Movimentações no GPA
A novela do GPA (PCAR3) ganhou novos capítulos nos últimos dias. A Família Coelho Diniz, proprietária de uma rede de supermercados em Minas Gerais, voltou a aumentar sua participação na empresa e solicitou uma assembleia para votar a destituição do atual conselho.
As ações do GPA apresentaram alta de mais de 10% nesta segunda-feira (25), sendo negociadas a R$ 3,55. Parte do mercado indica que essa movimentação pode ser favorável, especialmente em relação à redução de custos.
A família mineira possui atualmente cerca de 24,6% do total das ações ordinárias do GPA, dono das marcas Pão de Açúcar e Extra. Em meados de julho, sua participação era de aproximadamente 17,7%.
Com essa nova aquisição, eles superaram o grupo francês Casino, ex-controlador da empresa, que atualmente detém 22,5% das ações.
Conforme o fato relevante que requisita a assembleia, publicado no último sábado (23), a dissolução do board tem como objetivo equilibrar a representatividade dos acionistas dentro do GPA. Essa proposta foi bem recebida pela administração da companhia. No entanto, existem rumores sobre disputas em andamento.
Familia Coelho Diniz
Em nota à imprensa, a família Coelho Diniz ressaltou sua tradição no varejo de Minas Gerais. O grupo é controlador da rede de supermercados que leva seu nome, fundada há 33 anos, contando com 22 lojas espalhadas por sete cidades de Minas Gerais, além de um centro de distribuição localizado em Governador Valadares.
Representada por André Coelho Diniz — que já faz parte do conselho de administração do GPA —, a família informou que iniciou sua participação no capital da empresa controladora do Pão de Açúcar em fevereiro deste ano, com a compra de aproximadamente 5% das ações.
Desde então, ampliaram gradativamente sua participação por meio de novas aquisições, alcançando o percentual atual. O grupo afirma que pretende manter um diálogo construtivo com os demais acionistas e com os futuros integrantes do novo conselho de administração do GPA.
Segundo a nota, a família planeja conduzir os negócios com rigor, manter níveis adequados de alavancagem e buscar um crescimento estável e consistente, sempre com excelência na gestão.
Disputas no GPA ligadas a gastos
Nos últimos meses, os gastos do GPA estiveram no centro de algumas disputas internas. No começo de julho, um conflito sobre a remuneração de conselheiros ganhou destaque.
De um lado, membros ligados à família Coelho Diniz e ao investidor Rafael Ferri pediam uma remuneração menor ao board. Do outro lado, estavam Ronaldo Iabrudi e membros próximos ao Casino.
Enquanto os novos participantes sugeriram que o GPA eliminasse a remuneração de conselheiros e estabelecesse, em seu lugar, um programa de pagamento em ações alinhado com a recuperação do GPA, a administração propôs reduzir os salários em 20%, com exceção do VP do conselho, Christophe Hidalgo.
O conflito resultou em uma reclamação formal à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entre as alegações do grupo ligado aos Coelho Diniz, estavam a discordância sobre a remuneração diferenciada e a possibilidade de votos casados.
“Casino e Ronaldo vão conseguir três cadeiras. Já o grupo liderado por André Coelho Diniz deve garantir de cinco a seis cadeiras. Uma das prioridades será, sem dúvida, a redução de custos e de capex”, declarou uma fonte com conhecimento do assunto.
“O Casino deixou um legado de despesas excessivas e regalias para conselheiros e executivos. Um legado destrutivo. O CEO do GPA utiliza três seguranças pagos pela empresa, enquanto há executivos em companhias muito maiores que não possuem esses benefícios”, completou. Para a fonte, a nova mesa pode ser capaz de reverter a direção do GPA.
“Se houver uma mudança de rota, será uma festa. São 17 trimestres consecutivos de prejuízos”, comentou outra fonte próxima ao conselho.
Modelo de negócio
Os dois grupos também se esforçaram para afastar o temor do mercado de que o novo board alterará o modelo de negócio do GPA.
Há cerca de duas semanas, durante as disputas, as ações do GPA reagiram de forma negativa à notícia de que o diretor de negócios Fréderic Garcia havia renunciado. Ele era responsável pela implementação do modelo de proximidade, a principal aposta da companhia nos últimos anos.
“Não há nada em discussão nesse sentido”, declarou uma das fontes. “A estratégia continuará, muito provavelmente, no modelo de proximidade e talvez integrando ainda mais o modelo de e-commerce, transformando-os em centros de distribuição de última milha”, completou outra fonte.
Uma analista do setor observou que a mudança pode abrir espaço para que os representantes “busquem os resultados que a empresa pode entregar”, além de possibilitar uma redução da alavancagem. O GPA interrompeu recentemente a abertura de novas unidades. Contudo, a dívida líquida da companhia está em torno de R$ 2,6 bilhões, configurando um múltiplo de alavancagem, medido pela relação deste valor com o Ebitda, de 3 vezes.