Rejeição do Banco Central
Em meio a controvérsias, o Banco Central do Brasil decidiu rejeitar a proposta de aquisição de parte dos ativos do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), conforme anunciado em 1º de março. A rejeição pode ter surpreendido alguns investidores, mas está alinhada com os protocolos estabelecidos, uma vez que a necessidade de aprovação do Banco Central é uma etapa obrigatória em qualquer transação dessa natureza.
Contexto do Mercado
Desde o início das negociações, havia um clima de desconfiança no mercado em relação ao Banco Master. Esta desconfiança surgiu principalmente pela maneira como a instituição cresceu, emitindo Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com rentabilidades extremamente elevadas para captar a atenção de investidores pessoas físicas. A garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que poderia restituir o investidor em até R$ 250 mil em caso de liquidação, era um dos atrativos dessa captação.
Entretanto, a alta rentabilidade acompanha um risco elevado, levando a interpretações de que a proposta de compra era uma tentativa de amenizar as dificuldades financeiras do Master, o que se tornava ainda mais complicado devido à natureza estatal da transação.
No início da negociação, o BRB considerava a compra como uma oportunidade estratégica, especialmente por envolver ativos considerados mais saudáveis e relevantes, como o segmento de médias e grandes empresas, além de operações de cartão de crédito consignado e serviços de câmbio.
Risco Associado
Apesar da positiva perspectiva apresentada inicialmente, o risco de sucessão, que envolve a preocupação de que possíveis passivos não adquiridos do Master poderiam afetar a saúde financeira do BRB, foi um fator decisivo para a rejeição da proposta pelo Banco Central. No mês de maio, estimava-se que o valor em ativos inseguros que seriam excluídos da transação chegasse a R$ 23 bilhões. Contudo, esse número cresceu consideravelmente, atingindo R$ 51,2 bilhões.
Em um pedido de comentário sobre o assunto, o Banco Master não respondeu até a publicação desta reportagem.
Opiniões de Especialistas
Luis Miguel Santacreu, gerente de análise da Austin Rating, afirma que, enquanto a recusa do Banco Central pode ter surpreendido alguns investidores, ela se encontra dentro das normas de regulação. Segundo ele, todos os processos de aquisição são rigorosamente analisados pelo Banco Central, que pode aprovar ou não as negociações.
“Uma auditoria interna favorável do BRB não garante que o Banco Central também concorde com a transação. O BC possui seus próprios auditores e fiscais para conduzir essa análise”, ressalta.
Cenários Futuro para o Master
Santacreu delineia quatro cenários possíveis para o futuro do Banco Master após a recusa do Banco Central. O primeiro, que ele acredita estar descartado, é a possibilidade de o BRB entrar com um recurso junto ao Banco Central. Informações recentes da Folha de S. Paulo indicam que a revisão do processo depende de novos fatos, tendo o Banco Central adquirido uma compreensão abrangente da proposta após cinco meses de avaliação, o que torna improvável qualquer mudança de decisão nesse momento.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, afirmou que, se a negociação se mostrar inviável, estarão prontos para interromper as discussões e buscar outras oportunidades de crescimento para o Banco de Brasília.
Possibilidades de Aquisição
Uma alternativa menos desgastante para os envolvidos poderia ser a aquisição de partes do Banco Master através do mercado. De acordo com informações da Folha de S. Paulo, o próprio BRB está considerando a possibilidade de parcerias e a compra de ativos menores do Banco Master. Santacreu considera que bancos menores poderiam assumir ativos do Master, talvez dividindo as partes entre si.
O BTG Pactual, por exemplo, adquiriu participações em duas empresas listadas na bolsa, a Light (LIGT3) e a Méliuz (CASH3), que pertenciam ao Banco Master. Essas operações fazem parte de um projeto maior que tem um valor estimado em R$ 1,5 bilhão, incluindo aquisição de imóveis e outros papéis com menos de 5% de participação.
Por sua vez, Augusto Lima, CEO do Banco Master, firmou um acordo para assumir a administração do Banco Voiter.
Possibilidade de Intervenção
As duas alternativas restantes para o Banco Central, segundo Santacreu, seriam interventionistas e mais complicadas. A terceira opção envolve a nomeação de um interventor pelo Banco Central, que destituiria a diretoria do Banco Master e nomearia um novo dirigente alinhado com a visão da instituição reguladora, para buscar soluções de continuidade para a operação do banco.
Além disso, caso não apareçam compradores e o Banco Central perceba problemas de solvência, como ativos que não suportam as obrigações de pagamento de CDBs, o banco poderia ser liquidado. Esse cenário acarretaria um impacto significativo na saúde financeira do FGC, que teria que honrar valores elevados, afetando seu patrimônio.
Avaliação do Rating do Banco Master
Claudio Galina, diretor da Fitch, manifestou em entrevista à Money Times que uma eventual liquidação ou intervenção do Banco Central no Banco Master poderia ser desencadeada caso houvesse uma deterioração da liquidez, aumento da dependência de captação de curto prazo e outros fatores de risco, como custos elevados e redução de rentabilidade.
Recentemente, a Fitch rebaixou a classificação de risco do Banco Master de B+ para B- e deixou a perspectiva do BRB em negativa. Embora o Banco Master não esteja em falência, apresenta uma vulnerabilidade maior do que no passado. O Banco Central somente interviria caso ocorresse descumprimento das exigências mínimas de capital, o que, no momento, não é o caso do banco.
Implicações para o Sistema Financeiro
Santacreu e Galina concordam que uma possível falência do Banco Master não geraria riscos significativos para o sistema financeiro. O Banco Master é considerado uma instituição menor e não possui um vínculo bancário substancial. Há, sim, algumas instituições que compraram papéis do banco, mas não em volume comparável ao dos grandes bancos.
A perda de capital se concentraria em depositantes que investiram acima do limite de R$ 250 mil e em entidades que adquiriram letras financeiras. Porém, essa situação não afetaria o sistema bancário como um todo, já que os grandes bancos têm milhões de depositantes, enquanto o Banco Master possui apenas milhares.
O Fundo Garantidor de Crédito, que protege investidores, poderá ser afetado. No primeiro trimestre, o patrimônio do fundo atingiu R$ 153,5 bilhões, um crescimento de 6,1% em relação a dezembro de 2023. Em caso de uma liquidação, a responsabilidade de honrar depósitos recaíria sobre o FGC, que precisaria ser recomposto pelos bancos, podendo resultar em um aumento nos custos dos serviços financeiros.
Assim, enquanto o Banco Master é um banco administrável, de menor relevância, o impacto de qualquer problema enfrentado por ele não traria consequências estruturais negativas para o sistema financeiro como um todo.## Rejeição do Banco Central
Em meio a controvérsias, o Banco Central do Brasil decidiu rejeitar a proposta de aquisição de parte dos ativos do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), conforme anunciado em 1º de março. A rejeição pode ter surpreendido alguns investidores, mas está alinhada com os protocolos estabelecidos, uma vez que a necessidade de aprovação do Banco Central é uma etapa obrigatória em qualquer transação dessa natureza.
Contexto do Mercado
Desde o início das negociações, havia um clima de desconfiança no mercado em relação ao Banco Master. Esta desconfiança surgiu principalmente pela maneira como a instituição cresceu, emitindo Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com rentabilidades extremamente elevadas para captar a atenção de investidores pessoas físicas. A garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que poderia restituir o investidor em até R$ 250 mil em caso de liquidação, era um dos atrativos dessa captação.
Entretanto, a alta rentabilidade acompanha um risco elevado, levando a interpretações de que a proposta de compra era uma tentativa de amenizar as dificuldades financeiras do Master, o que se tornava ainda mais complicado devido à natureza estatal da transação.
No início da negociação, o BRB considerava a compra como uma oportunidade estratégica, especialmente por envolver ativos considerados mais saudáveis e relevantes, como o segmento de médias e grandes empresas, além de operações de cartão de crédito consignado e serviços de câmbio.
Risco Associado
Apesar da positiva perspectiva apresentada inicialmente, o risco de sucessão, que envolve a preocupação de que possíveis passivos não adquiridos do Master poderiam afetar a saúde financeira do BRB, foi um fator decisivo para a rejeição da proposta pelo Banco Central. No mês de maio, estimava-se que o valor em ativos inseguros que seriam excluídos da transação chegasse a R$ 23 bilhões. Contudo, esse número cresceu consideravelmente, atingindo R$ 51,2 bilhões.
Em um pedido de comentário sobre o assunto, o Banco Master não respondeu até a publicação desta reportagem.
Opiniões de Especialistas
Luis Miguel Santacreu, gerente de análise da Austin Rating, afirma que, enquanto a recusa do Banco Central pode ter surpreendido alguns investidores, ela se encontra dentro das normas de regulação. Segundo ele, todos os processos de aquisição são rigorosamente analisados pelo Banco Central, que pode aprovar ou não as negociações.
“Uma auditoria interna favorável do BRB não garante que o Banco Central também concorde com a transação. O BC possui seus próprios auditores e fiscais para conduzir essa análise”, ressalta.
Cenários Futuro para o Master
Santacreu delineia quatro cenários possíveis para o futuro do Banco Master após a recusa do Banco Central. O primeiro, que ele acredita estar descartado, é a possibilidade de o BRB entrar com um recurso junto ao Banco Central. Informações recentes da Folha de S. Paulo indicam que a revisão do processo depende de novos fatos, tendo o Banco Central adquirido uma compreensão abrangente da proposta após cinco meses de avaliação, o que torna improvável qualquer mudança de decisão nesse momento.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, afirmou que, se a negociação se mostrar inviável, estarão prontos para interromper as discussões e buscar outras oportunidades de crescimento para o Banco de Brasília.
Possibilidades de Aquisição
Uma alternativa menos desgastante para os envolvidos poderia ser a aquisição de partes do Banco Master através do mercado. De acordo com informações da Folha de S. Paulo, o próprio BRB está considerando a possibilidade de parcerias e a compra de ativos menores do Banco Master. Santacreu considera que bancos menores poderiam assumir ativos do Master, talvez dividindo as partes entre si.
O BTG Pactual, por exemplo, adquiriu participações em duas empresas listadas na bolsa, a Light (LIGT3) e a Méliuz (CASH3), que pertenciam ao Banco Master. Essas operações fazem parte de um projeto maior que tem um valor estimado em R$ 1,5 bilhão, incluindo aquisição de imóveis e outros papéis com menos de 5% de participação.
Por sua vez, Augusto Lima, CEO do Banco Master, firmou um acordo para assumir a administração do Banco Voiter.
Possibilidade de Intervenção
As duas alternativas restantes para o Banco Central, segundo Santacreu, seriam interventionistas e mais complicadas. A terceira opção envolve a nomeação de um interventor pelo Banco Central, que destituiria a diretoria do Banco Master e nomearia um novo dirigente alinhado com a visão da instituição reguladora, para buscar soluções de continuidade para a operação do banco.
Além disso, caso não apareçam compradores e o Banco Central perceba problemas de solvência, como ativos que não suportam as obrigações de pagamento de CDBs, o banco poderia ser liquidado. Esse cenário acarretaria um impacto significativo na saúde financeira do FGC, que teria que honrar valores elevados, afetando seu patrimônio.
Avaliação do Rating do Banco Master
Claudio Galina, diretor da Fitch, manifestou em entrevista à Money Times que uma eventual liquidação ou intervenção do Banco Central no Banco Master poderia ser desencadeada caso houvesse uma deterioração da liquidez, aumento da dependência de captação de curto prazo e outros fatores de risco, como custos elevados e redução de rentabilidade.
Recentemente, a Fitch rebaixou a classificação de risco do Banco Master de B+ para B- e deixou a perspectiva do BRB em negativa. Embora o Banco Master não esteja em falência, apresenta uma vulnerabilidade maior do que no passado. O Banco Central somente interviria caso ocorresse descumprimento das exigências mínimas de capital, o que, no momento, não é o caso do banco.
Implicações para o Sistema Financeiro
Santacreu e Galina concordam que uma possível falência do Banco Master não geraria riscos significativos para o sistema financeiro. O Banco Master é considerado uma instituição menor e não possui um vínculo bancário substancial. Há, sim, algumas instituições que compraram papéis do banco, mas não em volume comparável ao dos grandes bancos.
A perda de capital se concentraria em depositantes que investiram acima do limite de R$ 250 mil e em entidades que adquiriram letras financeiras. Porém, essa situação não afetaria o sistema bancário como um todo, já que os grandes bancos têm milhões de depositantes, enquanto o Banco Master possui apenas milhares.
O Fundo Garantidor de Crédito, que protege investidores, poderá ser afetado. No primeiro trimestre, o patrimônio do fundo atingiu R$ 153,5 bilhões, um crescimento de 6,1% em relação a dezembro de 2023. Em caso de uma liquidação, a responsabilidade de honrar depósitos recaíria sobre o FGC, que precisaria ser recomposto pelos bancos, podendo resultar em um aumento nos custos dos serviços financeiros.
Assim, enquanto o Banco Master é um banco administrável, de menor relevância, o impacto de qualquer problema enfrentado por ele não traria consequências estruturais negativas para o sistema financeiro como um todo.