Raízen registra alta significativa após anúncio de venda de usinas
A Raízen (RAIZ4) apresentou uma forte valorização nesta sexta-feira (29), marcando sua segunda alta consecutiva, após o anúncio da venda de duas usinas, resultando em um levantamento de R$ 1,3 bilhão. Às 11h30, as ações subiam 5,50%, sendo negociadas a R$ 1,15.
A empresa do setor sucroalcooleiro já havia experimentado uma alta expressiva no dia anterior, de quase 3%, em resposta a uma grande operação que associou o crime organizado, especificamente o Primeiro Comando da Capital (PCC), a empresas do ramo de combustíveis.
Venda de usinas no Mato Grosso do Sul
A Raízen divulgou hoje que formalizou um acordo para a venda de duas usinas, denominadas Rio Brilhante e Passatempo, ambas localizadas no estado de Mato Grosso do Sul, com uma capacidade instalada de moagem de 6 milhões de toneladas. A transação inclui também canaviais próprios da companhia e contratos com fornecedores associados. Além do montante de R$ 1,3 bilhão, a Raízen destacou uma economia de R$ 218 milhões relacionada ao Capex de manutenção durante a entressafra.
A venda das usinas foi bem recebida pelo mercado, especialmente em um momento em que a alavancagem da empresa criou preocupações. Contudo, a XP avalia que o impacto da venda é insuficiente para mudar a realidade da companhia. De acordo com a corretora, o desinvestimento resulta em um recuo de apenas 0,1x no múltiplo – que foi de 4,5x no último trimestre.
“Mesmo desconsiderando a queda do Ebitda proveniente da venda dos ativos, o impacto em nossa estimativa de alavancagem até o final do ano é irrelevante”, afirmam os analistas da XP, liderados por Leonardo Alencar. A XP também observa que a venda foi realizada a um múltiplo considerado baixo, de US$ 40,8 ou US$ 47,5 ao se levar em conta a redução do Capex. Para a corretora, esses múltiplos indicam baixa demanda de mercado pelos ativos de açúcar e etanol da empresa, sugerindo que possíveis desinvestimentos futuros poderão ocorrer a múltiplos ainda menores.
Operação “Carbono Zero” e desarticulação do PCC
A alta das ações da Raízen e de outras empresas do setor foi impulsionada pela operação “Carbono Zero”, realizada no dia anterior. A investigação revelou a conexão do PCC com mais de 1.000 postos de gasolina, nove usinas sucroalcooleiras e uma distribuidora com mais de 1.600 caminhões.
“As autoridades parecem estar resolvendo a situação problemática. A magnitude da operação sugere que pode haver uma interrupção significativa nas atividades de sonegação e adulteração”, afirmam analistas do BTG Pactual, sob coordenação de Thiago Duarte, em relatório. O banco destacou que as usinas envolvidas na operação têm uma capacidade de moagem de cerca de 16 milhões de toneladas de cana por ano, o que representa aproximadamente 2,5% do total processado na região Centro-Sul do Brasil.
“O impacto sobre a oferta de açúcar e etanol no país, assim como sobre a concorrência com outras usinas, dependerá, em última análise, de como essa operação influenciará a capacidade dessas unidades de manter as atividades de moagem”, observou a equipe do BTG.
O banco acredita que as operações podem prejudicar a capacidade das usinas de continuar o ritmo de processamento, especialmente considerando que a região Centro-Sul atualmente está em plena safra de cana-de-açúcar. “Nos últimos anos, atividades ilegais no setor sucroenergético levantaram suspeitas de que crimes estão afetando a indústria”, aponta o BTG, mencionando incêndios criminosos e adulteração de cargas. “A escala da operação realizada recentemente reacendeu esperanças de que esses problemas serão enfrentados no futuro. Mantemos uma perspectiva positiva para o setor”, conclui a equipe.