Nord considera “extremamente arriscada” a condição do crédito privado no Brasil caso a política fiscal não seja alterada.

Nord considera “extremamente arriscada” a condição do crédito privado no Brasil caso a política fiscal não seja alterada.

by Ricardo Almeida
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Avanços e desafios no mercado de crédito privado

Enquanto o mercado financeiro ainda está em processo de análise dos recentes acontecimentos envolvendo empresas como Braskem (BRKM5) e Ambipar (AMBP3), a Nord Investimentos tem emitido alertas aos investidores sobre os riscos estruturais presentes no mercado de crédito brasileiro, caso a situação fiscal do país não apresente mudanças significativas.

A visão da equipe foi compartilhada durante um evento nesta terça-feira, 21 de março. O entendimento é que a alta nas taxas de juros nos últimos anos impulsionou consideravelmente o mercado de crédito privado, que atualmente opera com spreads bastante inferiores se comparados aos títulos do Tesouro Nacional.

“As gestoras de crédito cresceram bastante, e a alta demanda fez com que os rendimentos diminuíssem. Os spreads caíram drasticamente”, afirma Marília Fontes, sócia-fundadora e analista de renda fixa da Nord. Contudo, as elevadas taxas de juros têm dificultado a situação das companhias emissoras desses papéis. Se a taxa de juros permanecer alta, a interpretação é de que eventos relacionados ao crédito se tornarão mais comuns, criando um risco estrutural para o mercado.

“Se não houver uma mudança na política econômica em um futuro próximo, teremos um aumento na frequência de eventos de crédito, que podem culminar em uma crise significativa. Isso ocorre em um momento em que muitos investidores, especialmente pessoas físicas, estão fortemente alocados nesses títulos. Essa situação pode ser extremamente perigosa”, adverte Fontes.

Cenário para crédito privado não é positivo

A Nord Investimentos explica que as elevadas taxas de juros têm levado naturalmente muitos investidores a direcionarem suas buscas para o mercado de crédito privado. Inicialmente, a demanda focou nas letras de crédito imobiliário (LCIs) e nas letras de crédito do agronegócio (LCAs). Esses títulos são emitidos por instituições financeiras e têm como lastro operações de crédito vinculadas aos respectivos setores.

No entanto, em 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou novas resoluções que modificaram dinamicamente a emissão desses papéis, estabelecendo a necessidade de um lastro maior e a imposição de prazos mínimos elevados. Essa combinação de regulamentações mais rigorosas e uma demanda robusta levou os bancos a reduzirem as taxas oferecidas aos investidores, resultando em uma diminuição na atratividade dessas aplicações financeiras.

Como consequência, tem ocorrido uma migração significativa, especialmente entre as pessoas físicas, para os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e debêntures incentivadas. Todos estes produtos apresentam riscos associados à esfera corporativa, diferentemente dos riscos bancários. “Desde 2023, especialmente após o episódio envolvendo a Americanas, os spreads diminuíram consideravelmente. Atualmente, estamos vivenciando um cenário de crédito privado com spreads negativos”, comenta Caio Zylbersztajn, sócio da Nord Investimentos. “E a pergunta que se faz é: por que os investidores aceitam esse nível de risco mesmo assim? A única resposta é a isenção de imposto”.

Segundo Zylbersztajn, um número significativo de investidores pessoa física está se expondo a riscos mais elevados, associados a empresas privadas que não possuem a segurança do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), e estão recebendo taxas inferiores às de títulos públicos.

Cenário perde-perde

A perspectiva da Nord é de que, com a continuidade das altas taxas de juros, as empresas tendem a aumentar seu nível de endividamento, gerando novos eventos de crédito como os vistos nas situações da Ambipar e Braskem. Por outro lado, se os juros caírem, os rendimentos dos fundos de crédito também diminuirão, levando os investidores—acostumados a altos retornos mensais— a migrar para outras classes de ativos, o que resultará em resgates e aumentos nos spreads.

“Atualmente, para adquirir um título de uma empresa com alta classificação de crédito, como os rotulados de Triple A ou Double A, o retorno que obtenho é inferior ao que receberia com um título público federal”, observa Zylbersztajn. “Estamos bastante pessimistas em relação a essa classe de ativos. Identificamos uma assimetria muito negativa”. Além disso, ele afirma: “Para aqueles que já possuem crédito privado, estamos ligeiramente reduzindo essas posições para realocar em títulos públicos e em outras classes de investimentos”.

A visão da Nord para os juros

A Nord avalia que, nos últimos dois meses, o otimismo do mercado em relação a uma mudança na governança do país diminuiu. Essa situação enfraquece a expectativa de juros estruturalmente mais baixos no Brasil, uma vez que o atual governo parece ter uma maior inclinação a aumentar os gastos públicos.

“Quando analisamos o cenário brasileiro, percebemos que estamos em uma situação em que estamos com um pé no acelerador e o outro no freio”, diz Fontes. “Apesar de o Banco Central ter elevado as taxas, os gastos públicos estão impulsionando a economia. Isso resulta em uma taxa de juros estruturalmente alta”.

Entretanto, de acordo com a análise da Nord, a pressão por juros elevados não se origina exclusivamente do Brasil. As taxas de juros nos Estados Unidos, que servem como um parâmetro para o Brasil, também devem permanecer em níveis elevados.

“Embora a desaceleração da economia americana esteja em curso e a inflação tendente a atingir as metas, isso não representa uma queda substancial da atividade econômica”, afirma Fontes. “Não vislumbramos uma redução acentuada na taxa de juros de longo prazo nos Estados Unidos devido à atual situação da sua dívida”.

A situação da Bolsa brasileira

Com um panorama desfavorável para o crédito privado, a Nord atualmente mantém uma perspectiva otimista em relação à Bolsa brasileira. Com o valuation bastante comprimido e restrições para quedas acentuadas, a empresa identifica uma assimetria positiva para os ativos listados.

“A Bolsa brasileira está sendo avaliada a preços muito baixos, e os juros reais estão tão altos que, mesmo com uma leve mudança na política econômica, o potencial de valorização é considerável”, ressalta Marília Fontes. “Ao mesmo tempo, sua baixa avaliação indica que, se os acontecimentos seguirem o mesmo caminho, não há tanto espaço para quedas”.

Contudo, com os juros estruturais ainda previamente elevados, a Nord acredita que os investidores permanecerão, pelo menos por um período, com o foco na renda fixa. “Isso implica que a movimentação da bolsa estará muito mais influenciada por fatores externos do que internos. Os investidores locais não buscarão ativos mais arriscados”, indica Marília. “Contudo, quando as taxas de juros americanas diminuírem em um contexto de desaceleração suave, e não de crise, será altamente benéfico para os mercados emergentes. E é essa a situação que observamos no momento”.

Fonte: www.moneytimes.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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