Oportunidades para Data Centers na América do Sul
A América do Sul, especialmente o Brasil e o Chile, apresenta características que podem torná-la um novo polo mundial para data centers. No entanto, esses países devem lidar com ineficiências e avançar na criação de marcos regulatórios apropriados. Essa análise é parte de um estudo realizado pelo BTG Pactual, que investiga as oportunidades surgidas com o aumento da demanda por inteligência artificial.
Empresas Brasileiras em Destaque
O relatório do BTG Pactual identifica um conjunto de empresas brasileiras que podem se beneficiar diretamente desse movimento. Entre as mencionadas estão a Eletrobras, Auren, Copel, Engie, Cemig, Equatorial, CPFL e Neoenergia. A presença dessas empresas demonstra a relevância do setor energético no suporte à expansão dos data centers.
Potencial Hidráulico e Energético
O estudo ressalta que Brasil e Chile possuem abundante disponibilidade de água, essencial para sistemas de resfriamento, além de uma ampla capacidade de geração de energia elétrica. Esses fatores são fundamentais para sustentar um eventual crescimento associado à inteligência artificial.
No entanto, é importante notar que uma parte significativa da energia gerada tem sido desperdiçada, especialmente no Nordeste brasileiro, onde mais de 20% da geração elétrica é desligada devido ao excesso de oferta ou à falta de sistemas de transmissão que permitam o escoamento dessa energia.
Recomendações do Estudo
O estudo sugere que, além de resolver o problema do "curtailment", que se refere às restrições no setor elétrico, é necessário implementar isenções tributárias para a importação de equipamentos de data centers em todo o território nacional. Isso poderia facilitar o investimento no setor.
Outro ponto importante abordado é a regulação em torno do uso e da proteção de dados. O estudo enfatiza que data centers de treinamento de inteligência artificial podem ser instalados em diversas partes do mundo, e que, se o processo de utilização de dados para treinar modelos for complicado ou oneroso, o país pode enfrentar dificuldades na atração desses investimentos.
Críticas à Regulação Atual
Na análise regulatória, o relatório do BTG Pactual critica a Medida Provisória 1.307, que estabelece critérios para empresas de data centers beneficiadas por incentivos fiscais em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs). Segundo a análise, essa MP não é adequada por favorecer geografias específicas.
Adicionalmente, o BTG Pactual destaca que a exigência de que os data centers adquiram energia de nova capacidade, em um cenário em que o país já apresenta energia barata, principalmente no Nordeste, não parece ser uma abordagem eficaz.
Elementos Essenciais para um Data Center Eficiente
O BTG Pactual menciona que um data center eficiente requer uma série de elementos essenciais, entre eles:
- Energia de baixo custo, estável e disponível
- Conexão de rede confiável
- Acesso a sistemas de refrigeração e água
- Estabilidade geográfica com baixo risco de desastres naturais
- Infraestrutura e logística sólida
- Terrenos adequados e acessíveis
- Força de trabalho qualificada
- Segurança física e cibernética
- Ambiente regulatório favorável
Cenário Global de Data Centers
A demanda por data centers está em ascensão, e uma comparação significativa é a previsão para os Estados Unidos. Nesse país, a demanda deve saltar de 31 GW (gigawatts) de eletricidade em 2024 para 83 GW em 2030. No mesmo período, o consumo de energia pelos data centers deve aumentar de 4% para 11,7% da produção total de energia.
Essa tendência de crescimento nos Estados Unidos leva à reflexão sobre a necessidade de considerar outras localizações para a instalação de data centers.
Impacto da Inteligência Artificial e Desafios de Conexão
A inteligência artificial apresenta um alto consumo de energia. Um exemplo é que um vídeo de apenas seis segundos gerado por inteligência artificial consome energia suficiente para carregar oito celulares ou dois laptops. Isso implica que os prazos de espera para conectar novos data centers à rede estão aumentando em várias regiões.
Nos Estados Unidos, dados da Agência Internacional de Energia apontam que as filas para conexão podem durar até sete anos no norte da Virgínia e três anos na Califórnia, enquanto os preços da eletricidade estão aumentando consideravelmente.
Na Irlanda, onde os data centers representam 20% da demanda de energia, não será permitido qualquer novo ponto de conexão até 2030, refletindo uma preocupação global com a capacidade de atender à demanda crescente por energia.
Considerações Finais
Essas dinâmicas destacam a importância de políticas ajustadas e de um ambiente regulatório que favoreça a instalação e operação de data centers, especialmente em locais como Brasil e Chile, que possuem um grande potencial inexplorado.