Contexto da Crise
O recente episódio demonstra que até mesmo fundos e fintechs podem ser utilizados em esquemas criminosos. A boa notícia é que existe a possibilidade de se proteger contra esses riscos, segundo Wellinton Depaoli, especialista em alocação da Manchester Investimentos.
“O investidor precisa buscar instituições sólidas, ligadas a bancos conhecidos e desconfiar de fundos muito fechados que não mostram onde aplicam o dinheiro”, destaca.
Depaoli enfatiza a importância da diversificação e da liquidez, sugerindo que uma parte do patrimônio deve ser mantida em aplicações simples e de fácil resgate, como Tesouro Direto, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de grandes bancos e fundos de liquidez. É fundamental, nesse último caso, conhecer quem administra, audita e gere os fundos antes de aplicar.
Da mesma forma, o economista Danilo Coelho recomenda que os investidores busquem as maiores instituições para suas aplicações. “Ao analisarmos as instituições que estavam na lista divulgada, percebemos que a maior parte das empresas é pequena, exceto a Genial”, ressalta.
Declaração da Genial
Em nota, a Genial informou que tomou conhecimento do caso pela imprensa e não recebeu notificação oficial. A empresa esclareceu que as denúncias se referem ao Radford Fundo de Investimento Financeiro Multimercado Crédito Privado – Responsabilidade Limitada e que o fundo foi estruturado por outros prestadores de serviços, sendo herdado em 2024 após diligências sobre ativos e investidores.
Frente a essas menções negativas, a Genial decidiu renunciar à administração do fundo até obter esclarecimentos.
Confiabilidade dos Fundos
Coelho ressalta que fundos com histórico consistente, gestão transparente e crescimento gradual merecem mais confiança do que estruturas que conseguem acumular bilhões rapidamente. “É importante observar fundos que têm captação razoável ao longo do tempo”, complementa. É necessário ter cuidado com aqueles que, em apenas dois anos, por exemplo, alcançam R$ 3 bilhões ou R$ 4 bilhões em ativos sob gestão.
Além disso, o investidor deve manter a calma. A psicóloga Ana Paula Hornos alerta que quem age motivado pelo medo ou pela euforia tende a cometer erros.
“Para atravessar momentos desafiadores, é preciso ter disciplina, estratégia e lembrar que ética e compliance são o que sustentam a confiança no mercado”, afirma.
Fundos Fechados e Riscos Potenciais
A Polícia Federal esclareceu que os fundos bloqueados, foco da operação, são fechados e pertencem à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). No entanto, a instituição admitiu que há risco de contaminação em fundos abertos, um aspecto que gera diferentes opiniões no mercado.
Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, afirma que o investidor de varejo não terá prejuízo direto, mas alerta para um problema sistêmico. Ele observa que os 40 fundos arrolados são geridos por entidades que administram muitos outros veículos, incluindo fundos de pensão. “Isso gera um dano sistêmico ao mercado, que perde em credibilidade. E, no mercado, confiança é tudo”, enfatiza.
Ele também aponta o risco de que o governo americano inclua em suas investigações comerciais a possível contaminação do mercado financeiro brasileiro por facções criminosas, o que poderia agravar os desdobramentos da Operação Carbono Oculto.
Danilo Coelho acrescenta que o maior risco vem do efeito cascata, pois gestores podem ser obrigados a vender ativos para limpar estruturas contaminadas, impactando negativamente os preços de crédito privado e até ações. “O clima no mercado já está bem tenso e preocupante”, resume.
Apesar do estresse do dia, a Bolsa de Valores brasileira registrou uma alta de 1,23% na quinta-feira (28), com o Ibovespa alcançando 141.049 pontos.
Reflexões Sobre ESG
Para Silva, a crise provocada pela operação na Faria Lima reacende as críticas à indústria de investimentos em relação às práticas ESG – que se referem a ações ambientais, sociais e de governança. Ele argumenta que, apesar de serem um slogan, essas práticas não impediram escândalos.
O economista observa que a Reag Investimentos (REAG3), uma das empresas citadas pelos investigadores, está no Novo Mercado, um segmento de alta governança da B3. “Não é possível perceber que estar no Novo Mercado garante confiabilidade. O básico de ESG é compliance, e o que se vê são fraudes, como no IRB (IRBR3) e nas Americanas (AMER3)”, relembra.
Segundo Silva, a perda de credibilidade ameaça a “indústria da confiança” que sustenta o setor.
Regulamentação Mais Estrita
Entretanto, existe a possibilidade de que o impacto negativo da imagem seja limitado, desde que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central (BC) e a B3 atuem para restaurar a confiança, conforme aponta Danilo Coelho. Ele prevê que esse episódio resultará em maior fiscalização, com os órgãos de controle exigindo um compliance mais robusto, o que poderá aumentar custos e levar à consolidação de gestoras menores.
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) também destacou em nota que o sistema financeiro é sólido e altamente regulado. “O Brasil possui entidades públicas e privadas comprometidas com o combate a ações irregulares”, enfatizou a associação.
A Federação dos Bancos (Febraban) acrescentou que a ofensiva ajuda a “segregar quais agentes do sistema financeiro estão, ou não, a serviço do crime organizado.”
Uma das primeiras medidas do governo foi obrigar as fintechs a enviar à Receita Federal as mesmas informações exigidas de grandes bancos. Durante a coletiva de imprensa que abordou as operações da Polícia Federal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que as fintechs passam a ser consideradas instituições financeiras, para aumentar a fiscalização.
O economista Tiago Velloso expressou que tal medida pode aumentar a transparência, mas pode também encarecer tarifas e reduzir espaço para inovação. “Um compliance mais rígido significa que parte desse custo pode ser repassado ao cliente, aumentando tarifas ou diminuindo a margem para inovação.”
Questões Pendentes sobre a Operação
A operação Carbono Oculto foi deflagrada recentemente e ainda existem muitos pontos a serem esclarecidos. Entre as questões a serem entendidas, é necessário identificar a origem do capital ilícito e como ele foi inserido nas gestoras.
Especialistas também observam que não está claro o alcance das novas regras, assim como o tratamento de dados e as exigências de capital regulatório.
Wellinton Depaoli, da Manchester, ressalta que os investidores ainda não têm conhecimento sobre todos os fundos de investimento impactados pela Operação Carbono Oculto, quando terão acesso aos recursos bloqueados e como receberão informações oficiais.