Perspectivas para a Selic
O Banco Central (BC) deve iniciar o ciclo de cortes da Selic na reunião programada para janeiro de 2026. Entretanto, a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, comenta que a possibilidade de um corte já em dezembro de 2025 não pode ser completamente descartada.
Cenário Econômico
A economista enfatiza que a inflação está em um caminho de queda e que a moeda brasileira, o real, apresenta uma valorização. Esses fatores criam espaço para uma flexibilização da taxa de juros já em 2025. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a acelerar em setembro, registrando um aumento de 0,48%. Contudo, as métricas de inflação subjacente mostraram sinais de melhora, indicando que as ações da política monetária começam a mostrar resultados.
Impacto do Câmbio
No que tange ao câmbio, a moeda dos Estados Unidos, o dólar, acumulou uma queda de aproximadamente 11% em relação ao real ao longo deste ano. Ao iniciar 2025 a R$ 6,17, a moeda norte-americana agora opera em torno de R$ 5,50. Vitória observa que a política monetária mais branda do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos contribui para reduzir a pressão sobre o câmbio. A expectativa do Inter é a de um novo corte de juros nos EUA ainda este ano, previsto para dezembro, após um início de flexibilização no mês anterior.
Expectativas para a Inflação
Em entrevista ao Money Times, Vitória expressa que um cenário mais favorável originado de fatores externos pode levar a uma queda da inflação que surpreenda as expectativas para os próximos meses. Adicionalmente, ela acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aguardar uma consolidação mais sólida da tendência de queda da inflação antes de iniciar o processo de flexibilização.
A economista avalia que, apesar dos sinais positivos, talvez não haja um intervalo suficiente para que os diretores modifiquem a postura contracionista e comecem a reduzir a Selic ainda neste ano, visto que restam apenas duas reuniões programadas para 2025. Segundo Vitória, "ao que tudo indica, o corte vai ficar para o primeiro trimestre, começando em janeiro".
Projeções para a Selic
A projeção oficial do Inter aponta que a Selic deve encerrar o próximo ano em 12%, o que ainda representa um nível restritivo, considerando a projeção de inflação de 3,6% para 2027. No entanto, Vitória destaca que a incerteza fiscal implica riscos ao cenário para 2026. Medidas que sustentem a demanda podem acelerar a inflação e restringir o espaço para cortes, enquanto uma definição mais clara em relação a questões eleitorais e fiscais poderia possibilitar reduções adicionais na taxa de juros.
Determinantes Fiscais
A economista reitera que a atual dinâmica inflacionária é favorável e que a principal barreira para projeções de inflação mais baixas é, de fato, a incerteza no campo fiscal. Em sua análise, a definição de uma nova âncora fiscal para 2027 será um fator crucial para a condução da política monetária. "O mais importante é discutir uma nova âncora", afirma.
Proposta de Âncora Fiscal
Vitória sugere que o novo regime deveria seguir uma estrutura similar à do teto de gastos, porém com limites superando a inflação e mecanismos que evitem a aceleração das despesas. O teto federal de gastos, que entrou em vigor em 2017, estabeleceu um limite para o crescimento dos gastos primários da União, atrelando-os à inflação. Nesse modelo, os gastos realizados em 2016 passaram a ser corrigidos pelo índice inflacionário em vigor a cada ano, com um reajuste baseado no limite anterior.
A economista menciona: "Um arcabouço com limites acima da inflação seria aceitável. Contudo, é essencial implementar medidas que impeçam o aumento acelerado das despesas". Ela ressalta que reajustes automáticos no salário mínimo e nas despesas de programas sociais funcionam como propulsores do aumento das despesas, o que torna o controle fiscal mais desafiador.
Considerações sobre Programas Sociais
Vitória argumenta que é viável operar sem vinculações e sem aumentos reais no salário mínimo por um certo período, preparando assim o terreno para uma revisão dos benefícios fiscais. No entanto, ela também enfatiza que, a longo prazo, espera-se que o governo promova uma consolidação dos programas sociais existentes, pois o ritmo de crescimento desses programas é insustentável.
Fonte: www.moneytimes.com.br