Operação Carbono Oculto
A operação Carbono Oculto, realizada nesta quinta-feira (28), trouxe à tona a conexão do crime organizado, em especial do Primeiro Comando da Capital (PCC), com o setor de combustíveis. Companhias do setor já haviam expressado preocupações sobre irregularidades anteriormente.
Abordagem das Autoridades
As autoridades identificaram que a organização criminosa operava com cerca de 2,5 mil postos de combustíveis em todo o país. Para comparação, a Vibra, antiga BR Distribuidora e a maior do setor, fechou o segundo trimestre de 2025 com 7.989 postos. Além disso, as empresas associadas ao PCC tinham aproximadamente quatro usinas sucroalcooleiras, um terminal portuário e mais de 1.600 caminhões para transporte de combustíveis. Os criminosos também realizavam importações ilegais de combustíveis e tinham operações extensivas de adulteração.
Tais atividades representavam um desafio significativo para as empresas que atuam dentro da legalidade.
Reclamações de Vibra e Ultrapar
Rodrigo Pizzinato, CEO da Ultrapar, proprietária da Rede Ipiranga, destacou em teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre do ano passado que uma das principais irregularidades que afetou os resultados recentes foi o não cumprimento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, ingrediente mais caro que teve seu preço elevado nos últimos meses.
Ele também apontou que um número considerável de distribuidoras não estava aderindo às metas do RenovaBio e não adquiria os Certificados de Direitos de Emissões de Créditos de Biocombustíveis (CBIOs) anualmente. Uma das linhas da investigação revelou que os criminosos estavam misturando metanol aos combustíveis, com algumas estações operadas pelo PCC apresentando concentrações de até 90%, enquanto a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) estabelece um limite máximo de 0,5%.
Impactos no Mercado
Pizzinato também mencionou que as irregularidades permitiram que empresas que as praticam conquistassem mercado em relação às que respeitam as leis, citando que a participação de mercado das empresas do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) caiu 2,9 pontos percentuais em 2024. Um trimestre anterior, Pizzinato havia indicado que o Ebitda da Ultrapar poderia ser R$ 1 bilhão maior se a empresa não cumprisse a obrigação de misturar biodiesel no diesel, ressaltando que esse é o impacto da ilegalidade no setor.
Análise de Ernesto Pousada
Ernesto Pousada, CEO da Vibra, também se manifestou durante a teleconferência do primeiro trimestre deste ano, comentando que muitos concorrentes estavam sendo favorecidos por margens de lucro menores, ganhando participação de mercado ao não seguirem as regras estabelecidas. No quarto trimestre do ano anterior, Pousada expressou uma “estranheza” em relação ao comportamento de competidores, afirmando confiar na competitividade da Vibra dentro da legalidade, destacando diferenciais logísticos, atendimento ao cliente e desenvolvimento de novos produtos. No final de 2024, as três maiores distribuidoras do Brasil (Vibra, Raízen e Ultrapar) detinham mais de 50% do mercado, embora todas tenham perdido participação de mercado.
Avaliação de Analistas sobre a Operação
A operação Carbono Oculto resultou em um impulso nas ações do setor. O time do BTG Pactual, liderado por Thiago Duarte, em relatório, comentou que as autoridades parecem estar abordando a questão das irregularidades. A operação, de grande escala, pode gerar uma disrupção significativa nas atividades de sonegação e adulteração. O banco informou que as usinas envolvidas processam cerca de 16 milhões de toneladas de cana por ano, representando aproximadamente 2,5% do volume total processado na região Centro-Sul do Brasil.
O impacto sobre a oferta de açúcar e etanol e a concorrência em relação a outras usinas dependerá, em última análise, de como a operação afetará a capacidade dessas unidades de manter suas atividades de moagem, segundo a análise do BTG.
Percepção do Itaú BBA
O banco Itaú BBA, em relatório, observou que as distribuidoras envolvidas em práticas ilícitas representam uma participação de 3% no mercado de diesel, 6% na gasolina e 13% no etanol. Esses números, quando somados, correspondem a aproximadamente 5% da distribuição total de combustíveis no Brasil em 2025. Embora seja complicado quantificar o impacto exato das práticas informais, a análise sugere que elas tiveram uma contribuição relevante para a expansão da participação de mercado das chamadas “outras” distribuidoras.
O Itaú BBA acredita que um aumento na fiscalização e na transparência no setor beneficiará as distribuidoras regulamentadas e contribuirá para a elevação das margens.