Intoxicações por Metanol no Brasil
O noticiário brasileiro tem relatado diversos casos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas. Essa situação envolveu tragédias que resultaram na morte de seis pessoas e já desperta a atenção dos analistas do mercado de ações, especialmente em relação à empresa Ambev (ABEV3).
Impactos no Mercado e Consumidor
Os efeitos da crise de metanol ainda não estão totalmente claros. Por um lado, há a possibilidade de que consumidores que tradicionalmente optam por destilados se voltem para as cervejas, que até o momento não foram registradas como contaminadas. Por outro lado, a tragédia pode gerar um clima de receio em relação ao consumo geral de bebidas alcoólicas, o que, em um ano já desfavorável para o setor cervejeiro, poderia impactar negativamente o desempenho das cervejarias.
Um levantamento realizado pela Quantum revelou que, desde a primeira morte relacionada ao metanol em 19 de setembro, a Ambev acumulou uma queda de R$ 9,6 bilhões em seu valor de mercado. Os investidores demonstram cautela com as ações da empresa, e a crise do metanol é apenas um dos fatores que contribuem para essa desconfiança.
No último relatório divulgado em 3 de outubro pelo JP Morgan, foram destacados dados da produção industrial do IBGE, que indicaram uma queda de 11,8% na produção de bebidas alcoólicas no mês de agosto. Os analistas do banco mencionaram que essa é mais uma notícia negativa para a Ambev nessa semana.
Além disso, a Heineken, concorrente da Ambev, deve reportar uma queda de 7,3% nos volumes vendidos nas Américas, enquanto a Ambev menciona a “baixa confiança do consumidor e os impactos climáticos” tanto no México quanto no Brasil.
Recomendação de Venda das Ações da Ambev
No início da semana, a XP Investimentos rebaixou a recomendação das ações da Ambev para o status de venda, além de reduzir o preço-alvo das ações de R$ 13,40 para R$ 10,90. Entre os diferentes fatores que influenciaram essa decisão, estão a crescente competitividade do mercado, as mudanças nos hábitos dos consumidores mais jovens e a introdução de medicamentos que ajudam na perda de peso.
O clima também tem influenciado os resultados do setor de cervejas, incluindo a Ambev. As temperaturas mais baixas registradas no Brasil ao longo deste ano têm contribuído para um desempenho menos favorável.
Crise do Metanol e Impactos no Consumo de Bebidas
O último trimestre do ano costuma ser um período sazonal em que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta, devido ao clima mais quente e às várias festividades que ocorrem. No entanto, uma crise sanitária mais grave, como a relacionada ao metanol, pode alterar os hábitos de consumo no curto prazo. As opiniões sobre as consequências desse evento para a Ambev e para o setor cervejeiro de forma geral são diversificadas.
Um analista do setor, que optou por não se identificar, comentou: “O evento pode levar a um aumento no consumo de cerveja no mix, o que seria benéfico para a Ambev”. Contudo, ele também alertou que pode haver uma diminuição no fluxo de pessoas frequentando os bares, conhecido como “on trade”.
Os casos de intoxicação por metanol até o momento têm afetado principalmente bebidas destiladas, como gin e whisky. Foi confirmada uma morte por intoxicação e outras sete fatalidades estão sob investigação. O estado de São Paulo contabiliza 11 casos confirmados, além de 42 casos suspeitos. Pernambuco reporta seis casos suspeitos e tanto o Distrito Federal quanto a Bahia têm um caso cada.
A CEO da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, afirmou que “o evento deve impactar diretamente as vendas do segmento de bares, especialmente daqueles que comercializam destilados. Entretanto, há espaço para o aumento nas vendas de bebidas fermentadas, como cervejas e vinhos”.
Diferenciação do Metanol em Bebidas
O metanol está presente em destilados porque ele se forma naturalmente durante o processo de fermentação. Geralmente, devido ao seu ponto de ebulição ser mais baixo que o do etanol, o metanol é eliminado nas primeiras frações do processo de destilação.
Nos produtos fermentados, a presença de metanol é reduzida, uma vez que não ocorre a concentração do álcool da mesma forma que nos destilados. Além disso, as leveduras e bactérias utilizadas tendem a eliminar o metanol. Médicos ressaltam que é mais fácil detectar o metanol em produtos fermentados, devido à diferença no sabor.
Outra perspectiva positiva destaca que a reputação da Ambev, como uma marca consolidada, pode ser uma vantagem em momentos de crise. Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, declarou que “empresas de grande porte, como Ambev e Heineken, não devem sofrer um impacto operacional direto, pois possuem processos rigorosos de qualidade e rastreabilidade. O maior efeito tende a aparecer na percepção do consumidor”.
Conforme Sanchez, “marcas menores e produtores informais são os que mais sofrem, enquanto as líderes consolidadas podem acabar capturando demanda adicional pela confiança que transmitem ao consumidor”.
Perspectivas Futuras para a Ambev
De maneira geral, alguns analistas consideram que ainda é cedo para determinar se haverá impacto significativo para a Ambev e como isso afetará o balanço da empresa, se através do medo de consumo ou por um potencial aumento na demanda por cervejas. O cenário atual representa mais uma variável a ser considerada para a companhia.
Os analistas do JP Morgan comentaram: “Embora não sejamos médicos e seja prematuro fazer afirmações, argumentamos que é mais provável que ocorra uma redução no consumo total de bebidas alcoólicas do que uma simples migração entre categorias no curto prazo”.
Fonte: www.moneytimes.com.br