Potencial de Ganho em Títulos do Tesouro
O especialista avalia que o potencial de ganho em títulos do Tesouro Direto não está diretamente atrelado a uma expectativa otimista exagerada, mas sim à busca por uma normalidade nas taxas de juros. Ele ressalta que, caso as taxas voltem ao que foram na média dos últimos 10 a 15 anos, em torno de 5,5% a 6%, é viável capturar um upside (valorização) interessante.
Se a rentabilidade de 22% ocorrer em um período de 12 meses, isso equivale a uma taxa que representa 150% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), um retorno que é considerado atrativo para investidores que decidirem realizar o lucro através da venda do título. Títulos com vencimentos mais longos, como o IPCA + 2040 ou 2050, apresentam um maior potencial de valorização, mas também estão associados a um risco mais elevado.
A volatilidade de rendimento em títulos de renda fixa antes do vencimento é referida como duration, que é a métrica que indica a sensibilidade do título às oscilações nas taxas de juros. Quanto maior o prazo, mais significativa a variação de preço.
Riscos de Crédito e de Mercado
Os títulos do Tesouro IPCA+ possuem a característica de serem de renda fixa apenas no vencimento, conforme destaca Rodolfo Viola, especialista de renda fixa da Ágora. Durante o período até o vencimento, esses títulos podem oscilar tanto quanto ações na bolsa, podendo gerar prejuízo para aqueles que necessitam resgatar a aplicação antes do final do prazo.
Viola menciona o conceito de Value at Risk (VaR) para enfatizar a volatilidade associada a títulos de longo prazo. Ele explica que existem dois principais riscos ao investir em NTN-Bs (Tesouro IPCA+), sendo eles: o risco de crédito, pois o investidor se torna credor do governo federal, e o risco de mercado, que está relacionado à variação do preço do título de acordo com as mudanças nas condições econômicas. Ao analisar o VaR de uma NTN-B longa, este pode ser comparável ao do Ibovespa.
No tocante aos papéis com vencimento em 2035, Luigi Wis, da Genial, aponta que eles apresentam um melhor equilíbrio entre risco e retorno. Atualmente, esses títulos oferecem um retorno de IPCA + 7,41% ao ano, com vencimento previsto para daqui a 10 anos. O investidor que optar por estes papéis comprará a um preço unitário aproximado de R$ 2.294.
Se a taxa de juros reduzir e o título passar a oferecer IPCA + 6%, por exemplo, o seu preço pode subir para R$ 2.758. A venda nesse contexto resultaria em um retorno superior a 22%. Isso ocorre porque, quando as taxas de juros diminuem, os títulos se tornam mais valorizados, uma vez que eles passam a oferecer um retorno superior às novas taxas de mercado, o que os torna mais atrativos.
Cenário Eleitoral e Fiscal
No entanto, em um contexto pré-eleitoral no Brasil, não é possível garantir que as taxas de juros entrem em uma trajetória de queda, mesmo com o mercado antecipando o início de um novo ciclo de cortes na Selic para 2026. Esse risco é uma das razões que tornam o título com vencimento em 2035 atraente. Segundo Wis, o Tesouro IPCA + 2035 proporciona um bom potencial de valorização, mas com um risco controlado. Mesmo diante de um cenário negativo, é improvável que a rentabilidade se torne negativa no curto prazo.
O cenário fiscal brasileiro continua a ser um fator de risco, especialmente em relação à forma como esses problemas serão abordados a partir de 2027. A credibilidade da política de gastos do governo será questionada. Esse é um dos fatores que leva os economistas do mercado, com base no Boletim Focus do Banco Central, a projetarem taxas reais de juros ainda altas, acima de 6%, ao final de 2028, prevendo um IPCA de 3,7% e uma Selic de 10%. Juro real é a taxa de juros descontada da inflação.
Segundo Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, mesmo com as projeções do Focus indicando juros reais acima de 6% em 2028, isso não é uma garantia, mas reforça a ideia de que pode não ser vantajoso investir tudo em uma queda das taxas de longo prazo. Ele observa que acreditar nesse cenário não é irracional, mas requer convicção por parte do investidor.
Ambiente Externo Favorável
Luigi Wis demonstra ter essa convicção. Apesar das previsões do Focus, ele vê uma alta probabilidade de uma melhora no cenário, em decorrência de um ambiente externo mais favorável, com novos cortes de juros nos Estados Unidos e um dólar mais fraco devido à política comercial estabelecida durante o governo de Donald Trump. Esse movimento pode criar espaço para que o Banco Central brasileiro inicie um ciclo de cortes em 2026, avalia.
Ademais, caso o mercado perceba uma maior probabilidade de alternância de poder no Brasil, com a expectativa de um governo mais comprometido com o ajuste fiscal, a combinação desses fatores poderia criar um forte impulso para uma queda ainda mais acentuada das taxas de juros. De acordo com Wis, “Eu não duvido que, em um cenário desse tipo, as taxas de juros reais de médio prazo possam cair para menos de IPCA + 6, buscando 5,5% ou até 5%.”
No entanto, um cenário tão positivo depende de várias variáveis, e, por essa razão, os títulos do Tesouro IPCA+ 2035 oferecem a melhor relação risco-retorno, incluindo em comparação à bolsa de valores. Isso ocorre porque, em alguns cenários negativos, o título com esse prazo de vencimento protege melhor o investidor e ainda apresenta potencial de retorno no curto prazo. Da mesma forma, “quem adquire uma NTNB 2035, em um cenário negativo, dificilmente enfrentará rentabilidade negativa. Já na bolsa, em circunstâncias similares, a redução seria significativa.”
Bolsa versus Renda Fixa: Riscos Distintos
Rodolfo Viola, da Ágora, confirma o significativo potencial de ganho dos papéis de longo prazo, mas alerta que a comparação entre ações e renda fixa não deve ser feita de forma excludente. Ele enfatiza que essa avaliação deve ser feita dentro de uma estratégia diversificada. “Bolsa e Tesouro IPCA+ são classes de ativos distintas, com características próprias. Diversificar entre ambas pode manter um potencial de retorno atraente, com um risco global menor do que optar apenas por uma delas.”
Por outro lado, ele não descarta a possibilidade de que as taxas de juros permaneçam elevadas por mais tempo, conforme indicado pelo Boletim Focus; no entanto, isso não desqualifica a estratégia de NTN-Bs de longo prazo. “Uma NTN-B, se mantida até o vencimento, proporcionará exatamente a performance estabelecida no momento da compra. É essencial que o investidor entenda esse risco de mercado antes de decidir entrar.”
Investir no Tesouro IPCA+ com vencimentos longos é visto como uma opção mais segura em comparação a ativos de maior risco, conforme a opinião de Jeff Patzlaff — desde que o investidor esteja ciente de que o ganho extra depende da diminuição das taxas. “A bolsa apresenta um tipo diferente de risco, mas também oferece um tipo distinto de retorno possível, considerando que as empresas podem crescer ou não, os lucros podem surpreender, e reformas podem tanto beneficiar quanto prejudicar.”
Fonte: einvestidor.estadao.com.br