Jerome Powell e a política monetária
“O que você faz quando está dirigindo na neblina? Você diminui a velocidade.” Essa foi a resposta do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao ser questionado sobre o impacto do shutdown do governo norte-americano na política monetária.
Powell reforçou que não há garantia de uma redução nos juros durante a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês), que ocorrerá em dezembro. Ele declarou: “Ainda não tomamos uma decisão sobre dezembro […] Faltam seis semanas, então não sabemos exatamente o que vamos receber. Se houver um nível muito alto de incerteza, isso poderia ser um argumento a favor de cautela em relação a qualquer movimento. Mas teremos que ver como isso se desenrola.”
Sobre a atual escassez de dados econômicos oficiais vindos do governo dos Estados Unidos, Powell enfatizou que essa é uma situação temporária. O Federal Reserve se dedicará a coletar e avaliar cuidadosamente todos os fragmentos de dados disponíveis.
Nesta quarta-feira (29), o FOMC decidiu cortar a taxa de juros de referência dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, passando a taxa para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano. Essa decisão seguiu a estratégia de flexibilização monetária iniciada em setembro, após cinco reuniões consecutivas em que a taxa de juros foi mantida.
Divisão entre os diretores do Fed
O presidente do Fed observou que, até meados de julho, os riscos associados às metas de emprego e inflação eram de preços mais altos. No entanto, houve revisões para baixo na criação de empregos, sugerindo que os riscos de queda no mercado de trabalho eram maiores do que o inicialmente esperado. Powell afirmou: “Não podemos lidar com os dois ao mesmo tempo, porque são situações muito diferentes.”
Essa realidade explica as divergências entre os diretores do banco central. A decisão de reduzir a taxa de juros na reunião atual não foi unânime. O diretor Stephen Miran, indicado por Donald Trump, votou a favor de um reajuste de 0,5 ponto percentual, enquanto Jeffrey Schmid votou contra qualquer alteração nesta reunião.
Powell esclareceu: “O que temos agora é uma situação bastante desafiadora, onde, primeiro, temos 4,3% de desemprego. Temos uma economia crescendo perto de 2%. Então, no geral, é um quadro bom, mas em termos de nossa política, temos riscos de alta para a inflação e riscos de baixa para o emprego. Isso é muito difícil para um banco central, porque um desses fatores pede juros mais baixos, e o outro pede juros mais altos. Não podemos fazer os dois, então precisamos equilibrar.”
A eficácia das tarifas na economia
Powell também destacou que, apesar de alguns dados inflacionários indicarem um arrefecimento dos preços, houve um aumento nos preços de bens, principalmente em decorrência das tarifas aplicadas.
Segundo Powell, a inflação, quando excluídas as tarifas, não está muito distante da meta de 2%. A expectativa, no entanto, é que a inflação provocada pelas tarifas provavelmente continue subindo um pouco, mas isso se caracteriza como um aumento único. Ele ressaltou: “Leva um tempo para que as tarifas percorram toda a cadeia de produção e, finalmente, cheguem aos consumidores. Esses aumentos não são grandes, mas, uma vez que todas as tarifas estejam aplicadas, elas deixam de gerar inflação.”
Apostas de corte de juros em dezembro
Ao final da coletiva de imprensa, o impacto das declarações de Powell resultou em uma diminuição nas expectativas de um corte de juros em dezembro. De acordo com a plataforma CME FedWatch, as probabilidades de um reajuste de 0,25 ponto percentual caíram de mais de 80% para 65,9%. A probabilidade de um aumento nas taxas de juros agora soma 34,1% das apostas.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, afirmou que os comentários de Powell, que minimizam as expectativas de um corte garantido, foram recebidos com descontentamento pelo mercado. Ele observou que, após a entrevista, alguns índices passaram a apresentar queda. Igliori declarou: “Ainda acreditamos que um corte de 0,25 é o mais provável, mas temos que reconhecer que Powell fez tudo o que podia para dizer que nada está garantido.”
Igliori acrescentou que o futuro do mercado de trabalho não está claro, e que ainda não se sabe se os impactos das tarifas afetarão a trajetória da inflação de maneira mais significativa.
Por sua vez, Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, destacou que, apesar do discurso de Powell, o comunicado traz uma mudança clara de tom na comunicação do Fed, passando de uma postura cautelosamente restritiva para uma abordagem mais equilibrada e ligeiramente dovish. Benedito disse: “O comunicado reconhece que a atividade econômica segue em expansão moderada, enquanto a taxa de desemprego, embora ainda baixa, apresentou leve alta. A inflação, por sua vez, voltou a subir em relação ao início de 2025, permanecendo acima da meta de 2%, mas sem novos sinais de aceleração. Nesse contexto, o FOMC destacou que os riscos à meta dupla de máximo emprego e estabilidade de preços tornaram-se mais equilibrados.”
Fonte: www.moneytimes.com.br