Um panorama preocupante das finanças das famílias brasileiras foi revelado nesta terça-feira, 4 de novembro. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostrou que a porcentagem de famílias com dívidas alcançou um recorde histórico de 79,5% em outubro. Este ocasiona o nono mês consecutivo de aumento e representa o maior índice desde o início da série histórica.
Detalhes do Endividamento
A situação se agrava ao observar detalhadamente as informações. Entre os endividados, 30,5% estão com contas em atraso. A gravidade da situação é evidenciada pelo fato de que 13,2% dos entrevistados admitiram não ter condições de saldar suas dívidas, um número também inédito. O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, emitiu um alerta preocupante: “O aumento do endividamento, da inadimplência e da percepção de insuficiência financeira, de forma simultânea e pelo terceiro mês consecutivo, é um sinal de alerta para a necessidade de ajustes, principalmente no setor fiscal, para que os resultados de 2025 não se repitam ou se intensifiquem em 2026”.
Impacto do Tempo na Inadimplência
O problema se estende ao longo do tempo. Quase metade (49%) das famílias inadimplentes possui dívidas com mais de 90 dias de atraso. Além disso, 32% delas está comprometida com pagamentos de parcelas que se estendem por mais de um ano, apresentando uma média de tempo de 7,2 meses. Embora prazos mais longos possam auxiliar na organização do orçamento mensal, também implicam um custo final superior devido aos juros acumulados. Fabio Bentes, economista-chefe da CNC, complementa a análise do cenário: “Nem mesmo o bom desempenho do mercado de trabalho tem sido suficiente para conter o crescimento da inadimplência, considerando o elevado patamar atual dos juros. Neste contexto, o comércio já percebe uma desaceleração nas vendas, uma vez que as famílias precisam ajustar seus orçamentos para se adequar à nova realidade.”
Perfil do Endividamento por Renda
A análise da situação conforme a faixa de renda indica que o aumento do endividamento foi mais acentuado entre famílias que possuem uma renda entre 5 e 10 salários mínimos. Por outro lado, a inadimplência apresentou um crescimento significativo entre aqueles que recebem de 3 a 5 salários. No que diz respeito à total impossibilidade de pagamento, as famílias com renda na faixa de 5 a 10 salários foram mais afetadas.
Possíveis Consequências no Mercado Financeiro
O cenário apresentado acende um sinal de alerta para a economia como um todo e, por conseguinte, para os mercados financeiros. Um consumidor endividado e com altos índices de inadimplência tende a reduzir seus gastos de forma drástica. Tal situação pode impactar negativamente os resultados de empresas do varejo, do setor financeiro – que precisará reservar uma maior provisão para perdas com créditos – e do consumo cíclico. Na bolsa de valores, ações de varejistas, como as da MGLU3 (Casas Bahia), e de bancos, como ITUB4 e BBDC4, podem enfrentar pressão negativa. Além disso, o cenário contribui para uma atmosfera de aversão ao risco, que pode influenciar os contratos futuros de juros e a paridade entre o Dólar Americano e o Real Brasileiro, a qual pode buscar níveis elevadores devido à incerteza fiscal e ao crescimento econômico.
Contexto Atual da Economia Brasileira
Esta revelação chega em um momento crucial, em que o mercado busca sinais claros sobre a direção da economia brasileira. O índice histórico de endividamento das famílias é um forte indicador de que o consumo – um dos principais pilares do nosso Produto Interno Bruto (PIB) – pode enfrentar sérios desafios nos próximos trimestres. Tal realidade impõe uma pressão adicional sobre as autoridades para que implementem políticas fiscais responsáveis, além de promover um ambiente onde os juros possam, no futuro, proporcionar algum alívio para o orçamento das famílias junto à tão necessária retomada sustentável do crescimento econômico.
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Fonte: br.-.com