Aumento das Tarifas e Implicações para a Pobreza
O extenso regime tarifário implementado pelo presidente Donald Trump já está remodelando o comércio global e contribuindo para o aumento da receita alfandegária do governo dos Estados Unidos. No entanto, essa medida, que representa um aumento histórico nas tarifas sobre importações, pode, segundo uma nova pesquisa, levar mais americanos à condição de pobreza.
Uma análise publicada pelo The Budget Lab de Yale na terça-feira, 9 de setembro, revela que os aumentos nas tarifas poderão resultar em um aumento no número de americanos vivendo na pobreza em aproximadamente 875 mil até 2026, incluindo 375 mil crianças adicionais. Estes dados são calculados com base na Medida Oficial de Pobreza, uma métrica tradicional que leva em consideração a renda antes dos impostos.
Impacto nas Famílias de Baixa Renda
As tarifas e os aumentos de preços associados tendem a afetar mais severamente as famílias de baixa renda, pois elas geralmente gastam uma maior porcentagem de seus salários em despesas essenciais em comparação com as famílias de alta renda. Isso torna esses grupos mais vulneráveis a variações de preços. Além disso, economistas apontam que famílias de menor renda costumam adquirir um maior volume de produtos importados, que estão mais sujeitos aos aumentos de preços ocasionados pelas tarifas.
John Ricco, diretor associado de análise política do The Budget Lab, comentou: "As tarifas são um imposto sobre as famílias americanas". Ele explicou que, por serem tributos sobre bens e serviços e não sobre a renda, essas tarifas pesam mais nas pessoas que gastam uma maior parte de sua renda do que aquelas que conseguem poupar.
The Budget Lab também projeta que a taxa de pobreza irá crescer para 10,7% ao considerar as tarifas de Trump, um aumento em relação à taxa de 10,4% que se aplicaria na ausência dessas taxas.
Vivendo com Renda Limitada
De acordo com informações do Departamento do Censo dos Estados Unidos, cerca de 36 milhões de pessoas estavam vivendo na pobreza no final do último ano. A taxa de pobreza teve uma diminuição de 0,4 pontos percentuais, caindo para 10,6%. Essa diminuição se deu principalmente em função do fato de que os salários e rendimentos acompanharam o custo de vida, conforme dados do Censo.
A análise do The Budget Lab mostrou que a pobreza também aumentaria quando avaliada pela "medida suplementar de pobreza". Essa medida é mais abrangente, pois considera programas governamentais, como o vale-refeição, e despesas com cuidados infantis e saúde. A pesquisa indica que as tarifas de Trump poderiam elevar o número de americanos vivendo na pobreza em até 650 mil em 2026, resultando em um total que incluiria 150 mil crianças. Com isso, a taxa de pobreza subiria de 12% para 12,2%.
Essas descobertas destacam as repercussões dos aumentos de preços decorrentes das tarifas, especialmente para os cidadãos que já vivem em situação de salário a salário. O aumento nos preços ameaça o poder de compra dos consumidores, o que, para aqueles com rendimentos mais baixos, pode ter um impacto severo.
O porta-voz da Casa Branca, Taylor Rogers, em uma declaração à CNN Internacional, argumentou que a agenda econômica do primeiro mandato de Trump proporcionou prosperidade às famílias da classe trabalhadora e contribuiu para a redução da desigualdade de renda. Segundo ele, "À medida que essa mesma agenda America First de cortes de impostos, tarifas, investimentos sem precedentes, desregulamentação e domínio energético continua a fazer efeito durante o segundo mandato do presidente Trump, os americanos podem confiar que o desastre econômico de Joe Biden está chegando ao fim".
Situação Econômica e Cálculos de Inflação
Rogers também mencionou que o relatório de inflação no atacado, que apresentou números mais baixos do que o esperado, é uma evidência de que "a inflação esfriou e as tarifas não aumentaram os preços como os especialistas haviam previsto". Os preços ao produtor sofreram uma queda inesperada de 0,1% entre julho e agosto, reduzindo a taxa anual de inflação para 2,6%.
Entretanto, essa queda foi impulsionada por uma diminuição nos serviços comerciais, que refletem as margens de lucro de varejistas e atacadistas. A redução nas margens de lucro indica que as empresas podem estar absorvendo os custos mais altos resultantes das tarifas em seus resultados financeiros.
Reduções nos lucros podem forçar algumas empresas a repassar esses custos para os consumidores, elevando os preços, ou a fazer cortes em outras áreas, como demissões ou suspensões de contratações. Economistas do Barclays advertiram que a inflação no atacado de agosto "não estava tão fraca quanto parece" e notaram que, excluindo as margens comerciais, "a inflação estava razoavelmente firme".
Tarifas em Nível Histórico
Os aumentos tarifários implementados sob a administração Trump têm sido considerados históricos. Com base nas novas tarifas estabelecidas pelo presidente, a taxa tarifária efetiva média nos Estados Unidos saltou para 17,4%, a mais alta desde 1935, conforme dados divulgados pelo The Budget Lab. Caso os níveis atuais sejam mantidos, essa taxa permaneceria em 17,4%.
Com as políticas comerciais se alterando rapidamente, grande parte das tarifas impostas está atualmente em um limbo jurídico. A Suprema Corte dos Estados Unidos concordou em ouvir argumentos sobre a política tarifária global do presidente. Espera-se que os juízes revertam a decisão de um tribunal inferior que anulara tarifas específicas por país, argumentando que Trump teria se apoiado ilegalmente em poderes de emergência.
Caso a Justiça declare as tarifas como ilegais, isso eliminaria a grande maioria, cerca de 71%, das cobranças impostas até 2025, conforme as análises do The Budget Lab. No entanto, analistas próximos à administração Trump afirmam que o presidente possui outros poderes que poderiam ser utilizados para tentar manter várias tarifas ainda em vigor.