeções para a inflação acumulada em quatro trimestres para 2025 e 2026 são, respectivamente, 4,8% e 3,6%. Para o horizonte de relevante de política monetária, que se refere ao primeiro trimestre de 2027, a projeção de inflação com base no cenário de referência extraído da pesquisa Focus está mantida acima da meta de inflação, em 3,4%.
14. Relativamente ao balanço de riscos, concluiu-se que o cenário de incerteza continua apresentando riscos elevados tanto para cima quanto para baixo no que diz respeito ao panorama da inflação. O Comitê destacou alguns riscos de alta para o cenário de inflação e as expectativas relacionadas. Dentre eles, mencionam-se: (i) uma possível desancoragem das expectativas de inflação por um período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência da inflação de serviços do que a projetada, decorrente de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma combinação de políticas econômicas, internas e externas, que podem resultar em impactos inflacionários maiores que os aguardados, como uma taxa de câmbio que se mantenha depreciada por períodos prolongados. No que tangencia os riscos de baixa, ressaltam-se: (i) uma eventual desaceleração na atividade econômica interna que seja mais acentuada do que a prevista, impactando o cenário inflacionário; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada como consequência de choques comerciais e de um contexto de maior incerteza; e (iii) uma queda nos preços das commodities, promovendo efeitos desinflacionários.
15. Para o futuro, o Comitê continuará a monitorar o ritmo da atividade econômica, que é fundamental para a definição da inflação, especialmente da inflação de serviços; o repasse das variações cambiais para a inflação, após um período de maior volatilidade nas taxas cambiais; e as expectativas de inflação, que permanecem desancoradas e são cruciais para o comportamento da inflação futura. Ressalva-se que os vetores inflacionários permanecem adversos, caracterizados pela resiliência da atividade econômica, pressões no mercado de trabalho, expectativas inflacionárias desancoradas e previsões de inflação elevadas. Esse contexto demanda uma política monetária significativamente contracionista por um período prolongado para assegurar a convergência da inflação rumo à meta estabelecida.
C) Discussão sobre a condução da política monetária
16. O Copom iniciou a discussão sobre a condução da política monetária, levando em conta o conjunto de projeções ponderadas e o balanço de riscos relativo à inflação prospectiva.
17. Após um aumento acentuado na taxa de juros, o Comitê decidiu interromper o ciclo e avaliar os efeitos acumulados. Agora, à medida que o cenário se tem desenhado como esperado, a estratégia escolhida foi manter a taxa de juros inalterada e seguir avaliando se, ao manter esse nível por um período prolongado, ela será suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
18. Em apoio ao cenário que o Comitê vinha antecipando, observa-se uma moderada desaceleração das atividades, uma leve diminuição na inflação atual e alguma diminuição nas expectativas de inflação. Contudo, o Comitê seguirá vigilante e não hesitará em reiniciar o ciclo de alta, caso considere necessário. A reafirmação do comprometimento com o mandato do Banco Central para levar a inflação à meta permanece firme.
D) Decisão de política monetária
19. O Comitê continua a acompanhar os anúncios sobre tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, além de como os desdobramentos da política fiscal interna impactam a política monetária e os ativos financeiros, enfatizando sua cautela em um cenário de maior incerteza. A situação é caracterizada por expectativas desancoradas, altas previsões inflacionárias, resiliência nas atividades econômicas e pressões no mercado de trabalho. Para garantir a convergência da inflação em direção à meta, em um ambiente de expectativas desancoradas, é necessária uma estratégia monetária que seja significativamente contracionista ao longo de um período extenso.
20. O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% ao ano, entendendo que essa determinação é coerente com a estratégia de alinhamento da inflação nas proximidades da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejudicar seu objetivo principal de sustentar a estabilidade de preços, essa decisão também implica na suavização das flutuações do nível de atividade econômica e na promoção do pleno emprego.
21. O cenário atual, repleto de incertezas, exige cautela na formulação da política monetária. O Comitê seguirá atento, analisando se a manutenção do nível atual da taxa de juros por um prolongado período será suficiente para assegurar a convergência da inflação em direção à meta. É importante ressaltar que os rumos futuros da política monetária poderão ser modificados, e o Comitê não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
22. Votaram a favor dessa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Tabela 1
Projeções de inflação no cenário de referência
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres (%)
Índice de preços | 2025 | 2026 | 1º tri 2027 |
---|---|---|---|
IPCA | 4,8 | 3,6 | 3,4 |
IPCA livres | 5,0 | 3,5 | 3,3 |
IPCA administrados | 4,3 | 3,8 | 3,8 |
Rodapé
1 A menos que mencione explicitamente o contrário, esta atualização considera as mudanças ocorridas desde a reunião do Copom em julho (272ª reunião).
2 O valor foi obtido por meio do procedimento adotado a partir da 258ª reunião, que consiste na média da cotação da taxa de câmbio observada nos dez dias úteis que precedem a reunião do Copom.
(BC)
Siga-nos nas redes sociais
Fonte: br.-.com