CRIs, CRAs e debêntures perderão isenção de IR no Brasil? A busca por investimentos isentos aumenta, mas é fundamental ficar atento aos riscos.

O mercado de renda fixa no Brasil pode passar por uma transformação significativa no próximo mês. O Congresso Nacional possui um prazo até o dia 8 de outubro para aprovar a Medida Provisória 1.303/25, que altera a tributação de investimentos atualmente isentos de imposto de renda. A incerteza acerca da aprovação da proposta gerou uma corrida por títulos isentos, tanto por investidores quanto por empresas emissoras.

A expressão “isenção de IR” pode chamar a atenção, mas é necessário ter cuidado e realizar uma análise detalhada antes de optar por um título de renda fixa. A seguir, explicamos:

O que pode mudar na tributação

A Medida Provisória 1.303/25 propõe, entre outras alterações, que as debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) passem a ter seus rendimentos tributados em 5%. Atualmente, esses títulos são isentos de imposto de renda.

É importante destacar que a MP também modifica a tributação de outros títulos de renda fixa, que ficariam sujeitos a uma alíquota única de 17,5%. Neste momento, a tributação para esses títulos varia de 22,5% a 15%, dependendo do prazo de investimento.

Portanto, mesmo com a alteração, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas continuariama ser mais vantajosos em termos tributários em relação a outros títulos de renda fixa, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Tesouro Direto.

Se a proposta for aprovada em sua forma original, as novas regras de tributação só entrarão em vigor para os títulos que forem emitidos a partir de 31 de dezembro de 2025.

Os seguintes são os detalhes das mudanças propostas pela Medida Provisória:

Categoria Regra atual Regra da MP
FIIs e Fiagros – dividendo (IR) isento IR de 5% a partir de 2026
FIIs e Fiagros – ganho de capital (IR) IR de 20% IR de 17,5% a partir de 2026
JCP (IR) IR de 15% IR de 20% retido na fonte a partir de 2026
LCI/LCA (IR) isento IR de 5% a partir de 2026
CRI/CRA (IR) isento IR de 5% a partir de 2026
Debêntures incentivadas isento IR de 5% a partir de 2026
Ações (IR) IR de 15% IR de 17,50%
Renda Fixa – CDB, Tesouro Direto e Debêntures (IR) tabela regressiva de 22,5% a 15% IR de 17,5% a partir de 2026
Fundos de renda fixa e multimercados tabela regressiva de 22,5% a 15% + come-cotas IR de 17,50% + come-cotas a partir de 2026
Day Trade (IR) IR de 20% IR de 17,50%
Cripto (IR) IR de 22,5% a 15%, isenção sobre ganho de R$ 35 mil por mês IR de 17,5% sobre ganho de capital, sem isenção

Corrida por títulos isentos

A mera possibilidade de mudança na tributação já causou uma movimentação significativa no mercado. De acordo com dados da Anbima, as emissões de debêntures incentivadas somaram um total de R$ 14,3 bilhões em julho, representando o segundo maior volume mensal do ano. No acumulado do ano de 2025, as emissões isentas totalizaram R$ 88,8 bilhões, apresentando um aumento de 6,2% em comparação ao mesmo período de 2024.

O mesmo fenômeno pode ser observado no mercado de CRIs e CRAs. Segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária, o estoque de CRAs chegou a R$ 160,04 bilhões em julho, o que representa um aumento de 10% em relação a 2024 e um impressionante crescimento de 85% comparado a 2022. No que se refere ao mercado de CRIs, houve um crescimento de 7,6% entre dezembro de 2024 e junho de 2025, atingindo um montante de R$ 240 bilhões.

“O mercado de crédito privado no Brasil está em um momento de efervescência. A iminência do fim da isenção provocou uma corrida de investidores pessoa física em busca das últimas emissões que ainda oferecem esse benefício fiscal”, destaca Rafael Bellas, coordenador de Produtos da InvestSmart XP.

Paulo Morais, diretor de DCM da GCB Investimentos, ressalta que esse movimento não é inédito. “Uma primeira corrida já ocorreu no ano passado, em decorrência da taxação dos fundos exclusivos. Depois, em junho, surgiu a MP que propõe a taxação dos títulos atualmente totalmente isentos. Mesmo com a proposta em tramitação, o simples anúncio desencadeou uma nova corrida”, explica.

As empresas também demonstram urgência. Aproveitando a janela de isenção, muitos emissores apressam-se para lançar seus papéis no mercado antes que as mudanças entrem em vigor.

Riscos para o investidor

Para muitos gestores, a dinâmica atual do mercado de renda fixa instiga à cautela. A alta taxa de juros no Brasil, com a Selic atualmente em 15% ao ano, vem direcionando um fluxo significativo de investimentos para os papéis de crédito.

Essa situação provoca uma demanda elevada por esses papéis, mas a oferta nem sempre é capaz de acompanhar esse crescimento. A corrida antes do fim da isenção apenas intensifica esse fluxo de investimentos.

O resultado dessa movimentação em direção à renda fixa e aos títulos incentivados é visível nas taxas que estão sendo oferecidas pelos papéis recém-emissionados e nos spreads de crédito.

O termo “spread” refere-se à diferença entre o rendimento de um título privado e o rendimento de um título público, como os papéis emitidos pelo Tesouro Nacional. Quando o spread é menor, o retorno para o investidor ao assumir o risco de crédito se torna menos atrativo, uma vez que os títulos públicos são considerados mais seguros e, portanto, os privados precisam oferecer retornos mais elevados para justificação do risco assumido.

Segundo uma carta mensal da Sparta, o spread mediano das debêntures incentivadas está no seu menor nível histórico.

Adicionalmente, a taxa Selic elevada impõe pressões sobre as empresas, levando-as a arcar com custos de capital maiores, o que pode resultar em um risco elevado para o investidor.

“Acreditamos que alguns títulos atualmente sendo emitidos, apesar da isenção de impostos, apresentam um spread excessivamente comprimido em relação ao risco que envolvem”, afirma Paulo Morais. “Na nossa visão, não faz sentido alocar recursos nesses papéis, pois, mesmo com a isenção, um spread muito apertado indica que o retorno é similar ao de títulos públicos, que apresentam menor risco”, complementa.

Cuidados a tomar antes de investir em títulos isentos

Risco de crédito e relação risco/retorno

Apesar da isenção de imposto de renda, nem todos os títulos de crédito privado oferecem compensação adequada ao risco. Quando há alta demanda, alguns papéis podem entrar no mercado com retornos muito próximos aos títulos públicos, mas com riscos significativamente mais altos. Isso implica que o investidor pode estar aceitando risco de crédito sem receber a contrapartida justa. Avaliar os emissores, as garantias e a estrutura das operações é crucial para determinar se o risco vale a pena. Comparar o rendimento dos títulos isentos com o rendimento líquido dos títulos não isentos também é fundamental.

Alinhe os prazos a seus objetivos

Outro fator a ser considerado é a questão dos prazos de vencimento dos títulos. Os CRIs, CRAs e debêntures incentivadas podem não apresentar liquidez diária, o que significa que o investidor pode encontrar dificuldades para vender esses papéis no mercado secundário. Aqueles que necessitarem de recursos antes do vencimento podem ter que aceitar preços mais baixos ou, em alguns casos, encontrar dificuldade em localizar compradores. Por isso, é essencial alinhar o investimento ao seu horizonte temporal, evitando o risco de precisar se desfazer do título em um momento inoportuno.

Atenção à volatilidade

Embora sejam classificadas como “renda fixa”, esses ativos também estão sujeitos a oscilações de preço. A marcação a mercado provoca variações nos valores de acordo com a taxa de juros e as condições do mercado. Assim, se o investidor decidir vender antes do vencimento, pode enfrentar perdas. “O mercado de renda fixa é volátil e em grande parte influenciado pela taxa de juros do país e pelos títulos do governo”, ressalta Morais. Compreender essa dinâmica é importante para evitar surpresas e para tomar decisões informadas.

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