Incursões Aéreas da Rússia em Polônia
As supostas ataques aéreos com drones realizados pela Rússia na Polônia são amplamente considerados como parte de uma estratégia denominada “fatiamento de salame”, que tem como objetivo testar a determinação do Ocidente.
Fatiamento de salame, em termos geopolíticos, refere-se ao processo de adotar uma série de passos incrementais para avançar na posição estratégica de um país, sem provocar uma resposta significativa de contra-ataque.
Segundo analistas, o presidente russo Vladimir Putin tem frequentemente utilizado essa tática para sondar a aliança defensiva da OTAN. Citam como exemplos a recente violação do espaço aéreo da Estônia, a expansão silenciosa da fronteira russa em direção à Geórgia e a invasão da Crimeia em 2014.
A violação sem precedentes do espaço aéreo polonês por Moscou é vista como mais um exemplo dessa estratégia de fatiamento de salame, indicando uma nova provocação na região.
Na madrugada de quarta-feira, a Polônia anunciou que acionou suas próprias aeronaves, além das da OTAN, para interceptar alguns dos dezenove drones russos que adentraram seu espaço aéreo. Este evento marcou a primeira incursão desse tipo desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Aliados ocidentais rapidamente condenaram o que descreveram como uma provocação deliberada, enquanto o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que não planejava atacar quaisquer alvos na Polônia.
O Kremlin, por sua vez, declarou que não comentaria mais sobre a situação, desconsiderando as declarações da Polônia e de outros países europeus sobre a incursão de drones em um aliado da OTAN como “nada de novo”.
A Embaixada da Rússia em Londres e o Ministério das Relações Exteriores da Rússia não responderam imediatamente ao pedido de comentário da CNBC.
Reações ao Incidente
Benjamin Godwin, sócio da consultoria de riscos PRISM Strategic Intelligence, afirmou que está bastante claro que a estratégia de manobras militares da Rússia visa pressionar e testar o Ocidente.
De acordo com Godwin, um dos problemas enfrentados pela OTAN é que, há muito tempo, é evidente que a aliança defensiva não deseja se envolver em um conflito direto com a Rússia. Essa hesitação tem gerado um efeito assimétrico em favor da Rússia.
“Temos visto incursões, por exemplo, no espaço aéreo estoniano, essa incisão na Polônia e temos observado guerras eletrônicas em toda a Europa”, comentou Godwin durante a edição matinal da CNBC na sexta-feira.
“Assim, a Rússia é capaz de escalar essas ações de forma fatiada e a OTAN tem se mostrado incapaz, até o momento, de responder de maneira eficaz e impedir tais esforços.”
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, anunciou na quarta-feira que uma avaliação completa da incursão de drones da Rússia na Polônia está em andamento, acrescentando que ficou “realmente impressionado” com a forma como os aliados reagiram.
Táticas de Testes
Após a incursão de drones da Rússia na Polônia, os aliados da OTAN implementaram medidas para reforçar defensas na ala leste da Europa, promovendo a possibilidade de novas sanções econômicas e convocando uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para sexta-feira.
No entanto, analistas sugerem que apenas uma resposta política e militar robusta será suficiente para dissuadir Putin.
Godwin, por exemplo, pediu que a OTAN repense sua postura defensiva e os tipos de ativos que serão implantados na ala leste da Europa.
Oksana Nechyporenko, pesquisadora sênior não residente do Centro da Eurásia do Atlantic Council, alertou que quanto mais suave for a reação do Ocidente à violação do espaço aéreo polonês pela Rússia, mais severo será o próximo golpe.
“Os ucranianos têm dito há anos que Putin não está apenas travando uma guerra contra a Ucrânia, mas contra o Ocidente – a Europa em particular”, afirmou Nechyporenko.
“Ele está simplesmente testando táticas, sempre utilizando a estratégia do ‘fatiamento de salame’: tenta algo chocante, aguarda a reação do mundo e, se não houver resposta, avança ainda mais”, acrescentou.
Reações dos Líderes
Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu uma resposta ambígua à incursão de drones da Rússia na Polônia nesta semana.
“Qual é a desse negócio da Rússia violando o espaço aéreo da Polônia com drones? Aqui vamos nós!” publicou Trump em uma rede social, sem fornecer mais detalhes.
O presidente dos EUA seguiu seus comentários na plataforma Truth Social, dizendo a repórteres na Casa Branca que a Rússia pode ter cometido um erro.
“Pode ter sido um erro, mas de qualquer forma, não estou feliz com nada que tenha a ver com toda essa situação”, afirmou Trump na quinta-feira.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, pareceu não concordar com as últimas declarações de Trump. Em uma postagem nas redes sociais, Tusk afirmou na sexta-feira: “Nós também gostaríamos que o ataque de drones à Polônia tivesse sido um erro. Mas não foi. E nós sabemos disso.”
Trump anteriormente solicitou à União Europeia que aplicasse tarifas de até 100% sobre as compras de petróleo russo feitas pela China e Índia, buscando cortar uma importante fonte de receita que financia a máquina de guerra de Putin.