Banco da Amazônia: Captação de Recursos e Transformação
O Banco da Amazônia (BAZA3) está se propondo a transformar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em uma vitrine para seus negócios e não descarta a possibilidade de captar recursos por meio de agências multilaterais durante o evento. Esse capital é considerado crucial, já que a instituição tem ampliado sua carteira de crédito e possui um pipeline significativo de novos produtos.
Diversificação das Fontes de Financiamento
O banco tem buscado diversificar suas fontes de financiamento, além dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) e do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA). Esta diversificação ocorre através de parcerias com organismos internacionais, uma estratégia vital, uma vez que os recursos do FNO costumam se esgotar rapidamente, geralmente pouco após o meio do ano.
Nos últimos meses, o Banco da Amazônia conseguiu captar US$ 100 milhões junto à Agência Francesa de Desenvolvimento e atualmente encontra-se na fase final de negociação para levantar mais US$ 100 milhões com o Banco Mundial.
“A COP trouxe uma luz sobre a Amazônia. Investidores e fundos internacionais estão percebendo o potencial de negócios na região, desde o cacau e o café até a pecuária e os grãos. O desafio será transformar intenções em projetos que sejam economicamente, socialmente e ambientalmente viáveis”, declarou o presidente do banco, Luiz Lessa, em entrevista ao Money Times.
Ele acrescentou que a instituição deseja continuar sendo o principal agente financeiro na região e, se possível, ampliar sua participação de mercado. Para isso, o banco está buscando novas fontes de recursos de longo prazo e estruturando fundos voltados para infraestrutura e sustentabilidade.
Programa de Transformação
Na área de crédito, um dos destaques recentes é a carteira comercial, que cresceu 93,3% impulsionada pelo chamado “Programa de Transformação”.
Com um horizonte para 2025, o Banco da Amazônia planeja passar pela maior transformação de sua história, visando gerar R$ 200 milhões em novas receitas e conquistar 350 mil novos clientes. Até o final do primeiro semestre deste ano, a receita já cresceu 19% em comparação ao ano anterior, totalizando R$ 4,5 bilhões, e o número de clientes aumentou 9%, chegando a 1,2 milhão.
Atualmente, a instituição é responsável por 60% de todo o financiamento de fomento na região. No primeiro semestre de 2025, sua carteira de crédito atingiu R$ 62,8 bilhões, representando um crescimento de 20,3% em um período de 12 meses, com desembolsos próximos a R$ 13 bilhões.
Desses desembolsos, R$ 8,3 bilhões foram destinados a financiamentos em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que corresponde a um crescimento de 37,4%. Esse montante foi utilizado em setores como infraestrutura, agricultura familiar, serviços e indústria. Adicionalmente, R$ 5,6 bilhões foram destinados a linhas verdes, com um aumento de 23%, onde o financiado apresenta um projeto com alto grau de sustentabilidade, o que lhe garante acesso a juros reduzidos.
Contexto Econômico da Região
O avanço na carteira de crédito, embora associado à agenda de sustentabilidade, também depende de fatores econômicos. A região Norte apresenta crescimento acima da média nacional, e para 2025, todos os estados, exceto o Amazonas, devem registrar expansão superior ao produto interno bruto (PIB) nacional, com ênfase no crescimento do setor agropecuário na região.
“Quando analisamos a produção de grãos do Matopiba, notamos que uma boa parte está concentrada na região Norte. Atualmente, mais de 50% do milho produzido no Brasil é encaminhado pelos portos da região Norte, incluindo Itaqui e os portos do Amazonas. A soja representa quase 40% desse total”, afirmou Lessa.
Ele ainda destacou que essa produção gera demanda não apenas por melhorias de infraestrutura, mas também estimula a agroindústria. Nesse contexto, há novas plantas de esmagamento de soja e usinas de etanol a partir de milho, que alimentam a indústria de proteínas. Isso, por sua vez, gera uma crescente demanda por grãos, serviços, portos, silagem e transporte.
Crescimento Sustentável na Amazônia
Além do agronegócio, a exploração da Foz do Amazonas e a expansão do Sistema Norte da Vale (VALE3) estão entre as iniciativas em destaque para a região, ambas sendo vistas como catalisadoras de investimentos.
A exploração da Foz é um assunto delicado para o banco, que busca alinhamento com temas mais sustentáveis, embora reconheça as oportunidades que essa exploração pode trazer. “Nossos modelos de financiamento serão rigorosos, apoiando apenas projetos com alto grau socioambiental”, destacou Lessa. “Entretanto, para dar suporte a essas iniciativas, a região necessita de energia elétrica. A transformação energética é fundamental.”
O banco atuou como cofinanciador do penúltimo trecho de ligação do sistema elétrico da região Norte ao Sistema Interligado Nacional, que vai de Parintins a Manaus, e agora financia a última linha que conecta Manaus a Boa Vista, que está prestes a ser inaugurada.
“Investir em infraestrutura energética também traz benefícios para pequenos produtores. Um produtor de açaí, por exemplo, necessita de energia para processar ou armazenar sua produção. Esse tipo de investimento gera benefícios coletivos em toda a cadeia produtiva”, afirmou o presidente.
Iniciativas e Visão Futura
“Diversas iniciativas demonstram que estamos começando a observar os resultados do programa de transformação”, declarou Lessa. “No entanto, nossa meta não é ser apenas mais um banco digital no varejo, competindo com instituições como Itaú ou Bradesco. Queremos oferecer produtos que façam sentido e estejam conectados às nossas raízes. Estamos considerando, por exemplo, a implementação de um cartão de crédito que ofereça cashback em ações de sustentabilidade — convertendo despesas em plantio de árvores ou preservação ambiental.”
Fonte: www.moneytimes.com.br