Ativos Brasileiros e Impulsos Globais
Na sua carta mensal, elaborada por Alexandre Mathias, Luciano Costa e Bruno Benassi, a corretora enfatiza que, apesar dos riscos fiscais, eleitorais e dos ruídos políticos — que incluem os impactos de políticas protecionistas nos Estados Unidos — estes fatores poderão reduzir parte do impulso positivo, mas os ativos brasileiros devem manter uma trajetória construtiva. O desenrolar da corrida eleitoral, uma vez iniciada oficialmente, irá influenciar a dinâmica do mercado, principalmente em relação à percepção acerca do ajuste fiscal e da evolução da dívida até 2027.
Corte de Juros do Fed no Radar
A Monte Bravo destaca que o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos gerou um otimismo global significativo. O Federal Reserve deu início ao afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, reduzindo a taxa básica para uma faixa de 4,00% a 4,25% ao ano. O banco central norte-americano também sinalizou a possibilidade de mais dois cortes nas reuniões de outubro e dezembro, podendo levar a taxa a 3,75% ao ano.
O impacto dessa decisão foi perceptível nos mercados: o índice S&P 500 registrou um crescimento de 3,5% em setembro, enquanto o Nasdaq teve um aumento de 5,6%, em grande parte impulsionado por ações de tecnologia e inteligência artificial. Os rendimentos dos Treasuries apresentaram oscilações, com os títulos de 10 anos diminuindo para 4,01% no meio do mês e encerrando setembro com uma taxa de 4,154%.
O dólar, por sua vez, manteve-se estável em relação a moedas desenvolvidas, mas sofreu uma queda de 2% frente ao real. O ouro, por outro lado, registrou um aumento expressivo de 12,8% no mesmo período. A análise indica que “a expectativa de queda dos juros nos Estados Unidos, acompanhada pela baixa volatilidade dos Treasuries e um dólar mais fraco, forma um cenário global favorável para os ativos de risco”, aponta o relatório.
Esse contexto contribuiu para que diversos ativos atingissem níveis recordes e deverá continuar a impulsionar os ativos brasileiros nos próximos 12 meses.
Ativos Brasileiros em Setembro
Em setembro, o desempenho das ações brasileiras também foi bastante positivo: o Ibovespa registrou um crescimento de 3,4% em reais, o que reflete o aumento do apetite dos investidores globais após o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, que reacendeu os fluxos de capital para mercados emergentes.
De acordo com a Monte Bravo, o rali na bolsa brasileira — que é, em grande parte, uma consequência de uma reprecificação global de risco — poderia ter se mostrado ainda mais vigoroso não fossem os desafios fiscais domésticos. Esses desafios elevaram o prêmio requerido nas taxas de longo prazo e limitam a expansão dos múltiplos de valuation da bolsa. A corretora reafirma sua perspectiva de que o Ibovespa poderá alcançar 150 mil pontos até o fim de 2025 e 175 mil pontos em um prazo de 12 meses.
Cenário Doméstico
No contexto brasileiro, os cortes de juros pelo Banco Central só devem ocorrer a partir de 2026. A Monte Bravo sublinha que a combinação de uma inflação mais controlada e sinais de desaceleração na atividade econômica — perceptíveis na fragilidade da indústria, fraqueza do varejo e na moderação do mercado de trabalho — cria condições favoráveis para que o Comitê de Política Monetária (Copom) comece a implementação de um ciclo de redução da Selic a partir de janeiro do próximo ano, podendo chegar a 11% ao ano ao término desse ciclo.
Entretanto, o país enfrenta uma restrição orçamentária que está prevista para 2027. A Monte Bravo alerta que “o Brasil convive com déficits gêmeos — fiscal e em conta corrente — uma combinação que aumenta as vulnerabilidades macroeconômicas e com frequência culmina em crises cambiais, aumento de juros, fuga de capitais e perda de confiança”.
O relatório estabelece uma comparação entre a situação atual e o período que precedeu a crise do segundo governo Dilma Rousseff, caracterizado por altos gastos públicos, uma dívida em ascendência e a deterioração das contas externas. Em relação à situação fiscal, “o déficit nominal está em cerca de 8% do PIB, enquanto o déficit em conta corrente aumentou para 3,5% do PIB. A relação entre a dívida e o PIB deve saltar de 71,7% em 2022 para uma faixa de 84% a 85% em 2026 — apresentando uma trajetória alarmante”, indica o documento.
Com o aproximar das eleições presidenciais de 2026, o debate sobre o futuro da política fiscal torna-se central. Hoje, o déficit primário está em torno de 1% do PIB. Para estabilizar a dívida, considerando um PIB potencial de crescimento de 2,5% ao ano e juros reais de 5,5%, seria preciso alcançar um superávit primário equivalente a 2,5% do PIB.
Fonte: www.moneytimes.com.br