Entrevista com Jorge Viana sobre o Tarifaço dos Estados Unidos
Em uma entrevista exclusiva à TV Brasil, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana, enfatizou o compromisso do governo federal em apoiar as empresas brasileiras afetadas pela recente política tarifária dos Estados Unidos e trabalhar para a revogação ou mitigação dessas tarifas.
Viana destacou a liberação de R$ 30 bilhões do Plano Brasil Soberano destinados às empresas impactadas e a inauguração de um novo escritório da Apex em Washington, D.C.
“São R$ 30 bilhões que criam um ambiente de seguro, de empréstimo, de diminuição de carga tributária, exclusivamente para empresas que foram atingidas pelo tarifaço. Também estamos expandindo nossa presença, com o escritório saindo de Miami para Washington; já temos escritórios em Nova York e São Francisco”, afirmou nessa sexta-feira (15).
Parcerias com a Câmara Americana de Comércio
Viana revelou que o governo brasileiro já estabeleceu colaborações com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) e com setores que importam produtos brasileiros, com o intuito de pressionar as autoridades dos Estados Unidos a reduzirem a lista de produtos afetados pelo tarifaço.
Durante a entrevista, o presidente da Apex destacou a importância dessas parcerias, afirmando que “devemos nos unir a esses setores que podem influenciar a Casa Branca para que consigamos excluir mais itens dessa lista de tarifas.”
A Soberania do Brasil em Jogo
Para Viana, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos não tem origem em fatores comerciais, sendo um reflexo de questões políticas que ferem a soberania do Brasil.
“Não há como caracterizar isso como uma questão comercial, pois as exigências do presidente dos Estados Unidos interferem na autonomia do Brasil. Ele está tentando influenciar a atuação do Judiciário brasileiro, o que é inaceitável. Se fosse uma questão meramente comercial, já teria sido resolvida”, ressaltou.
Viana classificou a relação comercial do Brasil com os Estados Unidos como “extraordinária” e “benéfica”, corroborando a necessidade de se aproximar dos importadores estadunidenses que lucram com os produtos nacionais. Ele mencionou especificamente produtos como café e carne, que estão em alta demanda devido às dificuldades de produção dos Estados Unidos.
“Não pretendemos desistir desse comércio. Para garantir a continuidade, precisamos conquistar o apoio dos importadores que se beneficiam dos produtos brasileiros. Isso é válido para o café e também para carnes, cujo preço está subindo nos EUA devido à diminuição do rebanho americano”, explicou Viana.
Busca por Novos Mercados
O presidente da Apex afirmou que uma segunda estratégia será a de explorar novos países compradores para os produtos brasileiros, destacando que a agência já mapeou diversas oportunidades.
“Existem mercados potenciais para produtos que vão do café ao calçado. Já analisamos mais de 108 mercados, e identificamos 72 países que podem absorver novas importações”, comentou Viana.
Viana afirmou que esses novos mercados são significativamente relevantes para substituir as exportações que estão sendo afetadas pelo tarifaço americano.
“Acreditamos que, através de participação em feiras e eventos, além de trazer compradores para o Brasil, conseguiremos encontrar compradores interessados em uma parte dos 18 bilhões de dólares que exportamos aos EUA, quantia que está sob risco devido ao tarifaço”, afirmou.
Oportunidades em Meio à Crise
Viana acredita que o Brasil está preparado para enfrentar essa crise e pode extrair novas oportunidades, mesmo diante do entrave com os Estados Unidos.
“Estamos em uma posição forte para superar essa crise. Em um cenário de guerra comercial, que parece ser o que está acontecendo, todos saem perdendo. Contudo, muitas vezes quem provoca a guerra sofre mais perdas”, enfatizou.
Ele também ressaltou a importância de estabelecer novas relações comerciais, destacando que o Brasil possui uma boa relação com países como Índia, China e Rússia, além de manter um canal aberto com os Estados Unidos.
“É fundamental lembrar que todos os países saem perdendo em uma guerra comercial, mas quem se prepara melhor para aproveitar as oportunidades pode sair fortalecido dessa situação”, completou.
Dados sobre Exportações
Informações da Apex Brasil indicam que, entre janeiro e março deste ano, o Brasil exportou US$ 77,3 bilhões em bens, que representa uma leve queda em comparação aos US$ 77,7 bilhões do mesmo período em 2024. O saldo comercial, no entanto, foi positivo, totalizando US$ 10 bilhões.
Os principais produtos exportados durante esse período foram petróleo bruto, soja, minério de ferro e café verde, com uma menção especial às exportações de bens industrializados, que apresentaram crescimento, incluindo máquinas e aparelhos elétricos.
Entre os destinos das exportações brasileiras, destacaram-se os seguintes países: China (US$ 19,8 bilhões), União Europeia (US$ 11,1 bilhões), Estados Unidos (US$ 9,7 bilhões) e Mercosul (US$ 5,8 bilhões), sendo a Argentina um destaque com um aumento de 51% nas importações brasileiras.