Situação Financeira do Banco do Brasil
O Banco do Brasil (BBAS3) enfrentou uma fase desafiadora nos últimos trimestres, com a redução do lucro em mais de 50%. Este declínio significativo está associado a diversos fatores que impactaram negativamente a instituição.
Fatores que Influenciam os Resultados
Um dos principais elementos que contribuíram para a queda de lucro foi o agravamento da inadimplência no agronegócio. Esse fator se combina com as mudanças nas diretrizes implementadas pelo Banco Central (BC) e a deterioração na carteira de pequenas e médias empresas (PMEs), culminando em um balanço desfavorável para o segundo trimestre.
Adicionalmente, o JPMorgan sinalizou uma nova pressão sobre os resultados do terceiro trimestre, relacionada ao desempenho do Banco Patagônia, que é uma subsidiária do Banco do Brasil na Argentina. Embora essa operação represente apenas 12% do lucro do Banco do Brasil no primeiro semestre de 2025, qualquer impacto no lucro por ação (LPA) é considerado relevante.
Contexto Econômico da Argentina
O cenário econômico na Argentina continua a apresentar desafios. Os indicadores demonstraram deterioração, e os mercados locais foram afetados após o partido do presidente Javier Milei sofrer uma derrota significativa nas eleições locais da província de Buenos Aires. Como resultado, houve uma revisão nas projeções de lucro, que agora são estimadas em R$ 3,6 bilhões, representando uma queda de 4% em relação ao trimestre anterior e 7% inferior ao consenso da Bloomberg.
Por outro lado, há expectativa positiva quanto à BB Seguridade (BBSE3), que deve apresentar um desempenho favorável, conforme dados da Susep. Além disso, há a possibilidade de recuperação da margem financeira líquida (NIM), seguindo a tendência registrada no segundo trimestre.
Expectativas do Mercado
O JPMorgan também ressaltou que as expectativas dos investidores passaram por deterioração desde o Investor Day e a teleconferência de Relações com Investidores (RI). Essa mudança de perspectiva se deve, principalmente, aos atrasos na tramitação da MP 1.314/2025, que autoriza a renegociação das dívidas do agronegócio.
Essa medida é considerada um alívio potencial para o Banco do Brasil, mas ainda se encontra em uma fase inicial de implementação. Isso pode ter gerado um "risco moral" no terceiro trimestre, com os produtores rurais adiando os pagamentos de dívidas enquanto aguardam a aprovação final do programa.
Os analistas também lembraram que dados regulatórios do Banco Central, referentes a agosto, reforçaram o pessimismo no mercado. O lucro contábil foi de R$ 780 milhões, o que equivale a R$ 2,3 bilhões em termos anualizados contábeis ou R$ 3 bilhões em uma base gerencial, considerando R$ 700 milhões em ajustes de planos econômicos.
De maneira geral, embora há alguns meses se esperasse um trimestre semelhante ao segundo trimestre de 2025, a percepção atual é de que o consenso indica um terceiro trimestre mais desafiador.
Comparação entre Investidores Locais e Estrangeiros
O relatório do JPMorgan revela que os investidores locais estão demonstrando um pessimismo maior em comparação com os investidores estrangeiros. O lado comprados local tende a projetar um resultado ligeiramente inferior ao do segundo trimestre de 2025, mais alinhado com o desempenho observado em agosto. Em contrapartida, investidores estrangeiros parecem esperar por um resultado estável ou um leve crescimento.
Além disso, a capacidade do Banco do Brasil em cumprir o guia de lucro para 2025, que está estimado entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, está sob avaliação. O banco ressalta que esse intervalo pode estar em risco, uma vez que o quarto trimestre precisará ser robusto para atingir o limite inferior da faixa.
Desafios no Agronegócio
Os créditos vinculados ao agronegócio permanecem como o principal desafio enfrentado pelo Banco do Brasil, levando o banco a aumentar as provisões para perdas com crédito (PDD) para R$ 16,2 bilhões no trimestre, de acordo com o JPMorgan. Os produtores rurais têm adotado uma postura de "esperar para ver" em relação ao projeto de lei. Quanto mais a aprovação do refinanciamento de empréstimos demorar, maior a chance de operações com classificação de estágio 2 (risco moderado) migrarem para estágio 3 (inadimplência).
Em entrevista ao Money Times, Alberto Martinhago Vieira, diretor de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil, reconheceu que 2025 será um ano de rebalanceamento na capacidade de pagamento dos produtores. Vieira salientou: "O grande desafio é não colocar todo mundo nessa caixa de crise do agro, porque ainda temos muitas oportunidades na mesa".
Análise das Ações BBAS3
O JPMorgan considera que as ações do Banco do Brasil representam uma boa oportunidade para aproveitar a opcionalidade vinculada às eleições de 2026. Contudo, a análise sugere que a performance das ações pode ser mais favorável à medida que o período eleitoral se aproxime.
O banco observa também a deterioração na qualidade dos lucros nos últimos exercícios, com um aumento no volume de renegociações de crédito, um crescimento na contribuição contábil das operações na Argentina e o lançamento de despesas que estão classificadas como não recorrentes.
Com recomendação neutra, o preço-alvo para dezembro de 2026 foi definido em R$ 24 por ação. Essa avaliação implica que as ações do Banco do Brasil estão sendo negociadas a 0,7 vezes o valor patrimonial projetado para 2025 e a 4,3 vezes o lucro estimado para 2026.
Fonte: www.moneytimes.com.br