No dia de uma partida no icônico Estádio do Maracanã, localizado no Rio de Janeiro, é possível testemunhar um verdadeiro desfile de torcedores que, às vésperas da entrada no estádio, consomem bebidas em latinhas de cerveja e refrigerante. Esses itens, por sua vez, são proibidos de serem levados para dentro do local. Antes mesmo que os frequentadores possam se desfazer de suas latas nas lixeiras disponíveis, um grande número de catadores já se encarrega de coletar essas embalagens.
O trabalho dedicado desses catadores, muitos dos quais enfrentam condições socioeconômicas difíceis, contribui significativamente para que o Brasil mantenha, por anos a fio, uma taxa de reciclagem de latinhas extremamente alta. Em 2024, essa taxa alcançou a impressionante marca de 97,3%, conforme informações divulgadas.
Esses números são resultados de um levantamento realizado pela Recicla Latas, uma organização sem fins lucrativos estabelecida por empresas fabricantes e recicladoras de latas de alumínio, com o objetivo de aprimorar a indústria de reciclagem. A associação destacou que o Brasil se tornou um modelo, com 16 anos consecutivos apresentando uma taxa de aproveitamento acima de 96%.
No ano de 2022, a taxa de reciclagem chegou a 100,1%, o que significa que foram recicladas mais latinhas do que o total que foi comercializado. Para 2023, esse índice se estabeleceu em 99,6%.
Em 2022, foram reaproveitadas 33,9 bilhões das 34,8 bilhões de latinhas vendidas. Esses simples recipientes, após serem descartados, encontram-se de volta nas prateleiras em um prazo de apenas 60 dias.
Logística Reversa e seus Desafios
O sistema de logística reversa brasileiro é frequentemente elogiado por sua eficácia e confiabilidade. De acordo com Renato Paquet, secretário-executivo da Recicla Latas, essa estrutura se sobressai, mesmo em anos desafiadores.
“Conseguimos manter índices elevados, o que demonstra a força da articulação entre os diversos elos da cadeia”, afirma Paquet.
A logística reversa, que envolve a responsabilidade dos fabricantes em gerenciar o retorno dos resíduos gerados por seus produtos, está regulamentada pela Lei 12.305/2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A atuação da Recicla Latas ocorre em conjunto com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e a Associação Brasileira da Lata de Alumínio (ABRALATAS).
Janaina Donas, presidente da ABAL, ressalta que o Brasil se destaca globalmente em economia circular, onde as empresas não veem a reciclagem apenas como uma solução ambiental, mas também como uma estratégia competitiva e uma abordagem crucial para a descarbonização do setor. “A reciclagem é um caminho essencial que garante a segurança de suprimento”, afirma.
Além disso, Cátilo Cândido, presidente da ABRALATAS, reforça que o tema é relevante também por se tratar de uma cadeia estruturada, responsável por gerar renda e oportunidades em todas as regiões do Brasil.
O Papel dos Catadores no Processo de Reciclagem
O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis estima que o Brasil conta com aproximadamente 800 mil catadores que atuam na coleta e reaproveitamento de materiais recicláveis.
Uma importante conquista ocorreu em 2020, quando um termo de compromissos foi assinado entre a ABRALATAS, a ABAL e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Além de fomentar iniciativas para manter os altos índices de reciclagem, o documento prevê investimentos dos produtores para melhorar a condição de vida e a renda dos catadores.
Roberto Rocha, presidente da Associação Nacional dos Catadores (ANCAT), destacou a necessidade de melhorar a qualidade de vida dos catadores. Uma das soluções propostas é garantir que, além da remuneração pelos materiais entregues às empresas recicladoras, os catadores também sejam compensados pelo trabalho de coleta.
“Atualmente, ninguém remunera a recuperação ou a coleta do descarte das latinhas”, observa Rocha.
A proposta da ANCAT é que as prefeituras assumam os custos dessas atividades, envolvendo a participação do setor privado. “O que precisamos para valorizar e dignificar o trabalho dos catadores é implementar um programa robusto de pagamento pelos serviços prestados na coleta das latinhas de alumínio”, afirmou Rocha. Ele também defende que os catadores autônomos, não organizados em cooperativas, tenham acesso às políticas estabelecidas pela lei de logística reversa.
A Importância da Reciclagem para a Sustentabilidade
A reciclagem de latas de alumínio não é apenas uma prática que beneficia o meio ambiente; ela também desempenha um papel vital na economia local e na criação de empregos. O trabalho realizado pelos catadores contribui significativamente para a redução do impacto ambiental, ajudando a minimizar a quantidade de resíduos sólidos que vão parar em aterros sanitários.
A reciclagem de latas de alumínio é altamente eficaz, visto que o material pode ser reciclado inúmeras vezes sem perda de qualidade. Além disso, o processo de reciclagem consome menos energia em comparação com a produção de novas latas a partir da mineração de bauxita, o que resulta em uma menor emissão de gases poluentes.
As iniciativas que promovem a reciclagem, por sua vez, fortalecem a economia circular, onde os recursos são reutilizados e reintroduzidos na cadeia produtiva, contribuindo para a diminuição da exploração de recursos naturais e a preservação do meio ambiente.
A Contribuição da Sociedade para um Futuro Mais Sustentável
Para que o sistema de reciclagem no Brasil continue a prosperar, é vital que conscientizemos a população sobre a importância da separação e disposição correta de resíduos. Cada cidadão pode desempenhar um papel fundamental nesse processo simples, porém eficaz.
Iniciativas educacionais que abordem a importância da reciclagem e do uso consciente de produtos são essenciais para fomentar uma cultura de responsabilidade ambiental. Além disso, é necessário que as empresas incentivem práticas sustentáveis dentro e fora da sua produção, criando um ciclo positivo que reverberará por toda a sociedade.
O Papel do Poder Público e Políticas Públicas
O Poder Público também possui um papel essencial na implementação e regulamentação de políticas que incentivem a reciclagem. Isso inclui desde a criação de leis que fomentem a logística reversa, até a destinação de recursos para programas que melhorem as condições de trabalho dos catadores.
A colaboração entre as esferas governamentais e o setor privado é fundamental para garantir que as práticas de reciclagem se tornem cada vez mais eficientes e inclusivas. Projetos que incentivem a parceria entre diferentes setores podem resultar em soluções inovadoras que beneficiarão tanto o meio ambiente quanto os trabalhadores envolvidos na cadeia de reciclagem.
Desafios e Oportunidades no Caminho da Reciclagem
Apesar dos avanços significativos que o Brasil alcançou na área de reciclagem, ainda existem desafios a serem superados. A desinformação sobre a importância da reciclagem, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de maior valorização dos catadores são algumas das questões que precisam ser abordadas.
Ao mesmo tempo, essas dificuldades também representam oportunidades. O fortalecimento da educação ambiental nas escolas, o incentivo a cooperativas de catadores e a promoção de inovações tecnológicas para melhorar a eficiência da coleta e reciclagem de materiais podem transformar o cenário atual.
Com a combinação de esforços de empresas, indivíduos e o governo, o Brasil pode continuar a se destacar como líder em reciclagem de latas de alumínio e servir como um modelo para outros países.
Conclusão
A reciclagem de latas de alumínio é um exemplo notável de como o esforço conjunto de diferentes setores pode levar a resultados positivos tanto para a economia quanto para o meio ambiente. Ao apoiar a atividade dos catadores e promover a logística reversa, o Brasil mostra que é possível alcançar altas taxas de reciclagem e, ao mesmo tempo, gerar renda e oportunidades para a população.
O compromisso com a sustentabilidade deve ser uma prioridade em todos os níveis da sociedade, e a educação desempenha um papel crucial na formação de uma consciência ambiental mais forte. Somente com a colaboração de todos será possível construir um futuro mais sustentável e igualitário, onde a reciclagem não seja apenas uma alternativa, mas uma prática cotidiana.