A Presença da Wells Fargo no Mercado de Cartões de Crédito
A Wells Fargo possui agências por todo o país. Entretanto, o quarto maior banco dos Estados Unidos enfrenta dificuldades em sua atuação no mercado de cartões de crédito, especialmente quando comparado a seus concorrentes maiores, como JPMorgan Chase e Citigroup. Um esforço que se estende por anos, complementado pela remoção, neste verão, do teto de ativos punitivo imposto pelo Federal Reserve, pode alterar esse cenário.
Participação de Mercado e Desafios
A Wells Fargo detém apenas 4% do mercado de cartões de crédito em 2024, o que a classifica como o sétimo maior emissor do país, segundo a Nilson Report, um provedor internacional de pesquisa em pagamentos. Em contrapartida, o maior emissor, JPMorgan Chase, responde por impressionantes 17,27%, enquanto American Express, Citi e Capital One possuem cada uma mais de 10% do mercado. A Wells Fargo enfrenta um verdadeiro jogo de recuperação na busca por uma postura competitiva mais relevante nesse setor.
O diretor financeiro da Wells Fargo, Michael Santomassimo, afirmou que os cartões de crédito devem se tornar um "contribuinte significativo" para os resultados financeiros do banco nos próximos anos. Ele destacou que os cartões de crédito representam "uma enorme oportunidade para continuarmos a crescer", em uma conferência do setor realizada no dia 9 de setembro.
Novas Ofertas e Publicidade
Desde 2021, a Wells Fargo lançou pelo menos nove novos cartões de crédito, sendo que as introduções mais notáveis incluem o Active Cash Card, que oferece 2% de retorno em todas as compras, e o Reflect Card, que disponibiliza um período de taxa de porcentagem anual (APR) introdutória competitiva e prolongada. O banco também aumentou seu investimento em publicidade para seus cartões de crédito, com comerciais veiculados em eventos de grande visibilidade, como as Olimpíadas.
Os resultados financeiros da divisão de cartões de crédito da Wells Fargo, que faz parte de seu maior segmento de relatório, o banco de consumo e empréstimos, mostraram um crescimento de 9% em relação ao ano anterior, impulsionado pelo aumento dos saldos de empréstimos no último trimestre.
Desafios Recentes
Entretanto, a tentativa da Wells Fargo de expandir sua atuação no mercado de cartões de crédito não foi isenta de contratempos. O banco teve que encerrar, de forma antecipada, um acordo promocional com a Bilt, que permitia aos portadores de cartões acumular recompensas em aluguéis. O Wall Street Journal reportou em julho que a parceria se tornou uma operação deficitária para a Wells, evidenciada pela falta de renda de juros esperada, uma vez que os portadores de cartões pagavam suas contas integralmente a cada mês.
Um porta-voz da Wells Fargo esclareceu ao jornal que essa parceria representava apenas "uma parte modesta" da estratégia geral da empresa em cartões de crédito. "Como ocorre com todos os lançamentos de novos cartões, são necessários vários anos até que o lançamento inicial traga retorno", disse o porta-voz na época.
Crescimento de Recebíveis
Durante uma entrevista à CNBC na semana passada, o CEO Charlie Scharf continuou a enfatizar os esforços do banco na área de cartões de crédito. "Quando analisamos nosso crescimento em cartões de crédito, observamos um aumento substancial nos últimos quatro a cinco anos", afirmou Scharf. O executivo destacou que os recebíveis aumentaram de US$ 35 bilhões para US$ 50 bilhões.
Os recebíveis em aberto, que representam a quantia de dinheiro que os clientes devem a um emissor de cartões de crédito, são um indicador crucial de lucratividade. Isso ocorre porque o principal meio pelo qual essas empresas obtêm receita é através dos juros cobrados sobre os saldos não pagos. Quanto maior o montante de recebíveis em aberto, mais receita o emissor gera por meio da renda baseada em juros. Em comparação, o JPMorgan Chase teve US$ 220 bilhões em recebíveis em aberto no ano passado.
O analista da RBC Capital Markets, Gerard Cassidy, descreveu a expansão do cartão de crédito da Wells Fargo como uma "evolução natural". A Wells apresenta uma base de depósitos subexplorada quando se trata de cartões de crédito, resultado não apenas da acirrada concorrência com seus pares, mas também da perda de confiança dos clientes em decorrência do escândalo de práticas de vendas de 2016, que ocorreu antes da gestão de Scharf. Embora a empresa tenha feito progressos em sua reputação ao longo dos anos, buscando apaziguar reguladores e corrigir sua conduta, essa recuperação permanece lenta.
Oportunidades de Cross-Selling
Wells Fargo agora também oferece cartões de crédito mais competitivos do que no passado. Ambas essas questões tornam a empresa melhor posicionada para realizar vendas cruzadas de seus produtos para os clientes existentes. Por exemplo, se um cliente possui um cartão de débito da Wells Fargo, o banco pode promover diretamente seus cartões de crédito para essa pessoa. Esse é um método mais eficiente e econômico para adquirir novos negócios, uma vez que a Wells já possui informações sobre as qualificações de seus clientes e suas potenciais necessidades, com base nos relacionamentos existentes.
Segundo Cassidy, que tem uma classificação de compra para as ações da Wells Fargo, "há benefícios reais em ter múltiplos produtos do banco, especialmente do ponto de vista do banco." Ele acrescentou que "está comprovado que quanto mais ganchos um banco consegue ter em seus clientes, mais forte e lucrativo será esse relacionamento ao longo do tempo."
Perspectivas Futuras e Risco de Crédito
Após um crescimento considerável em cartões de crédito, Scharf mencionou que os recebíveis em aberto do banco estão "um pouco estabilizados" nos últimos trimestres. "Temos tentado ser muito prudentes a respeito de quem estendemos crédito, mas isso também se deve ao fato de que as taxas de pagamento são muito altas", acrescentou o CEO da Wells Fargo.
A referência de Scharf às "taxas de pagamento" diz respeito às elevadas APRs para cartões de crédito. A gestão está agindo com cautela para minimizar o risco de crédito em um momento em que muitos no mercado estão preocupados com a saúde do consumidor americano em um cenário de inflação sustentada e taxas de juros gradualmente em queda. Isso é relevante para a Wells Fargo e outros emissores de cartões de crédito, pois suas performances estão intimamente ligadas à saúde financeira dos consumidores.
Comportamento do Consumidor
Até o momento, mesmo com meses de incertezas relacionadas a cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve e as movimentações tarifárias do presidente Donald Trump, os consumidores continuam a gastar e a quitar suas dívidas de cartões de crédito em um ritmo razoável. "Em nossos próprios dados, as coisas estão notavelmente estáveis", disse Scharf antes do corte de taxas na semana passada. "O crédito do consumidor está tão bom quanto há seis meses, e na verdade, é provável que esteja em uma leve tendência de alta."
Conclusões sobre o Mercado
Embora a Wells Fargo ainda tenha um caminho a percorrer para se igualar à Capital One no segmento de cartões de crédito, isso não é um desafio insuperável. Um crescimento contínuo a partir de uma base menor poderia ainda ter impacto positivo em suas finanças gerais. Além disso, a Wells Fargo possui várias novas linhas de expansão disponíveis, agora que não está mais sujeita ao rígido teto de ativos de US$ 1,95 trilhões imposto pelo Federal Reserve, que foi totalmente removido.
Com essa restrição eliminada, a Wells Fargo pode finalmente crescer sua base de ativos após mais de sete anos. A gestão pode agora se concentrar em ações proativas após anos corrigindo suas falhas regulatórias passadas, incluindo o aumento de depósitos, a oferta de mais empréstimos e a expansão de sua divisão de gerenciamento de patrimônio. Além disso, o banco também pode desenvolver seu ramo de bancos de investimento, que já estava em andamento.
Embora o setor de bancos de investimento dependa constantemente de novas ofertas públicas iniciais e de clientes de fusões após a conclusão de cada negócio, essa estratégia poderá permitir que a Wells Fargo se torne menos dependente da receita baseada em juros, que está sujeita às movimentações de política monetária do Federal Reserve.
Fonte: www.cnbc.com