Demanda por Energia
A Eletrobras (ELET3) tem observado um aumento na demanda por energia elétrica entre empresas de médio e pequeno porte. A companhia vê uma oportunidade para captar novos clientes que migraram para o mercado livre nos últimos anos e agora estão com seus primeiros contratos se aproximando do término, conforme afirmou à Reuters o diretor de comercialização, Ítalo de Freitas.
Foco nas Vendas e Energia Convencional
Em entrevista, o executivo destacou que a empresa está empenhada em ampliar as vendas de sua energia, que é majoritariamente gerada por hidrelétricas. Ele apontou que o mercado tem demonstrado maior interesse por energia “convencional”, em meio a possíveis alterações regulatórias relacionadas a projetos de geração de energia eólica e solar.
Freitas comentou: “Hoje, quem compra energia de renovável (solar e eólica) está entrando em grande risco. Isso é fato”. A Eletrobras, a maior geradora de energia do Brasil, possui 44 gigawatts (GW) de capacidade instalada e a comercialização de energia se tornou um dos seus principais negócios.
Privatização e Descotização
Essa área de comercialização ganhou importância após a privatização da Eletrobras, ocorrida em 2022. Nesse ano, foi iniciado um cronograma de “descotização”, que liberou uma quantidade significativa de energia de seu portfólio, que antes estava vinculada ao regime regulado de cotas, para venda no mercado livre. Essa mudança permite que a empresa aproveite os preços mais elevados.
Freitas acredita que os preços de energia devem se manter mais sustentados no futuro, devido a fatores estruturais, como a maior aversão ao risco no modelo de formação de preços de energia e o aumento da geração distribuída solar, que exige mais potência do sistema elétrico.
Estratégia de Comercialização e Demanda
Como parte de sua estratégia de comercialização, a Eletrobras decidiu concentrar suas vendas no primeiro trimestre do ano, deixando um volume maior descontratado para o restante do período. Essa decisão foi baseada na previsão de aumento nos preços, uma aposta que se mostrou correta, segundo execuções da empresa. A companhia não detalha sua estratégia, considerando-a sensível do ponto de vista comercial.
Freitas destacou que a maior demanda por energia está vindo de clientes de médio e pequeno porte que estão sendo atraídos para o mercado livre em busca de condições de preços mais vantajosas, em comparação ao mercado regulado, que está com tarifas e encargos cada vez mais altos. Ele mencionou a existência de oportunidades para a Eletrobras relacionadas à renovação contratual de clientes menores que migraram para esse mercado há três ou quatro anos.
Problemas no Segmento de Comercialização
Freitas avaliou que os desafios enfrentados no setor de comercialização de energia nos últimos anos, como a falência de empresas independentes, podem favorecer companhias mais fortes, como a Eletrobras. Ele disse que a primeira onda de migração para o mercado livre entre esses menores enfrentou diversos problemas devido à atuação de gestoras e comercializadoras que acabaram quebrando.
Freitas também ressaltou que a Eletrobras segue apostando em parcerias estratégicas, como as já estabelecidas com a TIM e o Banco do Brasil, para aumentar a capilaridade nas vendas de energia para clientes menores, além de promover a digitalização de seus sistemas.
Energia Convencional e Incentivos
Freitas identificou um movimento de contratação, por parte dos clientes, de energia gerada por hidrelétricas, classificada como “energia convencional”. Isso ocorre em meio às incertezas sobre novos projetos de geração eólica e solar após medidas provisórias publicadas pelo governo neste ano.
Entre as mudanças propostas, que ainda aguardam avaliação do Legislativo, estão regras mais rigorosas para autoprodução de energia e o fim de descontos no consumo para a aquisição de energia “incentivada”, como eólica, solar e biomassa.
Freitas comentou: “Obviamente que não sabemos o que será aprovado, mas quem está investindo em renováveis, seja por autoprodução com eólica ou solar, ou por meio de um PPA (contrato de compra e venda), está assumindo um grande risco”.
Ele acrescentou que, em sua opinião, atualmente é mais vantajoso comprar energia convencional. As mudanças que impactam as energias renováveis foram propostas na medida provisória 1.300, publicada em maio, que ainda não teve a formação de uma comissão mista para sua análise. O texto corre o risco de perder validade se não for apreciado até o meio de setembro.