Setor de papel e celulose desaponta nos dividendos, apesar de um caixa robusto; conheça o panorama para Klabin, Suzano e Irani.

Setor de papel e celulose desaponta nos dividendos, apesar de um caixa robusto; conheça o panorama para Klabin, Suzano e Irani.

by Beatriz Fontes
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Desalavancagem e Dividendos

Com o ciclo de investimentos encerrado, as empresas passaram a operar com menor alavancagem, ou seja, agora possuem menos dívidas em relação à sua geração de lucros. Essa mudança permite um equilíbrio nas contas, potencializando o interesse dos investidores por dividendos. Entretanto, um aumento na distribuição de lucros não está previsto para o momento.

De acordo com Igor Guedes, analista de commodities da Genial, a diminuição de investimentos resultou em um aumento na geração de caixa, porém, essa receita será utilizada para reduzir as dívidas.

“O mandato é desalavancar primeiro para depois pensar em aumentar o dividend yield (rendimento de proventos)”, afirma.

Guedes ressalta que a Klabin (KLBN11) adotou uma estratégia oposta no final de 2024, ao reduzir sua política de distribuição de dividendos para acelerar a diminuição da alavancagem, planejando aumentar o payout (proporção do lucro distribuída aos acionistas) posteriormente.

No que diz respeito à Suzano (SUZB3), a abordagem da família controladora, a Feffer, é expandir e diversificar o negócio, em vez de maximizar proventos. “Não vejo possibilidade de um ciclo extraordinário de dividendos ou juros sobre capital próprio (JCP). O foco está em M&A (fusões e aquisições) e crescimento”, afirma Guedes.

Apesar de um episódio negativo em 2024, quando rumores de aquisição pela International Paper levaram a uma queda de 13% nas ações em um único dia, o mercado reconhece a disciplina de capital da empresa.

Desde então, a Suzano optou por aquisições menores, como a do negócio internacional de tissue da Kimberly-Clark, ampliando a atuação em novas geografias e segmentos. O Projeto Cerrado, que representa a maior fábrica de celulose do mundo em linha única, é bem visto, pois deve reduzir o custo de produção de R$ 800 para aproximadamente R$ 550 por tonelada.

Novos Projetos nos Balanços das Empresas

Segundo João Daronco, analista CNPI da Suno Research, o mercado acreditava que os ganhos de eficiência operacional levariam mais tempo para aparecer no balanço das grandes empresas de celulose, mas esses avanços já foram notados no 2T25.

A Klabin apresenta um reforço proveniente dos projetos Puma II e Figueira, sendo este último voltado para fortalecer o segmento de embalagens. “Esses avanços aumentam o volume e a receita, e, com o mesmo nível de custo, a melhoria de margem e a geração de caixa ocorrem naturalmente.”

Pilhas de rolos produzidos em fábrica de papel e celulose.
Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e Irani (RANI3) surpreenderam o investidor do setor de papel e celulose da Bolsa com ganhos de eficiência já no 2T25. (Foto: Envato Elements)

Guedes destaca que a Klabin está desalavancando mais rapidamente que a Suzano, diminuindo de uma relação de 4 vezes para 3,7 vezes na dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 12 meses; na Suzano, a relação caiu de 3,1 para 3,0 vezes.

A Irani (RANI3), por sua vez, deve iniciar a redução de alavancagem no segundo semestre. Mesmo assim, a empresa destacou-se no setor de papel e celulose no 2T25, conforme análise de Daronco. A empresa reportou um lucro líquido de R$ 112 milhões, mais do que o dobro do valor registrado no mesmo período do ano anterior. O resultado foi bem aceito pelo mercado, com suas ações apresentando valorização significativa.

Esse desempenho é explicado por vantagens competitivas, baixa exposição a um cenário global incerto e a capacidade de manter custos sob controle, o que aumentou a rentabilidade da Irani, conforme avalia Daronco. A margem alcançou 27%, superior à das concorrentes. “É um ativo pouco acompanhado e isso justifica parte da valorização de quase 10% após o resultado”, diz.

Expectativas para o 3T25 das Empresas de Papel e Celulose

Apesar do bom momento, o próximo ciclo de balanços apresenta desafios para as três companhias.

Guedes menciona a necessidade de confirmação da redução do custo por tonelada por parte da Suzano, já que o 1T25 registrou uma alta significativa em função de paradas de manutenção. Além disso, o mecanismo de repasse de preços pode causar um “delay” (atraso), resultando em uma queda no preço realizado no 3T25, uma vez que o preço spot (à vista) da celulose recuou no segundo trimestre, alcançando o piso de US$ 500.

No horizonte, ainda há uma pressão adicional sobre os preços, intensificada pela própria Suzano, que inaugurou, em julho do ano passado, “a maior planta de celulose de fibra curta do mundo”, com capacidade de 2,55 milhões de toneladas/ano, situada em Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul.

A chilena Arauco também está ampliando uma planta significativa, mas essa iniciativa ainda não foi finalizada. O Projeto Cerrado permanece como a maior planta do mundo em operação no setor.

Conforme Guedes, tais ampliações, juntamente com novas capacidades de concorrentes significativos e expansões na China, elevam a oferta global de celulose, pressionando os preços frente a uma demanda estagnada ou em declínio, especialmente no mercado chinês.

Concorrência Intensa no Mercado Internacional

Em relatório, o Santander aponta que o mercado de celulose deve continuar pressionado no curto prazo, com preços na China apresentando uma queda acumulada de 9% no ano para fibra curta (BHKP) e de 11% para fibra longa (NBSK). A oferta global continuará sendo influenciada por cortes de produção, perpetuando um clima de cautela no mercado, diante das incertezas sobre possíveis tarifas dos EUA sobre importações europeias e brasileiras.

A tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre tissue (produtos como lenços e papel higiênico) brasileiro deve afetar minimamente o mercado, considerando o baixo volume exportado para o país. Mais de 90% da produção brasileira atende ao mercado interno.

Donald Trump durante discurso; questão de tarifas sobre exportações brasileiras está resolvida, segundo analista.
Questão das tarifas americanas que chegou a ameaçar as empresas do setor de papel e celulose da Bolsa está resolvida, segundo João Daronco, analista CNPI da Suno Research. (Foto: Adobe Stock)

Quanto à fatia das exportações, existe a possibilidade de redirecionamento para mercados como México, Canadá e Argentina. O excesso da oferta doméstica continuará pressionando os preços, conforme análise do Santander.

Neste contexto, Suzano e Klabin se destacam por seus custos competitivos, integração operacional e diversificação de portfólio. As perspectivas são de uma melhora gradual caso haja cortes na oferta e um aumento na demanda externa, em especial da China.

Impacto das Tarifas de Trump

Embora a celulose tenha sido isenta das tarifas de importação instituidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, clientes importantes, como frigoríficos e exportadores de frutas, continuam sendo afetados pela taxa – o que pode reduzir a demanda por embalagens. Tal impacto é mais significativo para a Klabin, que fornece caixas de papelão para a exportação de carne e frutas, e para a Suzano, de forma indireta, em virtude da menor atividade de seus clientes.

As três empresas de papel e celulose presentes na Bolsa de Valores têm perfis distintos em relação à exposição ao mercado externo, sendo que a Suzano gera 80% de suas receitas fora do País, a Klabin cerca de 35% a 40% e a Irani praticamente toda sua receita no mercado interno. Apesar disso, Daronco acredita que a problemática das tarifas americanas, que chegou a ameaçar as ações da Suzano, já está resolvida.

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