Censo do INEP desperta preocupação nas instituições educacionais da Bolsa

Censo do INEP desperta preocupação nas instituições educacionais da Bolsa

by Ricardo Almeida
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Resultados do Censo Superior de 2024

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) divulgou na terça-feira (23) os resultados do Censo Superior de 2024, que apresentam estatísticas relacionadas ao ensino superior no Brasil. Os dados despertaram atenção entre analistas do setor, especialmente em relação a empresas como Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3).

Desaceleração no crescimento do ensino superior privado

Um dos principais destaques do documento é a desaceleração no crescimento da base de estudantes matriculados no ensino superior privado. O total de estudantes alcançou 8,2 milhões de pessoas, representando um incremento de apenas 3,2% em 2024. Esse crescimento é significativamente menor do que os 7,3% registrados em 2023 e os 6,6% de 2022.

De acordo com a equipe de analistas do BTG Pactual, liderada por Samuel Alves, “nossa interpretação preliminar é que o censo sinaliza uma clara desaceleração no crescimento do setor”. O grupo adota uma postura cautelosa em relação ao cenário educacional brasileiro.

Aumento da evasão estudantil

Outro fator preocupante é o aumento da evasão escolar, que chegou a 17,5% em 2024. Este índice é superior ao registrado nos anos anteriores: 16% em 2023 e 15,8% em 2022.

Fatores macroeconômicos e regulamentações impactam o setor educacional

A desaceleração do crescimento e o aumento da evasão são, segundo a BTG, influenciados pelo elevado nível de juros no Brasil, que continua a pressionar a captação de novos alunos nos ciclos subsequentes.

Victor Bueno, analista da Nord Investimentos, compartilha a mesma perspectiva. Ele argumenta que “o principal motivo é o cenário macroeconômico desafiador”, destacando que a inflação e os altos juros afetam a renda das famílias. Em decorrência, muitos estudantes encontram dificuldade em continuar seus estudos, optando por adiá ou interromper a formação.

Educação à distância e incertezas regulatórias

Além das condições econômicas, tanto os analistas do BTG Pactual quanto os da Nord Investimentos apontam que a educação a distância (EaD) pode ter chegado a um ponto de saturação. As mudanças nas regulamentações do setor têm introduzido incertezas acerca do modelo de negócio.

“O ensino à distância se destacou por ser mais acessível e conveniente, apresentando um aumento de 300% ao longo de uma década. Atualmente, mais alunos estão matriculados em cursos EAD do que em presenciais”, explica Bueno. “No entanto, começam a surgir indícios de que esse crescimento acelerado do EaD pode ter atingido seu apogeu”, acrescenta. Ele menciona que o Ministério da Educação tem endurecido as regras, especialmente para cursos que exigem atividades práticas.

A crescente percepção entre reguladores é a de que a rápida expansão da educação a distância poderia comprometer a qualidade do ensino e a formação dos profissionais, o que incentivaria a proliferação de cursos sem estrutura adequada.

Os analistas do BTG Pactual concordam, afirmando que “as novas exigências de maior presença física reduzirão, em última análise, o mercado potencial para o setor de EaD”.

Impacto demográfico nas companhias educacionais

Além dos desafios macroeconômicos e regulatórios, Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, adverte sobre as recentes mudanças demográficas, que podem estar refletidas nos números apresentados. Ele observa que o número de jovens no Brasil tem diminuído, já que muitas famílias optam por ter menos filhos.

“A taxa de natalidade no Brasil tem mostrado uma queda consistente ao longo dos anos, resultando em uma população jovem em declínio. Isso, naturalmente, diminui a base de alunos na faixa etária escolar”, explica Di Mattina.

Tendências de mercado e recomendações cautelosas

Segundo Bueno, a desaceleração não é uma novidade. Ele menciona que a tendência já é observável há algum tempo, especialmente após a pandemia. “Por ora, preferimos a cautela. Não temos recomendações de compra para nenhuma empresa no setor, dado o cenário ainda incerto”, salienta.

A cautela é amplificada pela valorização das ações das companhias do setor educacional, que acumulam altas em 2025. As ações ordinárias da Cogna, por exemplo, subiram mais de 200%, enquanto as da Yduqs aumentaram cerca de 50%. Outras empresas, como a Ser Educacional (SEER3), apresentaram crescimento de quase 150%, as da Cruzeiro do Sul (CSED3) cresceram quase 65%, e as da Vitru (VTRU3), aproximadamente 90%.

Bueno observa que “as ações do setor estavam subvalorizadas nos últimos anos e agora vemos um movimento significativo de alta para grande parte desses papéis”.

Entre as razões para essa valorização, destacam-se os reflexos de reestruturações realizadas por várias companhias nos últimos anos. Apesar das altas registradas em 2025, as principais empresas do setor educacional na Bolsa ainda acumulam quedas consideráveis nos últimos cinco anos.

Para se adaptar às novas realidades, algumas companhias têm apostado em cursos de medicina, que apresentam custos mais altos, alta demanda e taxa de evasão menor.

Apesar dos desafios enfrentados, há perspectivas de que as grandes empresas do setor possam emergir vitoriosas em um processo de consolidação, especialmente em um ambiente mais desafiador.

Fonte: www.moneytimes.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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