Caso Ambipar/Braskem levanta preocupações sobre os riscos dos produtos estruturados.

Perdas no Mercado Financeiro

O mercado financeiro foi surpreendido após investidores registrarem perdas significativas relacionadas aos Certificados de Operações Estruturadas (COEs) lastreados em ativos das empresas Ambipar e Braskem. A XP Investimentos informou aos seus clientes sobre prejuízos que chegaram a 93% do valor originalmente aplicado, devido ao vencimento antecipado desses papéis. Situações semelhantes foram observadas no BTG Pactual, aumentando as preocupações acerca do nível de risco associado a esses produtos e a compreensão dos investidores sobre suas aquisições.

Complexidade dos COEs

Em uma entrevista ao programa Fast Money, do Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, o economista Charles Wicks, criador do canal Economista Sincero, afirmou que a complexidade dos COEs é parte do problema. “O COE é um certificado que combina uma operação, podendo estar ligado a índices, grupos de ações ou créditos. Sua estrutura pode ter duração de dois a seis anos e um objetivo específico. Contudo, o investidor frequentemente não compreende por completo o que está dentro desse produto", explicou Wicks.

Entenda o Que São os COEs

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são instrumentos financeiros que misturam renda fixa e variável, prometendo retornos vinculados ao desempenho de ativos ou índices. Embora alguns deles ofereçam proteção de capital, nem todos garantem essa cobertura — um detalhe que pode ser crucial na decisão de investimento.

No caso específico dos COEs atrelados à Ambipar e à Braskem, não havia garantias de proteção e tampouco a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Wicks observou que o cenário de juros altos torna a busca por aplicações complexas e arriscadas ainda menos atrativa.

“Com o Tesouro Nacional oferecendo IPCA mais 8%, não faz sentido procurar operações complicadas para obter um pequeno retorno adicional. O investidor deve se perguntar: vale o risco?”, ressaltou o economista.

Ele acrescentou que muitos investidores foram atraídos pela promessa de ganhos diferenciados, sem compreender que estavam expostos a créditos corporativos de alto risco.

Comunicação e Clareza para o Investidor

A discussão em torno das perdas financeiras levantou questões sobre a comunicação das corretoras a respeito dos riscos associados a esses produtos. Wicks defende que é necessário haver mais transparência na informação oferecida aos investidores, enfatizando que eles também devem assumir parte da responsabilidade:

“O brasileiro frequentemente aceita os termos sem realizá-los. É fundamental entender os riscos antes de clicar em ‘ok’. Se não compreendeu, não deve investir,” afirmou Wicks.

Além disso, ele sugeriu que as plataformas de investimento implementem avisos mais claros, com mensagens destacadas. “Uma pop-up em letras grandes, informando ‘você pode perder tudo’, poderia levar muitos a reavaliar a decisão de investimento,” afirmou.

Wicks ainda destacou que, mesmo entre investidores qualificados, é provável que poucos consigam explicar tecnicamente a estrutura de um COE atrelado a créditos.

Origem das Perdas

As perdas recentes no mercado têm origem na desvalorização das ações e da dívida da Ambipar, que caíram 93% em um período de um ano. O agravamento da situação financeira desta empresa levou à renegociação de suas dívidas e mudanças na diretoria, afetando diretamente os títulos vinculados a ela. Como os COEs continham esses créditos embutidos, houve vencimento antecipado, resultando em valores de resgate inferiores a 7% do total investido.

“Tudo começou com o problema da empresa. O investidor, na prática, adquiriu crédito corporativo e talvez nem estivesse ciente disso,” explicou Wicks.

Ele ressaltou que, em cenários de instabilidade, ativos de crédito são especialmente vulneráveis e que o risco associado não é compensado quando há alternativas seguras e rentáveis disponíveis no Tesouro Nacional.

Recomendações para o Investidor

Para Wicks, a principal lição a ser extraída dessa situação é bastante clara: “não invista em produtos que não compreende.” Ele ressaltou a importância de que o investidor entenda o produto, saiba quais riscos está assumindo e verifique se há proteção de capital. Caso não compreenda, a recomendação é que não realize o investimento.

Além disso, ele criticou a falta de preparo de uma parte dos profissionais que comercializam esses produtos, sugerindo que o mercado deve capacitar seus assessores para oferecer uma explicação mais clara:

“O cliente deve ser questionado: você está disposto a correr esse nível de risco? Você tem ciência de que pode perder tudo?”, enfatizou.

A Necessidade de Cautela no Mercado

Embora existam COEs que podem apresentar desempenho satisfatório, Wicks enfatiza que essa é uma operação complexa que não é adequada para todos os perfis de investidores. Ele ainda recomenda cautela com debêntures, FIDCs e outros títulos de crédito privado que, na sua maioria, não possuem a proteção do FGC.

“O investidor frequentemente leva dias para decidir sobre uma geladeira, mas decide investir uma quantia significativa em minutos, sem ler os detalhes do produto. Esse comportamento precisa mudar,” afirmou.

Wicks finalizou destacando que o mercado brasileiro ainda é jovem, com apenas entre 3% e 5% da população ativa no investimento. O crescimento sustentável do mercado depende de transparência, educação financeira e prudência. “Antes de clicar em ‘aceito’ ou ‘invista’, leia. Se existir qualquer dúvida, não faça o investimento. Oportunidades únicas surgem todos os dias”, concluiu Wicks.

Fonte: timesbrasil.com.br

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