Cenário Atual do Agronegócio Brasileiro
O Banco do Brasil (BBAS3), o Santander Brasil (SANB11), o Itaú BBA e o BTG Pactual (BPAC11) apresentam perspectivas distintas, mas convergentes em aspectos fundamentais relacionados ao agronegócio brasileiro. Apesar de suas análises individuais, esses bancos reconhecem a importância do setor em discussões relevantes.
Ajustes e Perspectivas para 2025
O Banco do Brasil indica que 2025 será um ano de ajuste para o agronegócio. Já o Santander aponta que a crise atual é “diferente de todas as outras”. O Itaú BBA prevê uma equação caracterizada por margens mais baixas, enquanto o BTG Pactual destaca as oportunidades que surgem “da porteira para fora”.
Pontos de Concordância
De maneira geral, as instituições financeiras concordam em alguns pontos-chave em relação ao agronegócio:
- Encerramento do ciclo de margens excepcionais que perdurou entre 2020 e 2022;
 - Alta alavancagem de uma parte considerável dos produtores rurais;
 - Necessidade de uma seleção mais rigorosa na concessão de crédito, influenciada pela Resolução 4966 do Banco Central e pelo aumento da inadimplência no setor;
 - Desconfiança em relação ao elevado número de recuperações judiciais na área;
 - Existência de oportunidades estruturais robustas, especialmente em logística, biocombustíveis e no mercado de capitais.
 
Aumento da Inadimplência e Seu Impacto
O momento de ajuste do Banco do Brasil está relacionado ao rebalanceamento da capacidade dos produtores após dois anos marcados por margens reduzidas e quebras climáticas em várias regiões do país. O banco observou um incremento na inadimplência em 2025, o que gerou preocupações entre os investidores.
O Santander também enfatiza que o término dos “dias de ouro” do agronegócio resultou em uma crise inédita para o setor. Os índices de endividamento estão altos, com produtores enfrentando a necessidade de quitar dívidas contraídas entre 2020 e 2022, período em que as margens e as taxas de juros eram mais favoráveis. Dessa maneira, o Santander decidiu ser mais seletivo, e a carteira voltada para o agronegócio, que não apresentou crescimento em 2024, não deve ter avanços significativos em 2025.
No terceiro trimestre de 2025, o Santander registrou um lucro líquido de R$ 4 bilhões, o que representa um aumento de 9,4%. Durante esse período, observou-se uma redução de 0,2 pontos percentuais na inadimplência, resultante da melhoria na qualidade das novas safras, embora a taxa acima de 90 dias continue a pressionar o cenário.
Desafios para Produtores Rurais
De acordo com Carlos Aguiar, diretor de agronegócio do Santander, além dos pequenos produtores rurais, os arrendatários estão entre os mais afetados pela turbulência atual. Esses produtores, que alugam terras para realizar suas atividades, muitas vezes comprometeram-se a pagar valores de arrendamento que não são sustentáveis no contexto econômico atual. Nesse cenário, alguns buscam vender propriedades, o que, por sua vez, exerce pressão sobre os preços de mercado.
Pedro Fernandes, diretor do agronegócio do Itaú BBA, compartilha da mesma opinião, afirmando que a equação não fecha para aqueles que exploram grandes extensões de terras arrendadas e possuem pouco capital próprio. Para ele, “a margem não é suficiente para cobrir o arrendamento, os juros de custeio e as parcelas de investimentos anteriores”. Ele destaca ainda um aumento significativo nos preços de arrendamento em regiões com produtividade ainda baixa.
Apesar de reconhecer o período desafiador que os produtores mais alavancados enfrentarão nos próximos dois anos, o BTG Pactual mantém uma visão otimista sobre os fundamentos do agronegócio brasileiro. Rogério Stallone, sócio responsável pela área de crédito corporativo do banco, ressalta a importância do crescimento do setor por meio de melhorias em infraestrutura e logística.
Recuperações Judiciais no Setor
Os bancos como BTG, Banco do Brasil e Santander compartilham da mesma preocupação em relação ao uso inadequado das recuperações judiciais. Para Stallone, do BTG, a questão não reside na ferramenta em si, mas sim em seu uso indevido. Ele menciona o impacto da recuperação judicial da Americanas no varejo como um exemplo de como essa situação pode reverberar em diversos setores.
Aguiar, do Santander, aponta que há uma “indústria de recuperações judiciais” surgindo, um fenômeno que antes não era comum no agronegócio. Ele menciona casos de produtores com dívidas significativas que, em busca de uma solução, recorrem à recuperação judicial sem uma compreensão clara do processo.
Alberto Martinhago Vieira, diretor de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil, também levanta a questão do uso impróprio da recuperação judicial, apontando que essa prática prejudica a confiança nas concessões de crédito. Recentemente, o vice-presidente de controles internos e gestão de risco do Banco do Brasil, Felipe Prince, indicou a possibilidade de suspender novos empréstimos a produtores que solicitem recuperação judicial.
A Nova Resolução 4966
Em meio a esse contexto, a Resolução 4966 do Banco Central, que entrou em vigor em janeiro, trouxe mudanças significativas nas normas contábeis e de provisão de crédito dos bancos. Essa nova legislação alinha o modelo brasileiro a padrões internacionais, que são mais rigorosos e punitivos.
Na prática, as regras agora exigem que os bancos provisionem as perdas esperadas, em vez de apenas as perdas que já ocorreram. Essa mudança rigorosa busca uma gestão de riscos mais disciplinada, exigindo uma maior responsabilidade financeira dos produtores e maior cautela por parte das instituições financeiras na concessão de crédito.
Fonte: www.moneytimes.com.br