Queda das Ações da Raízen
As ações da Raízen (RAIZ4) apresentaram uma queda significativa nesta terça-feira (19), reflexo do anúncio de que a Petrobras (PETR4) não está considerando um investimento na empresa. No fechamento do mercado, as ações da Raízen tiveram uma desvalorização de 9,57%, sendo negociadas a R$ 1,04.
Rumores sobre Investimento em Etanol de Milho
O termo "amargaram" no contexto da queda das ações possui um significado duplo. Existem rumores de que a Petrobras está considerando investimentos, porém voltados para o etanol de milho, ao invés do etanol de cana-de-açúcar. Fatores que podem favorecer o etanol de milho incluem a redução nos custos de produção devido à expansão dos cultivos e o crescimento expressivo do segmento, que superou 30% no último ano.
Marcos Jank, professor de agronegócio do Insper, afirmou que a produção de etanol de milho aumentou em dois bilhões de litros por ano nos últimos quatro anos, consolidando-se como o principal tipo de etanol. Ele também destacou que a maior aceitação do milho deve-se às dificuldades que a cana-de-açúcar enfrenta em mecanização, com a produtividade da cana não acompanhando o crescimento do milho.
Desafios da Cana-de-Açúcar
A cana-de-açúcar enfrentou nos últimos anos desafios climáticos que impactaram a produtividade do setor, incluindo a queda nos "Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por hectare". A quantidade de açúcar e etanol extraídos é fortemente influenciada por fatores climáticos. Jank observou que o milho possui um crescimento mais satisfatório e requer um investimento muito menor.
Juros e Impactos no Modelo de Negócio da Raízen
Guilherme Grahl, especialista em agronegócio da Valora, indicou que as altas taxas de juros têm sido um obstáculo para o crescimento da cana-de-açúcar, considerando que a cultura requer investimentos a longo prazo. Ele pontuou que a dinâmica da safra de milho é mais simples em termos de investimento, enquanto na cana, os retornos ocorrem entre quatro a cinco anos após os aportes.
Barreiras para a Produção de Cana
Os especialistas comentaram que a menor barreira de entrada também facilita a aquisição de milho de terceiros. Os produtores de etanol de milho podem não precisar cultivar a commodity, ao contrário do que geralmente acontece nas usinas de cana, como a Raízen. Grahl elucidou que a quantidade necessária de área para produzir cana é significativa, enquanto os produtores de milho podem alternar cultivos com soja.
Outro aspecto importante é que as últimas safras de milho no Brasil têm atingido recordes, o que resulta em custos de produção mais baixos. Jank informou que os produtores de etanol de milho compram a commodity no momento da colheita, quando os preços estão em queda.
Subprodutos do Etanol de Milho
Um dos diferenciais do etanol de milho em comparação ao etanol de cana é a geração de subprodutos que beneficiam outras cadeias do agronegócio. O principal subproduto é o DDG, um farelo altamente proteico usado na ração animal. A produção desse farelo está crescendo especialmente em regiões como Mato Grosso e Goiás.
Além disso, fontes relataram que a Petrobras demonstrou interesse no aumento da produção em regiões do Norte e Nordeste, que são deficientes em biocombustíveis. Essas áreas estão vendo um aumento significativo na produção de milho, especialmente no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), enquanto a produção da Raízen permanece concentrada nos estados do Sudeste.