A Opinião de Roberto Campos Neto sobre Stablecoins
As stablecoins estão se tornando um tema central no mercado de criptomoedas, e Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e atualmente vice-presidente e chefe global de Políticas Públicas do Nubank (ROXO34), compartilhou suas previsões sobre como essas moedas digitais afetarão o mercado nos meses seguintes, destacando a desintermediação bancária como um aspecto importante.
Desintermediação Bancária e Suas Consequências
Em uma discussão, Campos Neto explicou que quando um indivíduo retira dinheiro de depósitos bancários e o transfere para uma carteira digital para realizar transações, isso resulta em uma redução no volume de depósitos disponíveis nos bancos. Essa diminuição pode afetar a capacidade dos bancos de oferecer crédito, promovendo, assim, a desintermediação bancária.
Atualmente, os bancos são o meio mais comum para a obtenção de crédito. Contudo, com o crescimento dos mercados descentralizados, como as DeFis (finanças descentralizadas) e as DEXs (exchanges descentralizadas), é possível acessar crédito utilizando apenas uma carteira digital, sem depender da intervenção de instituições bancárias.
O Futuro das Stablecoins
Campos Neto prevê que a desintermediação e o papel das stablecoins será um “grande tema” nas discussões entre emissores dessas moedas e representantes dos Bancos Centrais globalmente ao longo dos próximos seis meses. O ex-presidente do BC acredita que as stablecoins, por serem criptomoedas lastreadas, estão em uma posição favorável para acelerar esse processo de desintermediação.
Esse posicionamento foi expresso durante sua participação no evento Digital Assets Conference (DAC) 2025, que teve lugar em São Paulo e foi promovido pelo Mercado Bitcoin (MB) na terça-feira, 23 de setembro.
Impactos sobre a Política Monetária
Além da desintermediação, Campos Neto também mencionou que a política monetária corre o risco de ser afetada por essa transição. Ele observa que a política monetária é frequentemente realizada via crédito dos bancos junto à autoridade monetária. Portanto, a mudança no acesso ao crédito pode ter consequências significativas nesse aspecto.
A Relevância das Stablecoins no Mercado
Ainda no evento, Campos Neto criticou a ideia de que no futuro haverá uma variedade de stablecoins colateralizadas em diferentes moedas. Para ele, essa proposição não faz sentido, visto que atualmente, cerca de 99% das stablecoins estão atreladas ao dólar americano. Ele argumentou que essa estrutura dolarizada ocorre porque as stablecoins ajudam a estabilizar uma economia que enfrenta instabilidade.
Benefícios para o Tesouro dos Estados Unidos
Campos Neto também destacou que quem mais se beneficia dessa demanda por stablecoins é o Tesouro dos Estados Unidos. Esse ganho decorre da implementação do Genius Act, que regulamentou o setor de stablecoins ao exigir que a colateralização dessas moedas seja feita através de ativos líquidos da economia norte-americana, como os Treasurys, que são títulos do Tesouro dos EUA, ou dólares.
Segundo Campos Neto, essa situação representa um grande benefício para o Tesouro dos Estados Unidos, pois gera uma demanda constante e robusta por seus títulos. Ele prevê que, em um futuro próximo, os principais detentores desses títulos serão os emissores de stablecoins, alterando assim a dinâmica dos mercados financeiros.
Considerações Finais
O ex-presidente do Banco Central crê que a discussão em torno das stablecoins e sua interação com os bancos centrais será intensa e impactante, uma vez que o mercado financeiro global continua a evoluir com o crescimento de soluções digitais. A desintermediação bancária e a nova dinâmica criada pelas stablecoins representam não apenas uma oportunidade de avanço no setor financeiro, mas também desafios significativos para as políticas monetárias vigentes.
Fonte: www.moneytimes.com.br