O que Trump e Lula irão debater?

O que Trump e Lula irão debater?

by Fernanda Lima
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Discussões entre Brasil e EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve impor limitações na pauta de conversas com o presidente americano Donald Trump. Ele está disposto a tratar de temas que podem levar a um acordo, como a eventual colaboração na exploração de minerais críticos, especialmente as terras raras, e a regulação de grandes empresas de tecnologia, o que gera diversidade de opiniões entre os governantes. Outro ponto controverso é a crise na Venezuela.

Expectativas para a Reunião

Nos bastidores do governo brasileiro, autoridades que estão organizando a futura reunião entre Lula e Trump acreditam que essas questões poderão surgir nas conversas futuras, embora ainda não tenham sido abordadas diretamente. Trump tem enfatizado seu desejo de realizar “negócios” e acredita que Brasil e Estados Unidos “vão se dar muito bem juntos”. Essas declarações foram interpretadas como indícios de que ele procura um acordo na área econômica.

Lula já demonstrou que não possui barreiras em relação a temas de interesse mútuo, especialmente em relação à pauta energética. Com respeito aos minerais críticos, o governo brasileiro defenderá que os investimentos americanos são bem-vindos e que a extração e o processamento industrial devem ocorrer no Brasil. Durante a administração do presidente Joe Biden, os países assinaram um acordo voltado para pesquisas nessa área e manifestaram interesse em aprofundar o diálogo sobre minerais estratégicos, embora essa questão não tenha avançado sob a atual administração republicana.

Regulação Econômica

No contexto da regulação econômica e da moderação promovida pelas plataformas digitais, há um confronto mais notório. O governo Trump defende a total liberdade no setor e critica práticas de censura no Brasil, enquanto o governo Lula planeja avançar na regulamentação das grandes empresas de tecnologia. O governo brasileiro considera isso um exercício de soberania e afirma que não projeta restringir a liberdade de expressão nem discriminar empresas americanas.

Trump procura uma solução que represente uma vitória, conforme afirmam autoridades brasileiras. O governo Lula propõe um modelo “ganha-ganha”, como expressou o vice-presidente Geraldo Alckmin. Embora as opções sejam conhecidas, as conversas ainda não começaram. O Brasil já enviou uma proposta de acordo em julho, mas se queixou de nunca ter recebido uma resposta. O conteúdo completo da proposta não foi divulgado; no entanto, ambas as partes estão cientes do caminho a seguir e podem rapidamente preparar um conjunto de opções para os presidentes.

Reunião de Equipes em Washington

A futura reunião de equipes em Washington, prevista para a próxima semana, será conduzida pelos chanceleres Marco Rubio (EUA) e Mauro Vieira (Brasil) e deve dar início a debates mais aprofundados sobre os temas em questão. No início da próxima semana, enquanto Lula e Vieira viajarão a Roma, na Itália, para um evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Trump e sua equipe devem seguir para o Egito para formalizar documentos relacionados a um acordo de paz.

Se a reunião proposta para quinta-feira se concretizar, ela irá ocorrer antes de os presidentes se encontrarem em Kuala Lumpur, na Malásia, para a reunião de líderes da ASEAN, um bloco econômico do Sudeste Asiático. Embora Trump e Lula tenham agendado estar na mesma cidade, ainda não firmaram um encontro de trabalho.

Desafios para a Reunião

Entre os desafios para uma reunião imediata estão o shutdown orçamentário e a agenda externa de Trump, que inclui a mediação de um cessar-fogo entre o grupo terrorista Hamas e Israel, na Faixa de Gaza. As próximas oportunidades devem surgir apenas em meados de novembro, após a abertura da COP-30, conferência em que a presença de Trump é considerada improvável. Ele não deve participar do G-20 na África do Sul. Apesar do interesse mútuo, a possibilidade de visitas de Trump ao Brasil ou de Lula aos EUA no curto prazo é vista como bastante remota.

Temas Regionais: Venezuela e Haiti

O Departamento de Estado dos Estados Unidos informou que, além dos interesses econômicos mútuos, os líderes das diplomacias americana e brasileira deverão discutir “outras prioridades regionais”. Para autoridades do governo Lula, essa expressão sugere que a parte americana está interessada em abordar, além das questões bilaterais, temas como a crise de segurança no Haiti e a operação militar americana em torno da Venezuela, no mar do Caribe, justificadas como uma ação de combate ao narcotráfico.

Lula já manifestou críticas à abordagem militar para lidar com o crime, rejeitando categoricamente a definição de que as facções estão equiparadas ao terrorismo. Ele fez duras críticas à operação aérea e naval, comparando o bombardeio de pequenas embarcações venezuelanas, supostamente tripuladas por traficantes, à execução sem julgamento.

“Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias. A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela”, afirmou Lula.

O governo brasileiro se preocupa com as repercussões potenciais de uma tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro, temendo que isso possa exacerbar o êxodo venezuelano. Caracas está se preparando para resistir. A questão da imigração é sensível para ambos os governos e é considerada uma situação crítica no Palácio do Planalto.

Relacionamento Diplomático e Temas Comerciais

O governo brasileiro considera que a recusa de Lula em reconhecer a reeleição contestada de Maduro, um histórico aliado, e a escolha de evitar contato com o ditador, fortalece as possibilidades de diálogo com Trump. Lula ajudou a reabilitar Maduro no passado, mas afastou-se após ser ignorado e criticado pelo chavismo, que se recusou a validar os resultados eleitorais. O Planalto não considera romper laços diplomáticos.

Quanto à situação no Haiti, os EUA buscam um maior envolvimento direto do Brasil, que anteriormente liderou uma missão militar da ONU. O Brasil, no entanto, recusou pedidos da administração Biden para retomar uma posição semelhante, optando por oferecer apenas treinamento e assistência técnica.

Recentemente, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a ampliação da missão multinacional de apoio à segurança, liderada pelo Quênia, enfrentando desafios em relação ao número de agentes policiais e equipamentos disponíveis.

Questões Comerciais: Café, Carne e Etanol

Analistas do governo avaliam que o Brasil não deve fazer concessões em áreas de interesse dos EUA, como o café e a carne bovina, cujas escassez pode provocar inflação no mercado americano. Os produtores brasileiros atendem a cerca de 30% da demanda interna por café nos EUA. Durante uma ligação entre os presidentes, Trump mencionou que os americanos “sentem saudades” do café brasileiro. No primeiro mês das novas tarifas, o preço do café nos EUA subiu 21% em comparação ao mesmo período do ano anterior, marcando o maior aumento desde 1997.

Uma medida já considerada seria o governo americano permitir que todas as importações de café do Brasil fossem isentas da sobretaxa, uma sugestão que foi mencionada publicamente pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick.

Outro tema que deve gerar discussões acaloradas é o setor energético. O governo e a iniciativa privada do Brasil estão preparados para questionar a tarifa de 18% imposta sobre o etanol de milho americano, apresentando também preocupações quanto ao sistema de cotas e à taxation sobre o açúcar brasileiro nos EUA, que já atingiu níveis de 150% além da cota.

Os integrantes do governo acreditam que a situação na pauta bilateral é bem conhecida por ambos os lados, o que possibilita a busca por avanços concretos e rápidos como resultado de diálogos de alto nível técnico e político, antecipando a reunião presidencial. Este comércio foi amplamente debatido anteriormente no processo de investigação da Seção 301, do USTR, onde setores puderam expressar suas opiniões.

Desafios na Relação Bilateral

Interlocutores do Itamaraty e do Palácio do Planalto celebram os recentes progressos na relação entre Lula e Trump, mas alertam que o cenário ainda não está completamente resolvido. Não se considera que os desafios vinculados ao lobby bolsonarista em Washington tenham sido superados.

O governo brasileiro se sente satisfeito com a possibilidade de interromper a série de ataques à soberania nacional por meio das sanções e tarifas aplicadas, após estabelecimentos de um canal direto entre os presidentes, e celebra o fato de que até agora não houve discussões envolvendo questões políticas. Um membro do governo ressaltou que é vital não apenas conter danos, mas também “descontaminar” a relação bilateral em relação a aspectos divergentes.

Para a Presidência, distúrbios econômicos na parceria com os EUA podem gerar complicações políticas internas. A intenção é retirar do foco qualquer chance de interferência de Washington nas eleições presidenciais de 2026, seja por meio de sanções ou tarifas. Apesar de algumas suspeitas de que Trump poderia preferir um governo mais alinhado à direita, a prioridade é garantir a realização do pleito e minimizar riscos de contestação.

Na esfera diplomática, a ligação solicitada por Trump e atendida por Lula representa a continuidade de um encontro prévio durante a ONU, em Nova York, e mais uma etapa para a “construção de confiança” entre os líderes. Lula se surpreendeu com o tratamento respeitoso que recebeu, conforme relatado por uma fonte próximo da conversa, que foi mediada por um pedido da Casa Branca, articulado pela Embaixada Americana três dias antes.

Note-se que a parte americana se absteve de tocar em temas relacionados à política interna do Brasil, como no caso do processo contra Jair Bolsonaro, nem discutiram medidas judiciais que afetaram plataformas digitais. Assim como no discurso brasileiro, Trump e o Departamento de Estado mostraram um interesse concentrado na área econômico-comercial.

Entretanto, as posições conflitantes existentes entre os dois países permanecem inalteradas, apesar de um possível ajuste de rumo por parte de Washington. Interlocutores publicamente admitiram que o Planalto deve manter uma abordagem pragmática e não perder de vista que a crise não foi resolvida. Os dois lados ainda não discutiram setores econômicos que possam ser isentos de tarifas ou o eventual levantamento de sanções a autoridades brasileiras.

Embora tenha havido indícios de que o governo Trump está alterando sua abordagem, “normalidade” na relação ainda não foi alcançada, e um “desequilíbrio” persiste, necessitando de mobilização diplomática. Se Trump ainda não conseguiu eliminar a sobretaxa nem reverter as sanções aplicadas a autoridades do Supremo e do Planalto, ao menos conseguiu evitar novos ataques verbais e não anunciou, até o momento, novas punições.

Críticas públicas oriundas do Departamento de Estado, incluindo do secretário Marco Rubio e seus subordinados, estão ausentes, indicando uma potencial mudança no diálogo. Os diplomatas acreditam que a postura de Rubio, apesar do temor inicial no setor privado e no governo, é natural dada sua posição como secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca. Eles estimam que mesmo que não esteja satisfeito, ele irá seguir as diretrizes da política externa de Trump e já iniciou tratativas, por meio de uma chamada ao ministro Mauro Vieira.

Fontes do governo ressaltam que Trump começou a considerar outras perspectivas em relação à situação interna do Brasil após as críticas a Jair Bolsonaro, inclusive por meio de Richard Grenell, enviado especial das Missões Especiais de Trump, que visitou Rio de Janeiro para diálogo com Mauro Vieira em 15 de setembro.

Durante a conversa com Trump, Lula também abordou a questão do tarifaço de 50% (10% recíproco e 40% de sobretaxa), assim como as restrições de vistos e a Lei Magnitsky que impactaram autoridades brasileiras, afirmando que considera essas medidas “injustas”. O governo brasileiro enfatiza a importância de resolver esses pontos. Em um dos meses de recuperação dessas tarifas, houve uma declínio geral de 20% nas exportações brasileiras para os EUA.

Fonte: timesbrasil.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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