Crescimento da Parceria entre Oracle e OpenAI
A crescente desconfiança sobre a viabilidade do acordo de vários anos entre a Oracle e a OpenAI, uma empresa que ainda não reportou lucros, tem se tornado um tema recorrente no mercado. Os impressionantes resultados da Oracle, divulgados na terça-feira, geraram otimismo em relação à sustentabilidade da demanda por inteligência artificial a longo prazo. Na quarta-feira, as ações da Oracle saltaram 36%, marcando o melhor desempenho desde 1992. Entretanto, dúvidas começam a surgir em relação às previsões de crescimento, especialmente em virtude da concentração de clientes e da elevada alavancagem financeira da empresa.
Obrigações de Performance e Concentração de Clientes
A Oracle informou que possui obrigações de performance restantes (RPO) de US$ 455 bilhões, um aumento expressivo de 359% em relação ao ano anterior. Contudo, a maior parte desse total está vinculada a um único cliente: a OpenAI. Ou seja, o mercado está apostando na capacidade da OpenAI em cumprir com seu compromisso financeiro. O canal CNBC confirmou um relatório do Wall Street Journal que indicava que a OpenAI concordou em adquirir US$ 300 bilhões em poder computacional da Oracle ao longo dos próximos cinco anos, com início em 2027.
A OpenAI já se comprometeu com mais de US$ 100 bilhões em outros projetos relacionados à inteligência artificial e nuvem, enquanto apresenta uma receita recorrente anual de aproximadamente US$ 12 bilhões. De acordo com Gil Luria, diretor administrativo da D.A. Davidson, a OpenAI precisaria gerar mais de US$ 300 bilhões em receita para "justificar esse nível de gasto". Luria é um dos poucos analistas que mantêm uma classificação neutra para as ações da Oracle após o relatório trimestral da empresa. Ele expressou que "nossa empolgação com os anúncios de backlog da Oracle é significativamente atenuada pelo fato de que praticamente toda ela vem da OpenAI".
Desafios Financeiros e Expectativas
Luria também destacou que o status sem fins lucrativos da OpenAI limita sua capacidade de captar os US$ 40 bilhões que levantou em março. Ele acredita que essa questão poderá ser resolvida até o próximo ano, dada a participação da Microsoft na empresa. A meta de preço de Luria é de US$ 300, o que sugere que as ações da Oracle — que subiram 75% no ano — poderiam ter uma valorização inferior a 3% em relação ao fechamento da última sexta-feira. Na última sexta, as ações da Oracle caíram 5%, à medida que investidores buscaram realizar lucros após a alta de mais de 25% durante a semana.
Análises Equilibradas
O analista do JPMorgan, Mark Murphy, também mantém uma classificação neutra para a Oracle. Murphy avaliou que o risco e a recompensa parecem equilibrados após os ganhos obtidos na semana. Ele elevou sua meta de preço para o final do ano em US$ 60, alcançando US$ 270, mas isso implica que as ações podem sofrer uma queda de mais de 7%. Ele apontou que mais de 70% da receita total da Oracle é recorrente e prevê que a empresa possa se beneficiar de uma rotação do mercado em direção a ações de valor, classificando-a como um "porto seguro relativo" no setor de software.
Entretanto, os detalhes nebulosos dos contratos da Oracle permanecem uma preocupação para o analista. Murphy observou que a Oracle está fechando negócios fora do escopo da OpenAI, incluindo pelo menos outros dois contratos avaliados em "multibilhões de dólares". Contudo, há falta de clareza sobre se esses "multibilhões" se somam a US$ 4 bilhões do saldo de RPO de US$ 455 bilhões, ou ainda a valores superiores, como US$ 10 bilhões, US$ 50 bilhões ou US$ 100 bilhões. Essa incerteza é um fator crucial na análise de risco da concentração de clientes e na probabilidade de que consigam financiar os US$ 455 bilhões em pagamentos futuros. Muitas empresas de tecnologia lidam com dívidas líquidas, ou possuem reservas de caixa mínimas, ou ainda enfrentam a queima de caixa nos próximos anos — e essa lista não se restringe apenas à Oracle.
Desempenho e Condições de Mercado
Embora os ganhos das ações da Oracle tenham levado a empresa à décima maior posição do S&P 500, suas reservas de caixa apresentam um cenário diferente em comparação com os concorrentes. Ao final do trimestre que se encerrou em 31 de maio, a empresa reportou US$ 11,2 bilhões em caixa e investimentos de curto prazo, um valor significativamente inferior ao "Grupo dos Magníficos Sete". Empresas como Microsoft e Alphabet, a controladora do Google, possuem um capital de reserva em torno de US$ 95 bilhões cada uma.
É importante notar que, no ano fiscal de 2025, a Oracle apresentou um fluxo de caixa livre de US$ 5,8 bilhões, o que representa um aumento considerável em relação aos US$ 394 milhões do ano anterior.
Considerações sobre a Bolha de IA
A movimentação expressiva das ações da Oracle nesta semana pode sinalizar indícios de uma bolha no setor de inteligência artificial, conforme a opinião de Gary Marcus, professor da Universidade de Nova York e fundador da Geometric Intelligence. Segundo ele, a OpenAI é mais vulnerável do que muitos imaginam, especialmente após a recepção decepcionante do lançamento da versão Chat GPT-5 e pela ausência de uma vantagem técnica.
Marcus afirmou: "Há muitas razões para questionar se a OpenAI realmente conseguirá cumprir com suas promessas. Existem muitos modos pelos quais as coisas podem dar errado para eles — ter apenas um cliente com quem se possui esse acordo, que pode nem mesmo ser capaz de pagar as contas. E, é claro, a Oracle também enfrenta seus próprios problemas financeiros e não possui os chips necessários".
Além disso, especialistas em redes sociais têm alertado sobre os riscos de um ecossistema de IA interconectado, que depende de parcerias estreitas entre os fabricantes de modelos de IA, os fornecedores de hardware para GPUs e os desenvolvedores de software.
O executivo Ophir Gottlieb, da Capital Market Laboratories, questionou em uma postagem que "como exatamente tudo isso irá funcionar? A Oracle precisa comprar os chips, assumir mais dívidas, enquanto a OpenAI já tem US$ 10 bilhões em receita, mas gastará US$ 60 bilhões por ano em CapEx por cinco anos". Da mesma forma, o gerente de portfólio da Lazard, Shanu Mathew, também levantou dúvidas sobre o acordo entre Oracle e OpenAI, enfatizando que "grande parte da inteligência artificial parece depender da capacidade da OpenAI de eventualmente gerar receitas significativas e continuar a financiar grandes quantidades de infraestrutura".