Condições da Economia Sul-Coreana
A economia da Coreia do Sul enfrenta o risco de colapso em um cenário que poderia ser comparado à crise financeira de 1997, caso o governo sul-coreano aceite as condições atuais impostas pelos Estados Unidos nas negociações comerciais que estão paralisadas, sem a implementação de salvaguardas adequadas. A afirmação foi feita pelo presidente Lee Jae Myung em uma entrevista à Reuters.
Acordo Verbal com os EUA
Os dois países chegaram a um acordo verbal em julho, no qual os Estados Unidos concordaram em reduzir as tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos sul-coreanos. Em contrapartida, a Coreia do Sul se comprometeria a investir US$ 350 bilhões, entre outras medidas. Contudo, esse acordo ainda não foi formalizado em um documento escrito devido a disputas relacionadas à condução desses investimentos, conforme explicou Lee.
Possibilidade de Crise Financeira
Lee expressou preocupação ao afirmar que, se a Coreia do Sul fosse obrigada a retirar US$ 350 bilhões da maneira exigida pelos Estados Unidos e investir esse montante integralmente em solo norte-americano, isso poderia levar a uma recuperação econômica que seria reminiscentemente desastrosa, similar à crise financeira de 1997.
Relações e Visita a Nova York
Em uma entrevista, Lee também abordou uma importante operação migratória realizada pelos Estados Unidos, que resultou na detenção de centenas de cidadãos sul-coreanos, e discutiu as relações da Coreia do Sul com a Coreia do Norte, da China e da Rússia. As negociações comerciais e de defesa com os Estados Unidos, que são o maior aliado militar e um importante parceiro econômico da Coreia do Sul, têm destacado a visita que Lee fará a Nova York a partir da segunda-feira (22). Nessa viagem, ele discursará na Assembleia Geral das Nações Unidas e será o primeiro presidente sul-coreano a presidir uma reunião do Conselho de Segurança.
Contexto Político
Lee, que possui uma orientação política liberal, assumiu a presidência em uma eleição extraordinária realizada em junho, após a destituição e prisão de seu antecessor conservador, Yoon Suk Yeol, que havia imposto brevemente a lei marcial. Desde então, Lee tem se esforçado para estabilizar a situação política e econômica do país e afirmou que pretende utilizar sua visita aos Estados Unidos como uma oportunidade para comunicar ao mundo que “a Coreia democrática está de volta”.
Prisão de Trabalhadores Sul-Coreanos
Lee se reuniu com Trump em sua primeira cúpula em agosto e afirmou ter estabelecido um forte laço pessoal com o presidente dos Estados Unidos, mesmo que não tenham logrado ainda alcançar uma declaração conjunta ou anúncios concretos. Neste mês, o governo Trump trouxe à tona a questão da prisão de mais de 300 trabalhadores sul-coreanos em uma fábrica de baterias da Hyundai Motor, localizada na Geórgia. Os trabalhadores foram acusados por autoridades federais de violações imigratórias.
Reações ao Incidente
Lee mencionou que a reação dos cidadãos sul-coreanos foi de indignação em relação ao tratamento “severo” que os trabalhadores receberam, incluindo imagens deles algemados que foram divulgadas publicamente. Ele alertou que o incidente poderia desincentivar investimentos de empresas no território norte-americano. Contudo, o presidente sul-coreano acrescentou que essa operação não prejudicaria a aliança bilateral entre os dois países, elogiando Trump por oferecer a permanência dos trabalhadores. Lee declarou não acreditar que Trump tenha diretamente ordenado a operação, mas sim que ela foi resultado de uma ação excessiva por parte das autoridades.
Negociações Futuras
Lee afirmou não acreditar que a operação estivesse com a intenção de prejudicar a relação bilateral. Ele também mencionou que os Estados Unidos pediram desculpas pelo incidente e que ambos os lados concordaram em buscar medidas razoáveis para resolver a situação, trabalhando juntos nessa direção. O gabinete de Lee, no entanto, informou que não há planos concretos para uma reunião com Trump durante a visita a Nova York e que as questões comerciais não estão na agenda do encontro.
Impasses nas Negociações Comerciais
O Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, comentou que a Coreia do Sul deveria seguir um modelo similar ao acordo que o Japão firmou com os Estados Unidos. Ele afirmou que Seul precisa decidir entre aceitar esse acordo ou arcar com as tarifas. Essa posição do governo Trump tende a retratar os governos estrangeiros como responsáveis pelo pagamento das tarifas, embora, na prática, os importadores norte-americanos sejam os que de fato suportam esses custos.
Reação de Lee às Pressões dos EUA
Questionado sobre a possibilidade de abandonar o acordo, Lee declarou: “Acredito que, entre aliados de sangue, conseguiremos manter o mínimo de racionalidade”. A Coreia do Sul propôs estabelecer uma linha de swap cambial com os Estados Unidos para diminuir o impacto dos investimentos de forma que não prejudique sua economia local e o valor da moeda, o won. No entanto, Lee não comentou sobre a probabilidade de aceitação dessa proposta por parte dos Estados Unidos, nem se essa medida seria suficiente para facilitar o acordo.
Divergências Comerciais e de Segurança
Lee ressaltou que a Coreia do Sul é diferente do Japão, que firmou um tratado comercial com os Estados Unidos no mês de julho. O Japão tem reservas cambiais que são mais do que o dobro das reservas da Coreia do Sul, que atualmente alcançam US$ 410 bilhões. Além disso, o Japão possui uma moeda que é reconhecida internacionalmente, o iene, e também mantém uma linha de swap com os Estados Unidos, destacou Lee.
Tanto Seul quanto Washington afirmaram que os projetos de investimento precisam ser viáveis do ponto de vista comercial, mas Lee enfatizou que os detalhes ainda não foram resolvidos. Ele declarou que a tarefa central e o maior obstáculo no momento é chegar a acordos detalhados que assegurem a viabilidade comercial. As propostas nas discussões técnicas até agora não garantem essa viabilidade, o que tem dificultado a superação das divergências.
Trump, por sua vez, sugeriu que os investimentos seriam “selecionados” por ele e controlados pelos Estados Unidos, o que indicaria que Washington teria a autoridade para decidir aonde o dinheiro seria aplicado. Contudo, o assessor de políticas de Lee, Kim Yong-beom, afirmou em julho que a Coreia do Sul incluiu um mecanismo de segurança para minimizar riscos financeiros, apoiando apenas projetos que fossem viáveis comercialmente e não oferecendo suporte financeiro de forma incondicional.
Aumento da Contribuição para Defesa
Lee também mencionou que a Coreia do Sul e os Estados Unidos não possuem discordâncias em relação ao aumento da contribuição sul-coreana para sua própria defesa, dado que atualmente existem 28.500 soldados norte-americanos posicionados na península coreana. No entanto, ele destacou que Washington deseja separar as conversas sobre segurança e comércio. Lee concluiu enfatizando que “devemos encerrar essa situação instável o quanto antes”, em resposta a uma pergunta sobre a possibilidade de as negociações se estenderem até o próximo ano.
Fonte: www.moneytimes.com.br