Introdução
Mais países estão buscando reformular suas economias com o apoio do governo a empresas e setores específicos. Contudo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os subsídios e outras políticas industriais podem representar um alto custo e não são necessariamente eficazes, a menos que implementados com cautela. As afirmações foram feitas em um capítulo do próximo Panorama Econômico Mundial do FMI, publicado nesta sexta-feira (3).
Políticas Industriais e Efeitos nos Mercados
O FMI destaca que as políticas industriais têm o potencial de ajudar os países a aumentar a produção e a competir com outros participantes globais em determinados setores. No entanto, essas políticas também podem elevar os preços ao consumidor e ocasionar uma alocação inadequada de recursos. O capítulo examina as políticas industriais aplicadas em regiões como a União Europeia, China, Brasil e Coreia do Sul, concluindo que o apoio bem planejado e específico pode ser benéfico para diferentes setores. Todavia, o relatório ressalta que os subsídios devem ser cuidadosamente elaborados, com objetivos claros, e implementados junto a reformas estruturais nítidas.
O estudo realizado pelo FMI não incluiu informações sobre as recentes ações de política industrial dos Estados Unidos.
Aumento das Políticas Industriais Globalmente
A desaceleração do crescimento econômico global, acompanhada por aumentar tensões geopolíticas e preocupações com os riscos nas cadeias de suprimentos e segurança energética, resultou em um aumento significativo de políticas industriais. Essas iniciativas utilizam subsídios e outros benefícios para apoiar empresas específicas, promovendo, assim, o crescimento econômico, a geração de empregos e uma maior autossuficiência.
De acordo com o relatório, um terço de todas as políticas industriais implementadas entre 2009 e 2022 foram direcionadas ao setor de energia.
Para que essas políticas sejam eficazes, o FMI recomenda que elas sejam cuidadosamente avaliadas e reajustadas, além de buscar a melhoria do ambiente de negócios em geral. Importante ressaltar que o relatório não menciona as ações mais recentes dos Estados Unidos, onde a administração do ex-presidente Donald Trump adotou algumas medidas de política industrial, incluindo a aquisição de participações em empresas em dificuldades, como a fabricante de chips Intel.
Custos Associados às Políticas Industriais
Apesar de serem benéficas quando bem direcionadas, as políticas industriais podem acarretar altos custos, como relatado pelo FMI. A União Europeia, por exemplo, poderá ter um custo equivalente a 0,4% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para financiar subsídios destinados a tecnologias limpas que abrangem uma parte significativa da produção local.
A China, que implementou frequentemente ferramentas de política industrial em setores priorizados como veículos elétricos e semicondutores, é estimada que tenha gasto cerca de 4% do seu PIB em políticas industriais entre 2011 e 2023, conforme dados do FMI. Apesar de seu sucesso parcial, análises estruturais demonstraram que essas políticas reduziriam a produtividade total do país em 1,2% e seu PIB em até 2%.
Na União Europeia, o apoio estatal às empresas atingiu um pico de quase 1,5% do PIB em 2022. O FMI observa que os subsídios fornecidos pelos governos nacionais podem distorcer a concorrência e prejudicar a equidade nas condições do mercado único europeu.
Embora o auxílio estatal tenha proporcionado um impulso temporário às empresas beneficiárias em termos de aumento nas receitas e criação de empregos, esse efeito tende a ser limitado. Além disso, a assistência parece excluir as empresas que não são beneficiárias, mas que atuam no mesmo setor.
Se o auxílio estatal for considerado necessário para abordar falhas específicas do mercado, o FMI sugere que essa medida deve ser implementada em nível da UE, e não isoladamente por estados membros, a fim de minimizar as consequências negativas.
Comparações entre Políticas no Brasil e na Coreia do Sul
O estudo do FMI também compara as políticas industriais da Coreia do Sul e do Brasil durante a década de 1970. A análise conclui que a Coreia do Sul teve mais êxito em expandir setores específicos, aumentando a produção e o PIB.
A abordagem sul-coreana foi centrada em modelos voltados para a exportação, baseados em grandes conglomerados de empresas privadas. Por outro lado, o Brasil investiu mais em empresas estatais e no consumo interno.
A Coreia do Sul implementou também um sistema de supervisão estruturada e análise de desempenho, estabelecendo metas de exportação que faziam com que as empresas que não alcançassem tais metas perdessem o acesso ao suporte estatal. O Brasil, conforme observado no relatório, não tinha estruturas comparáveis para garantir essa supervisão e accountability operacional.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br