Ainda compensa poupar na caderneta? – Educação Financeira – As principais notícias do mercado financeiro

Ainda compensa poupar na caderneta? – Educação Financeira – As principais notícias do mercado financeiro

by Rafael Martins
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Com uma trajetória de 160 anos, a caderneta de poupança, que foi criada durante o reinado de Dom Pedro II, segue sendo o investimento mais tradicional e popular entre a população brasileira. Sua notoriedade se deve à sua simplicidade e ao fácil acesso, incluindo a possibilidade de ser utilizada por menores de idade.

No entanto, um número crescente de pessoas está optando por retirar seus recursos da poupança. Apenas no mês de setembro, os brasileiros realizaram saques que totalizaram mais de R$ 15 bilhões, conforme dados mais recentes publicados pelo Banco Central (BC). Essa tendência é, em parte, motivada pela rentabilidade da conta poupança.

Apesar disso, em um contexto de inadimplência recorde e baixo nível de educação financeira, onde 55% dos brasileiros afirmam saber pouco (40%) ou nada (15%) sobre o assunto, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o Dia Mundial da Poupança serve como um importante lembrete sobre a necessidade de adotar hábitos financeiros básicos, como reservar uma parte do rendimento para economias.

Poupança ainda vale a pena?

Ainda que a caderneta de poupança permaneça como a opção mais conhecida entre os brasileiros, os títulos públicos emitidos pelo governo se destacam por oferecer uma rentabilidade, segurança e flexibilidade superiores para aqueles que desejam começar a investir.

Quando a Selic, que é a taxa básica de juros, se encontra acima de 8,5% ao ano, a poupança segue gerando rendimento de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Assim, mesmo com a Selic mantida em um nível elevado — atualmente em 15% ao ano — o rendimento da caderneta permanece quase inalterado, girando em torno de 0,5% a 0,6% ao mês, sem acompanhar os benefícios decorrentes do aumento nas taxas de juros.

“Atualmente, a poupança rende cerca de 8,4% ao ano, enquanto alternativas igualmente seguras, como Tesouro Selic e Certificado de Depósito Bancário (CDB) com liquidez diária, apresentam rentabilidades entre 12% e 14% líquidos”, explica Fabricio Tonegutti, especialista em direito tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Um exemplo prático utilizando a Calculadora do Cidadão, disponível no site do Banco Central, mostra que uma aplicação de R$ 1.000,00 na caderneta de poupança resultaria em um rendimento de R$ 73,31 em um período de 12 meses, até esta quinta-feira (30). Por outro lado, o mesmo valor investido na Selic geraria R$ 136,71.

“A poupança nunca é uma opção vantajosa […] ela acompanha uma variação da taxa Selic, sendo que quando a Selic aumenta, a poupança também rende mais, mas sempre terá um retorno inferior ao que se pode obter com um Tesouro Selic”, ressalta Marília Fontes, co-fundadora da Nord Investimentos, em entrevista ao E-Investidor.

A especialista em renda fixa ainda destaca que, embora a caderneta seja garantida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura a devolução de até R$ 250 mil em caso de problemas com a instituição financeira, o Tesouro Selic também é protegido pelo governo, oferecendo similar segurança ao investidor.

Por sua vez, Tonegutti identifica três cenários em que a caderneta de poupança ainda pode ser uma opção: primeiro, para pequenos valores (abaixo de R$ 100); segundo, para aqueles que necessitam de liquidez imediata; e, principalmente, para quem começa a desenvolver o hábito de economizar. “Nesse caso, o valor é educativo — é mais valioso estabelecer a disciplina de guardar dinheiro mensalmente do que se preocupar com uma rentabilidade de 2% ou 3% a mais”, argumenta.

Quando é hora de migrar da poupança para outros investimentos?

De acordo com o especialista da FGV, a transição para outras opções de investimento deve ocorrer assim que o investidor acumular mais de R$ 1.000 e puder optar por liquidez de D+1, ou seja, ter o dinheiro disponível no dia seguinte. “Ou, ainda, quando perceber que está efetivamente deixando dinheiro parado ao manter quantias consideráveis na caderneta de poupança”, brinca Tonegutti.

Entre as alternativas acessíveis no mercado, destacam-se CDBs de instituições financeiras sólidas que oferecem liquidez diária, Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), além do amplamente adotado Tesouro Direto.

Como cultivar o hábito de poupar

Conforme orientações de especialistas, a prioridade deve ser a formação de uma reserva de emergência antes de se considerar outros tipos de investimentos. A recomendação é acumular o equivalente a pelo menos seis meses de gastos essenciais para aqueles com fonte de renda fixa, e de nove a doze meses para trabalhadores autônomos.

Tonegutti sugere diversas estratégias eficazes para auxiliar neste processo:

  • Regra 50-30-20: destinar 50% da renda para despesas essenciais, 30% para gastos variáveis e 20% para economias ou investimentos. Caso haja dívidas, esse percentual deve ser inicialmente utilizado para quitar os compromissos, começando pelas obrigações com juros mais altos;
  • Pague-se primeiro: programar uma transferência automática no dia do pagamento, alocando uma porcentagem fixa (iniciando com 5%) para uma conta de investimentos separada. Por exemplo, ao receber R$ 3.000, o investidor pode guardar R$ 150 mensais, totalizando R$ 1.800 em um ano apenas com disciplina;
  • Regra das 48 horas: para compras superiores a R$ 200, aguardar dois dias antes de decidir pela aquisição. Refletir sobre a real necessidade do item, se é possível pagá-lo sem comprometer o orçamento e se essa compra trará valor agregado à vida do consumidor.

O Dia Mundial da Poupança, portanto, se configura como um convite à reflexão: mais do que selecionar o investimento ideal, é fundamental cultivar o hábito de economizar. A educação financeira se apresenta como o ponto de partida para alcançar estabilidade, independência e liberdade de escolha nas finanças pessoais — seja por meio da caderneta de poupança, do Tesouro Direto ou de qualquer outro investimento que se adeque à situação de cada um.

Fonte: einvestidor.estadao.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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