História da Vinícola Castello di Fonterutoli
No centro da Toscana, na Itália, localiza-se a vinícola Castello di Fonterutoli, em Castellina in Chianti. Esta vinícola é a sede histórica da família Mazzei, que tem uma tradição de quase 600 anos na produção do renomado Chianti Classico.
Há cerca de 20 anos, houve uma mudança significativa no processo de vinificação da propriedade, que incluiu a redução da produção de uvas por planta — passando de 5 quilos para apenas 1 quilo. Essa prática elevada em muito a qualidade dos vinhos, proporcionando uma concentração maior de sabor, estrutura e equilíbrio por videira.
Anteriormente, o processo de vinificação não considerava os aromas, focando apenas na extração do máximo de suco possível a partir das uvas. Com o passar do tempo, os viticultores perceberam que a parte mais importante e delicada da uva Sangiovese era a casca, o que garante a produção de um vinho mais refinado. A Sangiovese é a principal variedade utilizada no Chianti Classico, embora a vinícola também cultive Cabernet e Merlot, que são utilizados em cortes específicos.
Inovações na Adega e Estrutura do Negócio
O segundo passo na evolução da vinícola foi a construção de uma nova adega, situada a 15 metros abaixo da superfície de uma colina. Durante a construção, foram descobertas cinco nascentes de água, que na época eram consideradas um obstáculo. No entanto, essas fontes de água passaram a ser utilizadas para manter a umidade do local e a estabilidade da maturação do vinho.
A adega subterrânea, esculpida pela ação da água ao longo do tempo, assemelha-se a uma caverna. “Com a construção da nova adega, realizada há 20 anos e projetada em três níveis subterrâneos, o objetivo foi simplificar o processo. Decidimos aproveitar a gravidade como um elemento natural, evitando métodos mecânicos. Isso permite maior delicadeza no manuseio das uvas e preserva a integridade dos frutos”, afirmou Jury Maccianti, embaixador da marca Castello di Fonterutoli, em uma entrevista ao Money Times.
Maccianti explicou que, por séculos, a produção de vinho era tratada como um hobby pela família Mazzei, mas nos últimos 70 anos houve uma transformação, convertendo esse passatempo em um negócio estruturado. Essa mudança coincide com uma evolução dos hábitos de consumo no país.
“Até os anos 1970 e 1980, o vinho era fabricado em grande quantidade para o consumo diário, sem uma preocupação primária com a qualidade. A partir dessa época, a sociedade começou a consumir menos, mas buscando opções de vinhos de melhor qualidade. Essa mudança resultou na revalorização do Chianti Clássico, elevando-o a uma região de prestígio e qualidade”, acrescentou.
Produção de Vinho e Impactos Climáticos
Anualmente, a vinícola produz cerca de 700 mil garrafas de vinho, cultivadas em uma área de 110 hectares distribuídos em um raio de 20 quilômetros. No passado, a produção era de apenas 70 mil garrafas. Apesar do aumento na produção, o grupo mantém uma filosofia artesanal, com a fermentação de cada lote separadamente por hectare. Essa prática respeita as particularidades de cada terroir, garantindo a identidade única de cada vinho.
Devido ao método de fermentação separado, em safras excepcionais, é possível criar até cinco vinhos distintos a partir de um mesmo vinhedo. O vinho mais produzido na propriedade é o Chianti Clássico Fonterutoli, com 300 mil garrafas anualmente, enquanto a variante Riserva alcança a produção de 200 mil garrafas.
A vinícola opta por práticas sustentáveis e não utiliza defensivos agrícolas nem fertilizantes. “Se a qualidade da uva é boa, cerca de 70% do trabalho já foi realizado, o que reduz a necessidade de aditivos, como sulfato”, explicou Maccianti. Em 2022, uma seca severa resultou na perda de 30% da produção agrícola, pois a irrigação é proibida para este tipo de vinho. “Nos últimos quatro anos, o clima se tornou significativamente mais quente, e esse aumento de temperatura afeta o equilíbrio alcoólico dos vinhos”, disse.
A cada 40 anos, é necessário replantar as vinhas, e após o replantio, leva cerca de sete anos até que a planta produza uvas aptas para a produção. O ciclo anual da vinícola inclui períodos de repouso para as videiras durante o inverno, floração em março, crescimento de junho a agosto, maturação em agosto e colheita de setembro a outubro.
Distinções entre Chianti e Chianti Classico
O termo Chianti Classico refere-se à área histórica mais restrita entre Florença e Siena, enquanto Chianti abrange uma área mais ampla da Toscana, com regulamentos de produção diferentes. Até 1994, era proibido adicionar uvas Merlot ou Cabernet ao Sangiovese nos vinhos classificados como Chianti Classico. Mesmo percentagens pequenas de outras variedades resultavam na desclassificação do vinho da denominação DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida). Isso levou ao surgimento dos chamados Super Toscanos, vinhos de alta qualidade produzidos fora das regulamentações tradicionais, como no caso do Le Pergole Torte, feito 100% de Sangiovese.
Apenas em 1994 as normas foram alteradas, possibilitando uma flexibilidade que permitia entre 80% e 100% de Sangiovese, com até 20% de outras variedades, como Merlot, Cabernet, Malvasia Nera e Colorino. Contudo, a inclusão de uvas brancas continua sendo proibida. As regras reformuladas permitiram novas composições, introduzindo variedades internacionais, mantendo, porém, a predominância do Sangiovese. É importante destacar que, para o Chianti Classico, a exigência mínima é de 80% de Sangiovese, enquanto o Chianti admite percentuais menores, variando entre 70% e 75%.
“No que diz respeito ao Chianti Classico, as únicas exigências que precisamos respeitar são em relação à idade. O tempo mínimo é de um ano para o Chianti Classico, dois anos para a Riserva e três anos para a Gran Selezione, que é a categoria mais elevada do Chianti Classico, assemelhando-se ao Cru da França. Não há requisitos específicos sobre o tipo de madeira dos barris utilizados, mas preferimos barris médios ou grandes para o Sangiovese, pois valorizam o caráter singular do Chianti Classico”, concluiu Maccianti.