Ambipar: Situação Atual e Desafios
A Ambipar (AMBP3) solicitou proteção judicial contra credores, um passo que pode ser considerado como uma forma antecipada de recuperação judicial. Este movimento gerou preocupação entre analistas que acompanham a empresa, levando a um alerta de um dos poucos analistas que monitoram suas ações.
Análise do UBS BB
De acordo com o banco UBS BB, a ação da companhia foi colocada em observação por conta de sua atual situação, caracterizada por dificuldades na gestão de liquidez e governança, aspectos que têm impacto direto na avaliação de mercado da empresa.
Na segunda-feira passada, a ausência do diretor financeiro João Arruda, que renunciou ao cargo, levantou suspeitas sobre problemas internos. Desde esse evento até o dia 25, quando o pedido de recuperação foi formalizado, o valor das ações da Ambipar caiu 46%. No entanto, nos últimos dois dias, o valor das ações se recuperou, apresentando uma alta de 26%. A empresa está avaliando uma possível reestruturação financeira.
Crescimento e Fragilidades
A Ambipar se expandiu rapidamente nos últimos anos, sendo responsável por mais de 70 fusões e aquisições. Contudo, essa rápida expansão expôs fragilidades relacionadas à governança e à solidez de seu balanço patrimonial.
Conforme estimativas do UBS BB, a companhia encerrará o ano de 2024 com uma dívida líquida em torno de US$ 6,1 bilhões e uma relação de dívida líquida/Ebitda projetada em 3,2 vezes para 2025. No final do segundo trimestre, a dívida líquida da empresa alcançava quase R$ 6 bilhões, o que resulta numa alavancagem de 2,56 vezes o Ebitda anualizado.
A alavancagem sempre foi identificada como um risco para a empresa. Em declarações feitas anteriormente ao Money Times, o ex-CFO João Arruda mencionou que a companhia estava em um processo de redução de dívidas após a aquisição de várias empresas desde seu IPO em 2020.
O UBS BB ressaltou que a integração das aquisições realizadas tem sido demorada e que a estrutura holding da empresa ainda é ineficiente em termos fiscais, apresentando taxas de impostos efetivas que podem chegar a até 76% em 2023.
Problemas nos Títulos de Dívida
Na última segunda-feira, surgiram informações no mercado que as condições financeiras da Ambipar não eram favoráveis. Naquele dia, os títulos de dívida com vencimento em 2031 caíram significativamente no mercado internacional.
Pouco antes, a empresa havia anunciado sua sétima emissão de debêntures, totalizando R$ 3 bilhões. Durante esse mesmo período, o Deutsche Bank exigiu um aditivo de R$ 118 milhões, que impactou suas finanças, podendo acelerar sua dívida em até R$ 10 bilhões. Relatos indicam que o contrato com o banco alemão estipulava um aditivo em caso de desvalorização dos títulos no mercado internacional.
Como resultado, a Ambipar se viu forçada a buscar proteção judicial, argumentando que as exigências do banco vão além do que estava previamente acordado.
Concorrência em Aproveitamento
Analistas do UBS BB alertam que empresas competidoras, como a Orizon (ORVR3) e outras empresas internacionais que atuam na gestão de resíduos, podem aproveitar a crise da Ambipar para conquistar participação de mercado. O setor ambiental, embora estruturado em contratos de longo prazo, pode permitir que os concorrentes se aproveitem desse momento para desafiar a posição de mercado da Ambipar, além de afetar sua capacidade de precificação.
Fatores de Risco
Em relação à situação da Ambipar, os analistas identificaram três principais fatores de risco:
Cláusulas de dívida e risco de liquidez: Existe uma potencial exposição à inadimplência cruzada, estimada em até US$ 10 bilhões, o que pode reformular o risco de crédito da empresa.
Governança: A falta de supervisão sobre acordos financeiros anteriores e uma abordagem reativa nas divulgações têm prejudicado a confiança nos dados financeiros fornecidos, além de impactar o controle estratégico da companhia.
- Sensibilidade da marca: A reputação da empresa é crucial para as operações, especialmente em situações de emergência e no gerenciamento de resíduos. Este aspecto, atualmente, pode atuar como um fator negativo.
Desempenho das Ações
Nos últimos doze meses, as ações da Ambipar tiveram uma valorização expressiva, subindo 600%, passando do patamar de R$ 8 para R$ 162. Em uma análise a mais longo prazo, desde os níveis mínimos em 2024 até agora, a valorização chega a impressionantes 1000%.
Essa ascensão das ações teve início em maio de 2024, impulsionada pelas compras do próprio controlador da empresa e por um programa de recompra de ações da Ambipar. O movimento foi intensificado pela entrada de fundos da Trustee, resultando em um fenômeno de "short squeeze", onde investidores que apostavam na queda das ações foram forçados a recomprá-las, intensificando ainda mais a alta.
Fonte: www.moneytimes.com.br