Tarifas sobre Exportações Brasileiras: Impactos e Oportunidades
As tarifas recentemente implementadas sobre exportações brasileiras por parte do governo dos Estados Unidos impactam um significativo segmento do mercado. Sob a nova administração de Donald Trump, que adota uma postura fortemente protecionista, cerca de 35,9% das exportações do Brasil para os EUA estão agora sujeitas a tarifas adicionais. Esta mudança afeta produtos como café, frutas e carnes, enquanto commodities energéticas, minérios, celulose e aeronaves civis permaneceram isentos, o que permite que essas indústrias mantenham sua competitividade.
O Impacto das Tarifas no Comércio Externo
A Retaliação ao Setor de Tecnologia
A decisão de Trump são justificadas como um esforço de retaliação contra ações que levaram à desvantagem de grandes empresas americanas no cenário tecnológico. Esta medida traz repercussões diretas para empresas brasileiras que atuam como exportadoras, especialmente aquelas listadas na Bolsa de Valores. A consequência imediata é o aumento nos preços dos produtos em solo americano, o que se reflete em setores vitais como a agropecuária, frigoríficos e na produção de maquinário pesado, com impactos visíveis nos preços das ações dessas empresas.
O Cenário Econômico Nacional
No contexto econômico brasileiro, a situação não é das mais tranquilas. O Banco Central, por exemplo, decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, uma medida que leva em conta o risco fiscal e a inflação ainda instável. O valor do dólar continua a apresentar oscilações, influenciado pela aversão ao risco dos mercados emergentes e pela deterioração das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Essa conjuntura faz com que investidores comecem a redirecionar seu foco para empresas que apresentam menores exposições ao mercado externo. As companhias que geram receitas em reais, com uma demanda interna mais previsível e menos dependência de importações, se tornam atrativas. Os setores que mais se destacam nesse cenário são o de energia elétrica, saneamento básico e o setor financeiro.
Setores e Empresas que Atraem Investimentos em Tempos de Incerteza
O Papel das Utilities nas Carteiras Defensivas
Um dos segmentos mais promissores é o de utilities, que abrange empresas fornecedoras de energia e serviços de saneamento básico. De acordo com Felipe Paletta, estrategista da EQI Research, essas empresas são menos suscetíveis a choques cambiais e efeitos indiretos da inflação, dado seu modelo de receitas reguladas e previsíveis. Essa característica torna-as ainda mais relevantes em um cenário de incertezas globais.
Após a recente revisão das normas tarifárias que excluíram setores críticos da economia brasileira da tributação adicional, como siderúrgicas e mineradoras, houve um alívio significativo para o mercado. Consequentemente, empresas como Vale, Gerdau e Embraer agora encontram-se em uma posição mais segura.
JBS: Uma Exceção em Meio ao Desafios
É importante destacar que nem todas as empresas conseguiram se proteger do impacto negativo. A JBS, por exemplo, permanece listada entre as companhias afetadas pelas novas tarifas. No entanto, sua forte presença no mercado americano poderá servir como um amortecedor, facilitando a adaptação aos novos custos. Segundo Paletta, a operação consolidada da JBS nos EUA permite que a empresa enfrente melhor esse desafio tarifário, fazendo dela uma alternativa defensiva em relação a outras companhias que não têm a mesma proteção.
Os Desafios do Setor Financeiro
Os bancos, por sua vez, enfrentam desafios adicionais. A ampliação da chamada Lei Magnitsky, que permite a sanções contra empresas acusadas de violações de direitos humanos e corrupção, pode tornar difícil para as instituições financeiras que possuem operações internacionais. Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos, explica que esses bancos podem ser forçados a restringir suas atividades, o que pode gerar dificuldades tanto para eles quanto para seus investidores.
O Estado do Varejo Brasileiros
A Necessidade de Cautela
Outro setor que chama a atenção é o de alimentos básicos e bens de consumo essenciais. Empresas focadas em produtos como farináceos e biscoitos, que têm produção e distribuição concentradas dentro do país, poderão se beneficiar de um consumidor ainda ativo, mesmo em um cenário de juros elevados. Porém, há uma preocupação em relação à pressão sobre os custos, especialmente se o dólar se mantiver alto, uma vez que muitos insumos são cotados em moeda estrangeira.
Varejo Interno em Foco
O varejo interno também é visto como uma área de investimento, mas com um nível maior de cautela. Redes de grande porte que dependem de importações de produtos, como eletrodomésticos, podem enfrentar dificuldades devido à desvalorização do real e à fragilidade do consumo em um cenário de altas taxas de juros e crédito caro.
Riscos e Sugestões para Investimentos Protectivos
A Aposta em Empresas Tarifadas
Alguns investidores optam por empresas que até podem ser afetadas pelas tarifas, na esperança de que uma eventual reversão da política comercial dos EUA traga ganhos significativos. No entanto, essa abordagem não é adequada para todos os perfis de investidor, segundo Coelho. Para aqueles que buscam segurança e estabilidade, evitar empresas com altos custos dolarizados e exposição direta ao mercado externo é a melhor estratégia.
Antes das isenções, muitos acreditavam que empresas com atuação internacional dominariam a Bolsa em detrimento das que dependiam do mercado interno. Contudo, com a recente redução das tarifas, esse efeito deve se dissipar parcialmente.
Proteção e Valorização também são o Foco
Na visão de Paletta, o investidor deve estar atento às flutuações de curto prazo causadas por alterações cambiais ou por medidas comerciais, mas também considerar os fundamentos de longo prazo dos ativos. Embora a discussão sobre tarifas tenha dominado as manchetes, a busca por proteção e previsibilidade em um ambiente de juros elevados e inflação volátil é a principal preocupação. Aqueles que identificarem valor em setores menos suscetíveis a essas oscilações podem obter vantagem competitiva.
Principais Ações a Considerar em Agosto
A Montagem da Carteira Defensiva
Ciente das tarifas sobre exportações, da elevação da taxa de juros e da volatilidade do dólar, a EQI Research elaborou uma carteira defensiva para agosto. A proposta é focar em empresas com receitas estáveis, mínima exposição ao exterior e capacidades sólidas de geração de caixa. Destaque para os setores de energia, saneamento, consumo essencial e financeiro, com o objetivo de minimizar os impactos trazidos pelas incertezas econômicas.
Essa carteira busca oferecer alternativas que garantam bons retornos sem abrir mão da segurança. Entre as principais ações selecionadas estão:
- Eletrobras (ELET3; ELET6)
- Itaúsa (ITSA4)
- JBS (JBSS3)
Essas companhias foram escolhidas por terem potencial de valorização que supera 40%, representando uma estratégia defensiva com oportunidades de crescimento.
A Tabela de Ações Selecionadas
A tabela a seguir mostra as principais ações da carteira defensiva e suas características:
Ação | Código na Bolsa | P/L 2026 | Cotação Atual | Preço-Alvo | Potencial de Valorização | Peso % na Carteira |
---|---|---|---|---|---|---|
Eletrobras | ELET3 | 8,7x | R$ 45,20 | R$ 53,19 | 40,4% | 15,0% |
Itaúsa | ITSA4 | 6,0x | R$ 10,93 | R$ 12,57 | 21,6% | 10,0% |
JBS | JBSS32 | – | R$ 78,15 | R$ 111,89 | 48,5% | 10,0% |
Grupo Mateus | GMAT3 | 9,2x | R$ 7,53 | R$ 9,15 | 24,1% | 10,0% |
Allos | ALOS3 | 11,8x | R$ 22,51 | R$ 27,54 | 27,8% | 10,0% |
Petrobras | PETR4 | 4,4x | R$ 30,68 | R$ 41,26 | 28,1% | 10,0% |
Equatorial | EQTL3 | 11,3x | R$ 35,19 | R$ 42,90 | 25,0% | 10,0% |
Porto Seguro | PSSA3 | 9,3x | R$ 53,40 | R$ 53,09 | 1,6% | 5,0% |
Prio | PRIO3 | – | R$ 39,10 | R$ 48,20 | 17,6% | 5,0% |
Cosan | CSAN3 | 2,9x | R$ 5,63 | R$ 12,56 | 115,9% | 5,0% |
Rede D’Or | RDOR3 | 13,4x | R$ 36,64 | R$ 40,54 | 24,5% | 5,0% |
Gerdau | GGBR4 | 6,8x | R$ 16,35 | R$ 21,85 | 36,1% | 5,0% |
Assim, a estratégia visa não apenas mitigar riscos, mas também oferecer um potencial de crescimento mesmo em um ambiente repleto de incertezas econômicas.