Microsoft e Desafios com a Cultura Organizacional
Reunião com Funcionários
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, se dirigiu aos funcionários em uma reunião realizada na quinta-feira, enfatizando que a empresa precisa trabalhar para melhorar as relações com os colaboradores. Esse pedido de atenção vem após o anúncio de diversas rodadas de demissões e uma decisão de retorno parcial às atividades presenciais.
Durante o encontro online, um empregado levantou a questão sobre a aparente falta de empatia na cultura da empresa nos últimos tempos e os passos que a Microsoft está tomando para reconstruir a confiança com sua força de trabalho. Nadella respondeu: "Agradeço profundamente a pergunta e o sentimento que a acompanha. Considero isso um feedback para mim e para todos na equipe de liderança, porque, no fim das contas, acho que podemos fazer melhor, e faremos melhor."
Demissões e Retorno ao Escritório
Os comentários do CEO surgem após a Microsoft ter cortado 9.000 empregos em julho, seguindo reduções menores nos meses anteriores. Na terça-feira, a empresa anunciou que os trabalhadores que residem nas proximidades de sua sede em Redmond, Washington, devem retornar ao escritório três dias por semana a partir de fevereiro, com a intenção de expansão desse modelo para outras localidades.
A chefe de recursos humanos da Microsoft, Amy Coleman, mencionou na reunião que a recepção à nova diretriz de retorno ao escritório foi mista, com alguns funcionários sentindo que estavam perdendo autonomia. No entanto, ela destacou que os colaboradores em Seattle já estão, em média, indo ao escritório 2,4 vezes por semana.
Experiência de Trabalho Remoto
Assim como muitas empresas do setor de tecnologia, a Microsoft adotou o trabalho remoto de forma integral durante a pandemia, utilizando amplamente suas próprias ferramentas de vídeo e chat, como o Microsoft Teams, que se tornaram populares nesse período. A Microsoft foi mais lenta do que muitos de seus concorrentes ao impor uma política de retorno ao escritório. Por exemplo, a Amazon, um dos principais rivais da Microsoft, convocou seus funcionários de volta ao escritório cinco dias por semana em janeiro.
Desempenho Financeiro e Críticas
Embora Nadella e a equipe executiva estejam enfrentando críticas de alguns colaboradores, Wall Street tem elogiado o crescimento e a execução da empresa. As ações da Microsoft subiram quase 20% este ano, superando o desempenho do mercado em geral, o que elevou a capitalização de mercado da empresa para US$ 3,7 trilhões, posicionando-a como a segunda empresa mais valiosa do mundo, atrás apenas da Nvidia.
Em julho, a Microsoft reportou um aumento de 24% em seu lucro líquido, alcançando US$ 27 bilhões. A margem bruta da empresa ficou abaixo de 69%, comparada a 71% no final de 2023. A empresa está rapidamente construindo e alugando infraestruturas de data center para atender à crescente demanda por inteligência artificial.
Pressões no Setor e Necessidade de Renovação
Nadella também destacou na reunião que, mesmo com a rápida expansão da Microsoft, a empresa está sentindo a pressão. Esse tipo de pressão é uma preocupação comum no setor de software, especialmente com o aumento da automação e seu impacto no mundo do trabalho. "Temos um trabalho muito, muito difícil pela frente, e esse árduo processo de renovação é basicamente o que temos que fazer", afirmou Nadella. "É necessário ter uma honestidade intelectual rigorosa sobre o que realmente precisa acontecer."
O negócio de nuvem Azure da Microsoft cresceu 39% no último trimestre, enquanto a receita proveniente do segmento de Windows e dispositivos aumentou apenas 2,5%. "Alguns dos maiores negócios que construímos podem não ser tão relevantes no futuro", disse Nadella. "Algumas das margens que adoramos hoje podem não estar lá amanhã, e isso significa que precisamos estar muito à frente do que está indo embora."
Valores Centrais e Questionamentos Públicos
A Microsoft, que comemorou seu 50º aniversário em abril, manterá seus valores centrais ao enfrentar as realidades do mercado, segundo Nadella. "Os mercados de capitais têm uma verdade simples. Não há permissão para qualquer empresa existir para sempre."
Outro tema controverso abordado na reunião foi a expectativa dos funcionários por detalhes de uma investigação de terceiros, após o jornal The Guardian relatar que o exército de Israel usou a infraestrutura de nuvem Azure da Microsoft para armazenar telefonemas de palestinos durante a invasão de Gaza. A Microsoft demitiu cinco funcionários após protestos em sua sede em Redmond, conforme uma declaração do grupo No Azure for Apartheid.
O presidente da Microsoft, Brad Smith, que recebeu os protestos em seu escritório, abordou o assunto na quinta-feira. Ele mencionou que ele e Coleman se encontraram com funcionários judeus da Microsoft, que enfrentaram assédio e ameaças e tiveram suas informações públicas compartilhadas online. "Nós não podemos controlar o que acontece fora da Microsoft, mas precisamos ser claros sobre uma coisa", afirmou Smith. "Não há espaço para antissemitismo na Microsoft, e como empresa e comunidade, protegeremos e defenderemos esse grupo contra isso."