A trajetória de como Gandhi conquistou o mundo, mas não convenceu Oslo.

A trajetória de como Gandhi conquistou o mundo, mas não convenceu Oslo.

by Ricardo Almeida
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Nobel da Paz e a ausência de Gandhi

Nenhum outro nome é lembrado com tanta frequência entre os esquecidos do Nobel da Paz quanto o de Mahatma Gandhi. Líder do movimento pela independência da Índia e um símbolo mundial da resistência não violenta, Gandhi foi indicado ao prêmio em cinco ocasiões: 1937, 1938, 1939, 1947 e 1948. Contudo, ele nunca foi laureado.

Indicações e a resistência do comitê

Conforme registros da Fundação Nobel, as indicações foram feitas por diversas figuras influentes, incluindo diplomatas noruegueses, acadêmicos e pacifistas europeus que viam em Gandhi a personificação dos ideais de Alfred Nobel. No entanto, o comitê hesitou em todas as ocasiões e optou por homenagear outras personalidades.

Um pacifista fora do padrão

Um dos fatores que explicam essa situação está diretamente relacionado ao perfil do prêmio naquela época. Até meados do século 20, o Nobel da Paz frequentemente era concedido a líderes ocidentais ou a instituições ligadas à diplomacia da Europa e dos Estados Unidos.

Gandhi não se encaixava nesse modelo tradicional: não era chefe de Estado, não ocupava cargos diplomáticos nem liderava exércitos ou ministérios. O título de “Mahatma”, que significa “grande alma” em sânscrito, era um reconhecimento espiritual, mas não político.

Adotando o princípio do ahimsa — que defende a não-violência ativa —, Gandhi transformou o protesto em um gesto moral e a desobediência civil em uma ferramenta política. Marchas, jejuns e boicotes tornaram-se armas principais de uma nova forma de resistência: usar a força da paz diante da opressão.

Apesar disso, o comitê norueguês mostrava dificuldade em encaixar o líder indiano dentro dos critérios tradicionais do prêmio.

O fator político

Além disso, havia pressões e receios diplomáticos que influenciavam as decisões. No contexto da era colonial, premiar um líder que desafiava o Império Britânico poderia ser interpretado como um ato político carregado de significado. Esta circunstância dificultava o reconhecimento do trabalho de Gandhi.

Documentos do comitê indicam que um dos membros afirmou em 1937 que Gandhi estava “demasiado envolvido em questões políticas e conflitos nacionais para representar a paz mundial”. Essa avaliação revelava um desconforto em reconhecer um pacifista que também era uma figura emblemática de uma luta anticolonial.

A partição e o impasse

Com a partição da Índia em 1947, que resultou na criação do Paquistão, o nome de Gandhi voltou a ser considerado com força. Contudo, o contexto era complicado: enquanto ele pregava a reconciliação, confrontos entre hindus e muçulmanos causavam milhares de mortes.

Alguns membros do comitê consideraram incoerente conceder um prêmio a um pacifista no meio de tanta violência. Ademais, mesmo que Gandhi condenasse os ataques, seu movimento estava vinculado a episódios de agressão, como o ocorrido em Chauri Chaura em 1922, o que foi utilizado como argumento para descartar sua candidatura.

Esse impasse se estendeu até 1948. Entretanto, antes que qualquer decisão fosse tomada, Gandhi foi assassinado em Nova Déli no dia 30 de janeiro daquele ano.

O prêmio que ficou sem dono

Meses após sua morte, o Comitê Norueguês do Nobel se reuniu novamente e, pela primeira vez, considerou a possibilidade de conceder o prêmio postumamente. Contudo, a falta de definição sobre quem receberia o valor — já que Gandhi não deixou um testamento nem uma fundação — dificultou a escolha.

Em novembro de 1948, foi anunciada a decisão de que o prêmio daquele ano não seria concedido a ninguém. O comunicado oficial afirmou, simplesmente, que “não havia um candidato vivo adequado”.

Na prática, essa decisão representou um reconhecimento implícito de erro. O comitê admitia a relevância de Gandhi, mas preferiu não alterar as regras para corrigir a omissão.

O arrependimento

Décadas depois, o caso passou a ser mencionado como uma das maiores falhas na história do Nobel da Paz. Em 2006, o secretário da Fundação Nobel, Geir Lundestad, declarou que o comitê “falhou com Gandhi”. Ele afirmou que, se fosse possível reescrever a história, Gandhi sem dúvida teria recebido o prêmio.

O reconhecimento tardio ocorreu de forma simbólica. Em 1989, ao entregar o Nobel da Paz ao Dalai Lama, o presidente do comitê mencionou que a homenagem também era, em parte, um tributo à memória de Gandhi — um homem que nunca recebeu o prêmio, mas que redefiniu o conceito de paz no século 20.

Recentemente, o Nobel da Paz 2025 foi concedido a María Corina Machado, uma líder da oposição na Venezuela. O comunicado do Comitê a descreve como uma figura unificadora em um cenário político anteriormente fragmentado, capaz de reunir grupos rivais em torno da defesa de eleições livres e da restauração do Estado de Direito.

Fonte: www.moneytimes.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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