A ação despenca 38% nesta sexta-feira.

A ação despenca 38% nesta sexta-feira.

by Ricardo Almeida
0 comentários

Queda nos Ativos da Ambipar

A Ambipar (AMBP3) registrou uma queda significativa em suas ações na última sexta-feira (3), refletindo a crise que a empresa vem enfrentando após a saída de diretores e o pedido de proteção contra credores realizado na semana passada.

Por volta das 11h50, as ações estavam recuando 38%, sendo cotadas a R$ 1,63. Na sessão anterior, a ação já havia enfrentado uma queda de 60%. Somente no acumulado de 2025, a companhia apresenta uma diminuição de 86% em seu valor.

Problemas no Caixa

A crise se agravou após a divulgação de reportagens pelo Broadcast, do Estado de S. Paulo, e pelo Valor Pipeline, que levantaram questionamentos sobre a saúde financeira da empresa. De acordo com informações do Broadcast, credores estão tentando localizar os recursos da companhia. Fontes internas relataram que, a partir da semana passada, apenas US$ 80 milhões, equivalentes a cerca de R$ 400 milhões, foram efetivamente rastreados.

Um analista consultado pelo veículo destacou a contradição da Ambipar ao alegar falta de recursos financeiros para honrar seus compromissos, mesmo após reportar bilhões em seu balanço financeiro. O Pipeline apurou que um FIDC, indicado como parte do caixa da empresa, realizou movimentações recentes, incluindo uma captação de R$ 1,2 bilhão e o aumento das provisões contra calotes.

Credores e gestores questionam se esses valores poderiam ser considerados como caixa, uma vez que são relacionados a créditos com fornecedores, e não a recursos líquidos disponíveis. Um gestor ouvido alertou que, se a situação se confirmou em que o caixa caiu de R$ 4 bilhões para valores entre R$ 600 milhões e R$ 1,8 bilhão, isso poderia desencadear a ativação de covenants e resultar em uma disputa judicial significativa, possivelmente levando à recuperação judicial.

Uma alternativa viável seria a recuperação extrajudicial, procedimento considerado mais ágil.

Deutsche Bank em Foco

O Pipeline também revelou documentos nos quais o Deutsche Bank apresentou sua versão sobre o contrato que levou a Ambipar a solicitar proteção judicial. Segundo o banco, a solicitação de depósito de margem foi feita em decorrência da valorização do real em relação ao dólar, um procedimento comum em operações de hedge.

A instituição financeira ressaltou que essa exigência não deveria representar um risco para a Ambipar, já que a empresa reportou R$ 4,7 bilhões disponíveis em caixa. Na nova petição, o Deutsche Bank requer autorização judicial para o vencimento antecipado das operações de derivativos, afirmando que a narrativa apresentada na petição inicial não corresponde à realidade dos fatos. Segundo o banco, a crise enfrentada pelo Grupo Ambipar está desacoplada das operações de derivativos realizadas com o Deutsche Bank.

Posicionamento da Ambipar

A Ambipar, por sua vez, acusou o Deutsche Bank de exigir garantias adicionais de forma irregular em contratos financeiros estabelecidos no exterior. Em um documento apresentado na petição, a empresa indicou ter firmado, em setembro de 2025, um empréstimo de US$ 35 milhões e três operações de swap ligadas a títulos verdes emitidos por sua subsidiária Ambipar Lux.

A companhia alega que a instituição financeira estaria solicitando aportes não apenas em razão das variações negativas nos swaps, mas também pela desvalorização futura de PIK Bonds que ainda não foram entregues. O cumprimento de tal demanda já teria forçado a Ambipar a desembolsar mais de R$ 200 milhões em um curto período de tempo.

A amplitude desse cross-default apresenta um rombo financeiro que pode ultrapassar R$ 10 bilhões, se todas as operações com as instituições financeiras forem consideradas, especialmente em um futuro pedido de recuperação judicial. Além disso, a companhia acusa alguns bancos de poderem reter recursos diretamente de suas contas e investimentos sem necessitar de autorização judicial, o que poderia inviabilizar totalmente suas atividades.

Discussões sobre Venda de Ativos

Quando questionado sobre a possibilidade de vender ativos, um gestor sugeriu que seria mais vantajoso usá-los como garantia. Segundo o gestor, permitir que o assessor dos credores trabalhe nessa negociação seria mais prudente, uma vez que a venda imediata poderia desvalorizar consideravelmente a empresa no mercado, pois a percepção é que a companhia está necessitando urgentemente de capital.

Ao final do segundo trimestre, a Ambipar enfrentava um endividamento líquido de quase R$ 6 bilhões, com projeção de que a relação dívida líquida/Ebitda alcançasse um patamar de 3,2 vezes para 2025, conforme cálculos do UBS BB.

Alavancagem e Governança sob Pressão

A alavancagem tem sido um ponto de preocupação crescente. Desde a sua estreia no mercado acionário em 2020, a Ambipar adquiriu mais de 70 empresas, mas a integração dessas unidades de negócio tem avançado de forma lenta e a geração de caixa se mostrou insuficiente.

Na última segunda-feira, a companhia comunicou a contratação da BR Partners (BRBI11) para assessorar suas operações durante a crise atual. Fontes indicam que ainda há um espaço para que negociações amigáveis com os credores sejam realizadas, possivelmente evitando a recuperação judicial.

Um gestor consultado afirmou que a Ambipar foi construída sob uma premissa promissora de ser uma companhia global conectada a ideias relacionadas a ESG. No entanto, a execução da estratégia esbarrou em múltiplas aquisições, alto nível de endividamento e falhas em sua governança.

Embora o mercado inicialmente tenha adotado uma postura otimista em relação à tese do ESG e do crescimento da empresa, essa confiança se dissipou ao reconhecer os riscos envolvidos e as falhas de governança. Os controladores da Ambipar foram vistos como centralizadores e pouco empáticos com os investidores, levando ao colapso dos pilares fundamentais que sustentavam a tese — governança, operações e saúde financeira.

Lições do Caso Ambipar

O analista Ruy Hungria, da Empiricus, caracteriza a Ambipar como um exemplo clássico de descolamento entre o preço das ações e os fundamentos da empresa. Segundo ele, as ações chegaram a valorizar mais de 400%, mesmo quando os lucros apresentaram uma queda acentuada. Mesmo na ausência de uma narrativa inovadora como inteligência artificial ou novas tecnologias, os papéis negociaram por um período consistente de 2024 e 2025 acima de 100 vezes os lucros, fato que levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir uma investigação.

Hungria conclui que é lamentável que investidores tenham perdido capital em AMBP3, mas este episódio destaca a necessidade de que preço e fundamentos não permaneçam desconectados indefinidamente.

Fonte: www.moneytimes.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

Você pode se interessar

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência de navegação, personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Ao continuar navegando em nosso site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Você pode alterar suas preferências a qualquer momento nas configurações do seu navegador. Aceitar Leia Mais

Privacy & Cookies Policy