Por que o produto gera discussão sobre conflito de interesses e o sistema de comissões – Educação Financeira – As principais notícias do mercado financeiro.

Por que o produto gera discussão sobre conflito de interesses e o sistema de comissões – Educação Financeira – As principais notícias do mercado financeiro.

by Rafael Martins
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Críticas aos Certificados de Operações Estruturadas (COEs)

Não é surpreendente que haja críticas direcionadas aos Certificados de Operações Estruturadas, vulgarmente conhecidos como COEs, refletindo sua "má fama" no mercado de investimentos. Recentemente, o caso da Ambipar trouxe à tona discussões sobre a confiabilidade e a segurança desse tipo de produto financeiro. Na iminência de recuperação judicial da empresa, instituições financeiras como XP e BTG Pactual tomaram medidas drásticas quanto aos COEs associados à companhia.

Posicionamento das Instituições Financeiras

A XP decidiu antecipar o vencimento dos COEs e liquidou os ativos, resultando na devolução de apenas 6,88% dos valores inicialmente investidos pelos clientes. Por sua vez, o BTG Pactual alterou sua metodologia de avaliação dos ativos. A nova abordagem fez com que os investimentos passassem a ser avaliados com base na cotação atual das ações da Ambipar na bolsa de valores. Essa mudança levou a uma situação onde os investimentos realizados por clientes do banco praticamente se tornaram sem valor, dado o deslizamento dos títulos da empresa. As instituições não se pronunciaram sobre o ocorrido quando procuradas.

Debate sobre os Riscos dos COEs

Esse episódio envolvendo a Ambipar reacendeu uma discussão mais ampla sobre os riscos associados aos COEs e levantou questões sobre o conflito de interesses na comercialização desse produto. Especialistas apontam que a atuação dos assessores, que muitas vezes têm suas comissões vinculadas à venda desses papéis, pode levar à recomendação desse tipo de investimento a clientes que não estão plenamente cientes dos riscos envolvidos. O produto em si não é necessariamente prejudicial, mas apresenta uma estrutura complexa que combina características de renda fixa e renda variável.

Estrutura dos COEs

Os COEs podem incluir vinculações a diversos ativos, como commodities, ações, títulos de renda fixa e moedas. Existem também produtos que reúnem mais de uma dessas características em um único ativo, resultando em uma variedade significativa, com diferentes emissores, taxas e prazos, o que impacta diretamente os níveis de risco associados. Especialistas como Fernando Gonçalves, sócio da The Hill Capital, afirmam que, para investidores que buscam diversificação e acesso a mercados globais, os COEs podem ser uma alternativa interessante, desde que estes compreendam adequadamente os riscos e o cenário de retorno.

Adequação do Produto para Diferentes Perfis

No entanto, para Josias Bento, especialista em investimentos da GT Capital, os COEs não são adequados para todos os perfis de investidor. Ele menciona que esse produto pode ser mais apropriado para investidores qualificados ou institucionais que possuem um entendimento mais profundo dos riscos envolvidos e da baixa liquidez que o ativo apresenta. Bento ressalta que, muitas vezes, existem alternativas mais simples e eficazes disponíveis para investidores de varejo.

Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren Investimentos, compartilha da mesma opinião, enfatizando que a grande maioria dos investidores pessoas físicas não teria necessidade de incluir COEs em suas carteiras, dadas as inúmeras opções que apresentam menos complexidade. O debate em torno da oferta de COEs para o público em geral é frequentemente objeto de críticas, especialmente em casos como o da Ambipar, que servem de alerta para as autoridades sobre as responsabilidades envolvidas na inovação financeira.

Conflito de Interesses

Os especialistas concordam que o problema não reside na natureza do produto em si, mas na maneira como ele é comercializado. No caso dos COEs da Ambipar, muitos assessores apresentaram o ativo como se fosse um investimento de renda fixa, associando-o erroneamente à segurança. Essa apresentação levou os investidores a confiarem nas recomendações sem avaliar cuidadosamente os documentos do produto, que destacavam avisos relevantes sobre o risco de crédito do emissor, a falta de proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e a possibilidade de perda total do capital investido.

Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, argumenta que, embora o produto possa ser viável, quem o comercializa deve possuir um conhecimento profundo para transmitir todas as informações necessárias aos investidores. Contudo, essa habilidade nem sempre está presente, e os episódios negativos acabam sendo uma representação distorcida do cenário geral, onde existem muitos profissionais competentes e investimentos bem-sucedidos.

Modelo de Comissões no Mercado

A abordagem no mercado financeiro, em que a remuneração dos assessores está atrelada a comissões baseadas nos produtos vendidos, é considerada um fator que contribui para a situação. Os COEs, que costumam ter comissões elevadas—variando de 5% a 10%—tendem a receber uma atenção desproporcional, criando um incentivo para a sua venda, mesmo em casos onde não se adequam ao perfil do investidor. Fred Nobre destaca essa discrepância, mencionando que a dinâmica do mercado financeiro favorece a comercialização de produtos que proporcionam retorno maior às instituições, em detrimento da adequação ao cliente.

O Papel dos Assessores e a Necessidade de Mudança

Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (ABAI), ressalta a importância de não rotular todo o mercado de assessoria por conta de falhas pontuais. Ele salienta que, assim como em outras profissões, existem tanto assessores competentes quanto aqueles que carecem de formação e experiência. Ramiro afirma que a questão que envolve os COEs não deve ser atribuída exclusivamente aos assessores, mas sim a uma série de fatores, incluindo as práticas do setor regulatório e das instituições que oferecem esses produtos.

Em resposta a esse cenário, a Warren e o Asset Bank operam com um modelo de remuneração fee-fixo, diferente do sistema de comissões. Esse modelo já é comum em mercados desenvolvidos e tende a oferecer uma gestão de carteira mais independente. A estrutura de remuneração baseada em comissões é vista como um fator de conflito e necessidade de reforma, pois os produtos são muitas vezes utilizados de maneira que beneficie mais as instituições do que os próprios investidores.

Fonte: einvestidor.estadao.com.br

As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. Não constituem recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. O mercado de capitais envolve riscos e cada investidor deve avaliar cuidadosamente seus objetivos, perfil e tolerância ao risco antes de tomar decisões. Sempre consulte profissionais qualificados antes de realizar qualquer investimento.

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