O comércio de caixas-surpresa, conhecidas como “blind boxes” (em inglês), está se proliferando rapidamente em diversos setores na China e também no Brasil, abrangendo desde agências de viagem até supermercados. Nesse modelo, o consumidor só descobre o que adquiriu após abrir a embalagem, o que aumenta a expectativa e incentiva novas compras.
Na capital chinesa, a Pop Mart se destaca como líder nesse segmento. A empresa é responsável pelo fenômeno Labubu, um boneco com aparência de monstro, criado pelo artista Kasing Lung, oriundo de Hong Kong. Os brinquedos Labubu são vendidos exclusivamente nessas embalagens misteriosas, o que motiva colecionadores a tentarem a sorte repetidamente na busca por versões raras.
Expansão do conceito para outros setores
Até mesmo templos dedicados a Confúcio em Pequim aderiram a essa tendência. Nas lojas desses locais, visitantes podem adquirir caixas-surpresa com lembranças temáticas, como sorvetes acompanhados de mensagens de boa sorte. Por 4,50 dólares (cerca de R$ 24,33), os fiéis somente descobrem a bênção ao desembrulharem o doce.
O conceito se alastrou para outros segmentos. A plataforma de viagens Fliggy, pertencente ao Grupo Alibaba, oferece passagens aéreas “blind box” a partir de 64 dólares (aproximadamente R$ 345,62), onde os clientes selecionam a cidade de origem na China, mas somente descobrem destino e datas após a compra. A Pop Mart mantém sua exclusividade com os bonecos Labubu, cujos preços variam entre 9 dólares (cerca de R$ 48,66) e 30 dólares (aproximadamente R$ 162,20).
Público jovem e impacto durante a pandemia
O público jovem impulsiona a popularidade das caixas-surpresa. Ruan Yue, estudante de 23 anos, menciona que gasta em média 55 dólares (R$ 297,36) por mês nessas compras e já coleciona 150 bonecos, destacando a emoção de encontrar edições limitadas. “No momento em que você abre a caixa, se for a versão que você quer ou uma edição limitada, você fica muito animada”, comentou. “E é algo que posso pagar”, completou Ruan Yue.
Durante a pandemia, o interesse por “manghe”, como são chamadas as blind boxes na China, aumentou. Com as restrições impostas pela Covid-19, a Pop Mart começou a realizar transmissões ao vivo pela internet e a vender seus produtos por meio de máquinas automáticas. A possibilidade de trocar peças ou exibir versões raras tornou-se um passatempo popular entre os jovens, que buscavam alternativas acessíveis durante o período de economia estagnada.
Outros varejistas, como a Miniso, que está listada na Bolsa de Nova York, também investiram no formato, lançando caixas-surpresa com relógios, fitas adesivas, itens de papelaria e canetas. Funcionários da Miniso informaram à CNBC que a curiosidade dos consumidores sobre o conteúdo mantém o interesse e estimula novas compras.
Preocupações e necessidade de regulamentação
Apesar do êxito, as autoridades chinesas expressaram preocupação. Veículos estatais como o People’s Daily alertaram em junho sobre o risco de consumo excessivo e dependência, especialmente entre crianças. Segundo especialistas entrevistados pelo jornal oficial, trata-se de uma “armadilha comercial” que explora as vulnerabilidades psicológicas dos menores, sugerindo a necessidade de regulamentação mais rigorosa.