ETFs e sua Funcionalidade
Os ETFs (fundos negociados em bolsa) são veículos de investimento passivos que buscam replicar índices criados por provedores de referência, como o S&P e a Dow Jones nos Estados Unidos, e a B3 no Brasil. Nesse contexto, uma gestora obtém o direito de seguir um índice específico, como o Ibovespa, o IFIX, que reflete dividendos, ou o IBrX, que reúne os 100 ativos mais representativos da Bolsa, e monta uma carteira que espelha esses índices.
“O ETF é um veículo muito interessante. E lá fora existe uma abundância de ETFs diferentes que permitem acessar não apenas uma empresa específica, mas todo o tema, todo o setor, todo o país”, esclarece Maria Irene Jordão, estrategista global da XP.
Ao direcionar investimentos em inteligência artificial (IA) por meio de ETFs, o investidor se alinha mais ao sentimento do mercado, minimizando o risco associado a ações específicas. Essa abordagem resulta em uma menor dependência de resultados trimestrais de uma única empresa.
Renato Eid, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset, destaca outro aspecto importante: “Há gestão profissional do ETF e também governança e disciplina de rebalanceamento do índice — algo que é difícil de replicar na carteira pessoal de um investidor.”
Fases da Investimento em IA
Atualmente, quando se aborda o investimento em IA, a atenção do mercado está majoritariamente voltada para empresas de tecnologia, que incluem fabricantes de chips, gigantes de computação em nuvem e companhias que oferecem produtos e serviços diretamente relacionados ao tema. Isso abrange o que são chamadas de “sete magníficas” que dominam o índice da bolsa americana: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Meta, Alphabet e Tesla.
Maria Jordão, da XP, descreve a atuação do mercado em IA por meio de três etapas principais. A primeira é o rali dos semicondutores, com destaque para a Nvidia, bem como para empresas como AMD, Supermicro, Arm Holdings e TSMC.
A segunda fase, em que o mercado se encontra atualmente, é focada na infraestrutura. Aqui, a Oracle se destaca no setor de data centers, além de outras empresas que, à primeira vista, não parecem estar diretamente ligadas à IA, como companhias de energia elétrica. Estas empresas desempenham um papel crucial ao fornecer a energia necessária para os data centers que operam essa tecnologia, abrangendo o setor de utilities em geral, incluindo a energia nuclear, que estabelece parcerias exclusivas com provedores de nuvem.
A terceira fase, ainda em desenvolvimento, é a de otimização de negócios. Nesta etapa, as empresas começam a utilizar IA para reduzir custos e gerar novas fontes de receita. “Assim como a geladeira que impulsionou as vendas da Coca-Cola ou a internet militar que deu origem ao Uber e a influenciadores digitais, existem aplicações que ainda não conseguimos imaginar”, ressalta a especialista.
A aplicação de inteligência artificial está prevista para se expandir a diversos setores, trazendo transformações significativas para todos os negócios. “Veremos empresas do setor de saúde, por exemplo, utilizando IA para aprimorar seus processos”, complementa Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research.
Diversidade de Temas de Investimento em IA
O ETF VanEck Semiconductor (SMH) é uma opção que se concentra na produção de semicondutores, buscando replicar o desempenho do Listed Semiconductor 25 Index, o que abrange as empresas envolvidas na fabricação e fornecimento de equipamentos de semicondutores.
Por sua vez, o Utilities Select Sector SPDR Fund (XLU) foca na conectividade entre infraestrutura e energia. O iShares Future AI & Tech ETF (ARTY), da BlackRock, incorpora empresas que podem impulsionar novas tecnologias em IA, enquanto o Global X Robotics and Artificial Intelligence ETF (BOTZ), disponível na B3 como BOTZ39, acompanha o setor de robótica e automação, refletindo as variações do índice Indxx Global Robotics & Artificial Intelligence Thematic.
“Essa é a beleza do ETF. Você não precisa escolher uma empresa; pode optar por um tema, um setor, ou uma parte específica da cadeia produtiva”, resume Maria Jordão, da XP.
Pacheco, por sua vez, observa que alguns ETFs apresentam uma diversificação maior, o que dilui o risco, enquanto outros concentram suas apostas em poucas empresas, aumentando a volatilidade e a exposição a eventos que impactam essas empresas líderes.
“É crucial que o investidor esteja ciente dessas posições. Ao acessar o site dos ETFs, é possível verificar todas as posições e os pesos de cada companhia. Esse entendimento é essencial para evitar uma aposta excessivamente concentrada, mas a decisão final depende de cada investidor”, explica.
Volatilidade em ETFs de IA
O analista da Empiricus Research enfatiza que o setor de tecnologia é, por natureza, bastante volátil. Ele menciona que a Oracle, por exemplo, teve um aumento de mais de 30% após uma surpresa no backlog (receitas futuras contratadas) superando as expectativas do mercado, mas no dia seguinte houve uma correção. A Nvidia, por sua vez, enfrenta desafios regulatórios com a China e incertezas geopolíticas que impactam suas projeções e moldam o clima do mercado em relação às suas ações.
Em resumo, os ETFs são considerados uma forma mais segura de investir no setor altamente volátil da IA. Contudo, isso não elimina todos os riscos associados. “Os ETFs acabam replicando a alta volatilidade, mas, devido à sua composição, conseguem fazer uma amortização leve nas variações de preços”, pondera Pacheco.
Um exemplo é o AIQ, que apresentou um retorno de cerca de 174% ao longo de cinco anos, porém, registrou quedas de dois dígitos em dois momentos distintos, uma durante a pandemia e outra com as decisões de tarifas do governo de Donald Trump este ano. “O índice é uma média; alguns papéis que o compõem podem cair entre 60% ou 80%, enquanto outros se mantêm”, destaca.
Orientações Práticas dos Especialistas
Comece pelo amplo e ajuste pelo específico
Uma abordagem inicial com um ETF amplo, como o AIQ, oferece uma exposição geral ao tema. Para aqueles que desejam refinar sua estratégia, a combinação com SMH (chips), XLU (energia/utilities), BOTZ (robótica) ou ARTY (tecnologia) pode ser vantajosa.
Monitoramento da Concentração
Observe as posições e os pesos das empresas: alguns ETFs exibem uma boa diversificação, enquanto outros se concentram em poucas líderes.
Aceitação da Volatilidade e Gestão do Tamanho
“O fator crítico é o peso na carteira”, afirma Pacheco, da Empiricus Research. A euforia pode fazer uma posição aumentar de 10% para 30% sem que o investidor perceba. É fundamental manter uma perspectiva de longo prazo para a construção patrimonial e realizar rebalanceamentos, “vendendo na alta” quando o peso de um ativo foge do planejado.
BDR ou Investimento no Exterior?
Para investidores que optam por BDRs (títulos que representam ações de empresas de capital aberto no exterior), é recomendável escolher gestoras renomadas e ativos com boa liquidez. Para aqueles com maior capacidade de investimento, o mercado americano pode oferecer uma experiência mais satisfatória.
Custo é um Fator Relevante
Os ETFs, devido às suas taxas mais baixas, são uma maneira eficiente de entrar no setor altamente volátil, mantendo os custos controlados, ressalta Maria Jordão, da XP.