Quando William Green decidiu iniciar sua jornada de investimentos, ele utilizou sua experiência como jornalista para entrevistar alguns dos principais investidores do mercado, aprendendo com eles as melhores estratégias para aumentar a rentabilidade de seu capital. Embora não tivesse interesse prévio no assunto, Green desenvolveu uma verdadeira paixão pelo tema. Ele dedicou horas a entrevistas com nomes renomados, como John Templeton, Charlie Munger, Warren Buffett, John Bogle, Ed Thorp, Will Danoff, Mohnish Pabrai, Joel Greenblatt e Howard Marks.
Originário de Londres e com uma formação acadêmica tradicional, Green estudou literatura inglesa na universidade e nunca teve interesse em cursos relacionados a investimentos ou negócios. Ele menciona que, desde o início, tinha um certo preconceito, considerando que se envolver com dinheiro era vulgar. A mudança de perspectiva ocorreu quando, juntamente com seu irmão, decidiu vender um apartamento que possuíam. “Embora não fosse uma quantia significativa, era o suficiente para me fazer pensar em investimento”, relata. Essa experiência despertou seu interesse, e ele passou a enxergar o mercado financeiro como um “jogo” que favorece aqueles que exercem paciência e disciplina. Além disso, encontrou a chance de alcançar rentabilidade “sem sujar as mãos e sem precisar trabalhar para uma pessoa que não gostasse”.
Durante suas entrevistas com alguns dos maiores investidores, Green notou que eles possuíam características intrigantes, quase como personagens de uma obra de ficção. Ele observou que essas pessoas tendem a ser excêntricas e não se preocupam com a opinião alheia. A habilidade de superar o mercado por longos períodos parece exigir uma postura diferenciada em relação à maioria das pessoas.
Características compartilhadas pelos grandes investidores
Green também identificou que os investidores de sucesso compartilham algumas qualidades notáveis, como disciplina, pensamento independente e a disposição para desafiar normas. Durante o AGF Day, ele destacou quatro lições fundamentais que aprendeu com esses investidores ao longo dos anos.
1. Não seja um tolo
“É notável como muitas vantagens de longo prazo pessoas como nós obtiveram ao tentarmos ser consistentemente menos estúpidos, ao invés de tentar ser muito inteligentes” – Charlie Munger
A primeira lição que Green compartilha é influenciada por Charlie Munger, que enfatiza que, embora não seja possível prever o futuro, é viável evitar erros evidentes. Em vez de tentar adivinhar os direcionamentos da economia, da política ou do comportamento dos mercados, os grandes investidores focam na prevenção de erros recorrentes, como o excesso de alavancagem, dívidas impagáveis e a tendência de gastar mais do que se pode permitir. Munger, em vários de seus ensinamentos, aconselha a “inverter sempre”: antes de tomar uma decisão, questione-se sobre qual seria a escolha mais imprudente e evite essa opção.
2. A simplicidade é a sofisticação máxima
“Descubra quanto algo vale e pague muito menos” – Joel Greenblatt
Os investidores de maior sucesso são aqueles que conseguem simplificar processos complexos. Um professor de economia sintetizou décadas de estudos para Green em uma frase fundamental: “Descubra quanto algo vale e pague menos por isso”. Howard Marks frequentemente reafirma que o verdadeiro risco reside em pagar preços elevados por ativos.
Will Danoff, da Fidelity, resume sua filosofia com a frase: “as ações seguem os lucros”. Investir em bons negócios, a preços justos, e mantê-los por longos períodos é mais eficaz do que tentar prever eventos imprevisíveis que possam impactar esses ativos.
3. A agregação de ganhos marginais
“Se você deseja o segredo para um grande sucesso, é simplesmente melhorar um pouco a cada dia… avançar continuamente é a chave” – Tom Gayner
O conceito de sucesso não se fundamenta em um grande salto, mas na soma de pequenas melhorias consistentes ao longo do tempo. Green relata que Tom Gayner, gestor da Markel, estabeleceu uma meta modesta de perder apenas um quilo por ano ao longo de uma década. Esta meta, embora simples, se tornou uma metáfora poderosa para ilustrar o efeito dos juros compostos.
Assim, a Markel aumentou seu patrimônio de 40 milhões de dólares para mais de 20 bilhões de dólares ao longo de várias décadas, com um retorno médio de 15% ao ano. Pequenas vantagens acumuladas, seja em investimentos ou hábitos pessoais, contribuem para transformações significativas no longo prazo.
4. Além da riqueza
“Com quem você passa seu tempo é provavelmente a coisa mais importante na vida” – Ed Thorp
Aliás, mesmo entre os bilionários, a lição mais relevante transcende o dinheiro e se concentra nas relações interpessoais. Ed Thorp, um dos pioneiros na gestão de hedge funds, resumiu da seguinte maneira: “Quem você escolhe para passar seu tempo é provavelmente a coisa mais importante na vida”. Charlie Munger reforça essa ideia ao afirmar: “Se você quer bons parceiros, seja um bom parceiro. Se você deseja bons amigos, seja um bom amigo”.
Após 30 anos de estudos sobre os grandes nomes das finanças, William Green chegou à conclusão de que o verdadeiro foco deve ser o cultivo de amizades, laços familiares e parcerias sólidas, considerando esses aspectos como o maior legado que se pode deixar. Ele conclui que “o dinheiro proporciona independência, permitindo viver de acordo com quem você realmente é. No entanto, não deve haver concentração excessiva na busca por ganhos financeiros”.