Mudanças na Composição da Carteira Tradicional
A configuração tradicional da carteira 60/40 tem enfrentado desafios nos últimos anos, e o recente aumento nas negociações de metais preciosos e criptomoedas está contribuindo para uma redução na sua relevância. Um número crescente de estrategistas e investidores está adotando uma nova estrutura de carteira, chamada 60/20/20: mantendo 60% em ações, mas com a parte destinada a renda fixa reduzida para 20%, e o restante para alternativas como ouro e bitcoin.
O Papel dos Ações e Títulos
Os especialistas afirmam que ações e títulos estão frequentemente se movendo na mesma direção, o que compromete a proteção que os títulos costumavam oferecer. O cenário atual, marcado por inflação, riscos geopolíticos, gastos públicos e alta carga de dívida, faz com que os títulos não desempenhem mais o mesmo papel protetor que anteriormente. "Estamos vendo uma maior adoção de produtos que não são de renda variável ou fixa", afirmou Todd Rosenbluth, chefe de pesquisa da VettaFi, durante entrevista ao CNBC.
O Ouro como Alocação Principal
Neste novo contexto de exposição ao mercado, o ouro não é mais visto como um ativo marginal, mas sim como um dos elementos centrais da carteira. Recentemente, o preço do ouro ultrapassou a marca histórica de $4,300. Desde o início do ano, o ouro já teve um aumento superior a 60%, impulsionado pela demanda dos bancos centrais, processos de desdolarização e tensões geopolíticas, além do que tem sido chamado de "comércio da desvalorização".
Steve Schoffstall, diretor de gestão de produtos de ETFs da empresa Sprott, especializada em metais preciosos e materiais críticos, afirmou no programa "ETF Edge" da CNBC que “o que realmente está acontecendo agora é uma mudança na aceitação do ouro”. Tradicionalmente percebido como uma alocação "secundária", está se tornando mais proeminente entre economistas que sugerem a transição para uma carteira mais diversificada, como a 60/20/20.
Para a maioria das pessoas, segundo Schoffstall, uma alocação de 5% a 15% em ouro físico é considerada adequada.
Desempenho dos ETFs de Ouro
Os ETFs de ouro têm demonstrado um desempenho notável e atraído o interesse dos investidores, com destaque para o SPDR Gold Shares (GLD) e o iShares Gold Trust (IAU), que registraram alta de cerca de 11% neste mês. No entanto, a injeção de ativos em fundos de ouro começou muito antes, com setembro mostrando os maiores influxos mensais já registrados, contabilizando quase $11 bilhões. O SPDR Gold Shares recebeu mais de $4 bilhões somente no último mês, e até meados de outubro, acumulou mais $1.3 bilhões de investidores, de acordo com a ETFAction.com. A Sprott informou que o total de ativos movimentados por investidores em fundos de ouro este ano já superou $38 bilhões.
A Nova Alocação em Criptomoedas
Alguns investidores estão aplicando recursos em criptomoedas, especialmente bitcoin, seguindo uma estratégia semelhante de 20% na carteira. Alguns consultores financeiros já sugerem alocações que podem chegar a 40% em criptomoedas como uma abordagem defensável de investimento.
O bitcoin atingiu um recorde histórico de $126,000 em 6 de outubro e experimentou uma entrada maciça de novos recursos neste mês, com o ETF iShares Bitcoin Trust (IBIT) captando quase $1 bilhão em um único dia e mais de $4 bilhões até a metade de outubro.
Segundo Rosenbluth, a categoria de alternativas na carteira não deve ser vista como uma única aposta, mas como uma mistura de commodities, criptomoedas e crédito privado, todas abrangidas por ETFs. Entretanto, é importante que os investidores compreendam que os riscos associados a esses ativos variam significativamente. "Ouro é considerado um ativo de baixo risco, enquanto as criptomoedas se configuram mais como apostas de alto risco", afirmou Rosenbluth.
O Interesse Crescente em Prata
A prata também tem atraído mais atenção entre os investidores, e ao contrário do ouro, é favorecida por múltiplas tendências econômicas globais, incluindo demanda industrial, eletrificação e automação. Recentemente, o preço da prata alcançou um pico de $53.59 por onça, e alguns analistas prevêem que essa tendência de alta pode continuar. "A prata possui um amplo espectro de aplicações, cerca de 10,000 diferentes usos", destacou Schoffstall.
Considerações sobre o Mercado
Rosenbluth adverte que o atual aumento nos preços de metais preciosos e criptomoedas não deve incitar os investidores a buscar retornos mais altos no curto prazo. Embora este período tenha elevado o retorno geral das carteiras, não há garantias de que essa tendência perdurará. O principal motivo para reestruturar uma carteira com opções de proteção, segundo Rosenbluth, é adicionar ferramentas que operem de forma diferente durante períodos de oscilações nos mercados de ações e títulos, ajudando assim a suavizar os retornos ao longo do tempo.
Um exemplo recente dessa dinâmica de mercado entre os ativos que são considerados proteções populares se tornou evidente esta semana. Após atingir um recorde acima de $126,000 no início do mês, o bitcoin sofreu uma venda abrupta, resultando em uma perda semanal de mais de 8%, enquanto o ouro e a prata continuaram em trajetória de alta e mostraram-se propensos a manter ganhos semanais. O crédito privado, por sua vez, que cresceu significativamente nos últimos anos e gerou temores de bolhas, se tornou um foco importante do mercado na última semana, especialmente após a falência inesperada da empresa de autopeças First Brands.
Fonte: www.cnbc.com