Aumento nos Pedidos de Recuperação Judicial no Agronegócio
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio apresentaram um incremento de 32% no segundo trimestre de 2025, de acordo com a última pesquisa realizada pela Serasa Experian.
Contexto e Análise do Cenário
O aumento nos pedidos suscita diversas perguntas sobre o significado desses números, abrangência do levantamento e a amostra utilizada. Há uma possível crise no agronegócio? Ou trata-se de uma questão estrutural que afeta o setor de forma contínua?
Em resposta a essas indagações, alguns analistas e veículos de comunicação, como é comum, atribuíram a responsabilidade aos financiadores. Essa impressão evoca uma representação caricata de investidores, como um “Tio Patinhas” acumulando riqueza em meio a juros elevados.
Por outro lado, o Ministro da Fazenda se apressou em afirmar que “um ou dois setores da economia têm abusado do instituto jurídico da recuperação judicial”. Diante de tais declarações, é imprescindível retomar a discussão sobre o financiamento do agronegócio brasileiro, tema já abordado anteriormente por este colunista.
Números Reveladores do Setor
Os dados referentes à última safra, amplamente divulgados em uma coluna anterior, contrastam com o clima alarmista que se formou após a publicação do levantamento da Serasa. A própria empresa, que desenvolveu um indicador específico para pedidos de recuperação judicial no setor agro, registrou 565 solicitações no segundo trimestre de 2025.
Em comparação ao período anterior, houve um aumento considerável de quase 32% nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio. O número total de solicitações foi de 389 no último período avaliado, que inclui tanto produtores rurais como pessoas físicas (CPF) quanto jurídicas (CNPJ), além de empresas ligadas ao setor.
Distribuição Geográfica dos Pedidos
O estudo da Serasa também apresentou uma geolocalização dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, evidenciando que os casos se concentraram em estados chave para o setor. O aumento dos pedidos é composto por processos feitos por produtores rurais, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, além de empresas do agronegócio que não atuam diretamente na produção, como as agroindústrias.
O levantamento indica que a maior parte dos requerentes de recuperação judicial inclui produtores de soja e pecuaristas entre as pessoas jurídicas e arrendatários, além de pequenos e médios produtores entre os agricultores pessoas físicas, juntamente com empresas do setor agroindustrial que processam açúcar, etanol, farelo e óleo de soja, além de laticínios.
Análise dos Dados e Contexto mais Amplos
Os gráficos disponibilizados pelo estudo demonstram os seguintes pontos:
- O aumento nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio é significativo em comparação aos períodos anteriores do levantamento, iniciado em 2021. Notavelmente, esses pedidos se concentraram nos segundos trimestres de 2024 e 2025, em decorrência de defaults recentes na soja, cuja colheita é finalizada até 30 de abril de cada ano.
- As oscilações nos preços da soja e do boi impactaram as solicitações, além dos efeitos de tarifas do governo dos Estados Unidos e a geolocalização em regiões que enfrentaram desafios climáticos significativos, como o Rio Grande do Sul, onde muitos arrendatários se encontram endividados devido a altas taxas de juros.
- Embora haja um aumento nos números, os perfis dos requerentes estão bem definidos. Analisando o total de 3.062 produtores que optaram por requerer recuperação judicial desde 2021, considerando o universo total de produtores rurais do Brasil, que é de 5.073.324 conforme o Censo de 2017 do IBGE, a porcentagem de produtores nessa situação representa cerca de 0,0604%. Esse percentual é estatisticamente insignificante, ainda que constitua um alerta para o crédito destinado ao agronegócio.
Perspectivas e Reações ao Cenário Atual
No contexto atual, a alusão a uma famosa comédia dos anos 80, que parodia um filme catástrofe, pode ser apropriada. A “manchete” sobre o aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio deve ser vista como um alerta para a necessidade de reforço no crédito, análises mais detalhadas para a concessão de financiamentos e a estruturação de garantias por parte das instituições financeiras, fundos e securitizadoras do setor.
As declarações do Ministro da Fazenda, acompanhadas por matérias em alguns veículos de comunicação que abordam o levantamento da Serasa com viés catastrofista, contrastam com a realidade dos números do agronegócio. A situação, conforme explorado, permanece distante de uma crise sistêmica. E você, leitor, o que pensa sobre esses dados?
Fonte: www.moneytimes.com.br