Processo Judicial entre Amazon e a Comissão Federal de Comércio
Amazon e a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) estão envolvidos em um julgamento aguardado há muito tempo, que examina se a empresa enganou usuários ao fazê-los pagar por assinaturas do Prime.
Acusações da FTC
A ação judicial foi protocolada pela FTC em junho de 2023, durante a administração Biden. O processo alega que a Amazon iludiu dezenas de milhões de clientes a se inscreverem no programa de assinatura Prime e dificultou suas tentativas de cancelamento. A Amazon nega qualquer prática inadequada.
Detalhes do Julgamento
O julgamento ocorre em um tribunal federal em Seattle, cidade que abriga a sede da Amazon. A seleção do júri teve início na segunda-feira, e os argumentos iniciais estão programados para a terça-feira, com uma previsão de duração de aproximadamente um mês.
Programa Prime da Amazon
Lançado em 2005, o programa Prime da Amazon se tornou um dos serviços de assinatura mais populares do mundo, com mais de 200 milhões de membros em todo o planeta. O programa gerou bilhões de dólares para a empresa. A assinatura custa US$ 139 por ano e oferece vantagens como frete grátis e acesso a conteúdo em streaming. Dados indicam que membros do Prime gastam mais e realizam compras com maior frequência do que não membros.
Jeff Bezos, fundador e presidente executivo da Amazon, destacou a intenção da empresa em fazer do Prime um programa "tão valioso que seria irresponsável não ser um membro".
Alegações de Violação de Leis
Os reguladores afirmam que a Amazon violou leis de concorrência e proteção ao consumidor ao induzir os clientes a se inscreverem no Prime. Entre as evidências apresentadas, um botão em seu site direcionava os usuários a finalizar sua transação sem deixar claro que estavam também aceitando a adesão ao Prime para uma assinatura recorrente.
A FTC afirmou em um documento judicial: "Milhões de consumidores se inscreveram acidentalmente no Prime sem conhecimento ou consentimento, mas a Amazon se recusou a resolver este problema conhecido, descrito internamente por funcionários como um ‘câncer não falado’, pois ajustes de clareza levariam a uma queda no número de assinantes."
Complexidade no Cancelamento
A FTC também alegou que o processo de cancelamento é igualmente confuso, exigindo que os usuários navegassem por quatro páginas da web e escolhessem entre 15 opções, um mecanismo considerado "labiríntico" e internamente denominado pela empresa como "Ilíada", em referência ao poema épico de Homero sobre a Guerra de Troia.
A Amazon, por sua vez, sustentou que os processos para inscrição e cancelamento do Prime são "claro e simples", destacando que a empresa sempre foi transparente em relação aos termos do serviço. Em um documento jurídico recente, a empresa explicou: "Frustrações e erros ocasionais dos clientes são inevitáveis – especialmente para um programa tão popular quanto o Amazon Prime. A evidência de que uma pequena porcentagem de clientes não compreendeu a inscrição ou cancelamento do Prime não prova que a Amazon violou a lei."
Ação Judicial e Implicações
Vitória Preliminar da FTC
Na semana passada, a FTC teve uma vitória preliminar no caso quando o juiz do Tribunal Distrital dos EUA, John Chun, decidiu que a Amazon e dois executivos seniores violaram a Lei de Restauração da Confiança dos Compradores Online ao coletar informações de cobrança de membros do Prime antes de divulgar os termos do serviço.
O juiz também afirmou que os dois executivos seniores da Amazon seriam individualmente responsáveis caso o júri decida a favor da FTC, devido ao nível de supervisão que eles mantiveram sobre o processo de inscrição e cancelamento do Prime.
Os réus mencionados são Jamil Ghani, responsável pelo Prime, e Neil Lindsay, um vice-presidente sênior da divisão de saúde da empresa, que anteriormente supervisionou as operações de tecnologia e negócios do Prime.
Russell Grandinetti, vice-presidente sênior da Amazon para consumidores internacionais, também é mencionado na ação, mas Chun argumentou que ele teve "menos envolvimento na operação da organização do Prime" em comparação com Ghani e Lindsay.
Documentos Retidos
O juiz também repreendeu os advogados da Amazon em julho por reter milhares de documentos da FTC e abusar de um privilégio legal para protegê-los de escrutínio. Dentre os documentos estava um e-mail de 2020 onde Doug Herrington, chefe de varejo da Amazon, afirma que direcionar assinaturas era uma prática "duvidosa" e se referiu a Bezos como o "diretor de artes obscuras" da empresa.
Outras Ações Legais
A Amazon enfrenta uma ação separada movida pela FTC em 2023, acusando-a de manter um monopólio ilegal. Este caso está previsto para ir a julgamento em fevereiro de 2027.
Combate a Padrões Enganosos
O caso do Prime faz parte da atuação mais ampla da FTC no combate aos chamados "padrões enganosos", tema que a agência começou a investigar em 2022. Este termo refere-se a táticas de design enganosas que visam direcionar os usuários à compra de produtos ou serviços ou à renúncia de sua privacidade.
A FTC também apresentou uma ação similar contra a Uber em abril, acusando a empresa de transporte e entrega de práticas enganosas de cobrança e cancelamento relacionadas ao seu serviço de assinatura Uber One. A Uber contestou as alegações da FTC.
No início deste ano, a FTC alcançou acordos com o serviço de namoro online Match e com a empresa de educação online Chegg devido a alegações de que suas práticas de assinatura eram enganosas ou difíceis de cancelar.
Fonte: www.cnbc.com