Patrimônio Líquido dos FIDCs Atinge Recorde
Em julho de 2025, o patrimônio líquido dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) alcançou um novo marco, totalizando R$ 794,5 bilhões, conforme informações da Comdinheiro/Nelógica. Essa crescente demanda por esse tipo de financiamento também foi evidenciada nos balanços do segundo trimestre de 2025 (2T25).
Crescimento Histórico
Em 2019, os FIDCs possuíam um patrimônio de pouco mais de R$ 168 bilhões. Desde então, esse valor quase quintuplicou. Além disso, o aumento no número de CNPJs de fundos passou de 1.180 para 5.901.
Fatores que Contribuem para o Aumento
Especialistas apontam vários fatores que impulsionam essa alta. Entre os principais estão a crescente busca das empresas por auxílio na gestão do caixa, especialmente em um contexto de juros elevados, o cenário de desbancarização acelerado após o incidente com a Americanas, as vantagens tributárias e as mudanças na regulação.
Companhias listadas na bolsa de diferentes setores apresentaram em seus balanços sinais de aumento na busca por antecipação de recebíveis, embora esses dados não sejam totalmente divulgados.
Exemplos de Antecipação de Recebíveis
A CVC (CVCB3) reportou uma dívida de R$ 1,05 bilhão em antecipações, um aumento em relação aos R$ 778 milhões do ano anterior. Já o Grupo Casas Bahia (BHIA3) registrou gastos de R$ 520 milhões com operações de recebíveis no primeiro semestre de 2025, comparado a R$ 333 milhões no mesmo período do ano passado. O Assaí (ASAI3) teve um custo de R$ 92 milhões com antecipação de recebíveis, contra R$ 65 milhões um ano antes.
Maior Procura por Antecipação de Recebíveis
Fernando Marinari, CEO da CashForce, comenta que, embora a antecipação de recebíveis não ofereça juros significativamente mais baixos do que outras opções de financiamento, ela se mostra uma alternativa atrativa em tempos de incerteza. Ele explica que os bancos estão apertando os créditos de longo prazo, fazendo das operações de risco sacado uma boa opção.
Impacto da Fraude da Americanas
Segundo Marinari, a indústria enfrentou um crescimento substancial desde a fraude da Americanas. O impacto desse evento fez com que muitas empresas, antes dependentes de linhas de crédito tradicionais, passassem a estruturar suas próprias operações.
Adriano Joaquim, CEO da Cartular, vê outros fatores que beneficiam o mercado de FIDCs, especialmente em relação à liquidez. Ele ressalta que a evolução do mercado é resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo de quase uma década pelos órgãos reguladores, como o Banco Central, o Conselho Monetário Nacional e a CVM.
Melhoria da Segurança Jurídica
Joaquim destaca que desde 2016, com a criação das registradoras de ativos financeiros, a segurança jurídica do mercado foi ampliada, prevenindo a venda dupla de títulos. A digitalização dos ativos também reduziu riscos e custos de transação, aumentando a confiança dos investidores.
Empresas Estruturam Seus Próprios FIDCs
Algumas grandes empresas começaram a criar fundos próprios para antecipar seus recebíveis. Esse movimento transforma receitas operacionais em despesas financeiras, gerando benefícios tributários, uma vez que os fundos são isentos de tributos sobre operações de varejo.
Flexibilidade e Rapidez nas Operações
Joaquim ressalta que os FIDCs proporcionam maior flexibilidade para absorver ativos de forma ágil, seguindo normas específicas da CVM. Ele menciona que as indústrias podem operar com diferentes tipos de ativos, tornando rápida a estruturação de operações de crédito via FIDC.
Mudanças na Resolução 175 da CVM também contribuíram para essa evolução, permitindo que investidores de varejo participem dos fundos, embora com algumas restrições.
Ganhos de Liquidez no Mercado
O aumento da liquidez no mercado, com a entrada de novos recursos, torna o setor de FIDCs cada vez mais atrativo. Marinari destaca que esse movimento de "fintequizar" os negócios começa pelo risco sacado, que é uma opção mais acessível e menos arriscada.
Joaquim ressalta que essa transformação não é apenas temporária, mas sim uma mudança paradigmática. Ele menciona que o mercado ainda está em fase de aprendizado sobre diversos ativos.
Futuro dos FIDCs
Joaquim prevê que, em breve, os FIDCs estarão estruturando fundos focados exclusivamente em recebíveis de cartão, um setor que pode movimentar trilhões de reais e proporcionar crédito a micro e pequenas empresas.