Ele falhou em menos de uma semana e usou essa experiência para abrir seu próprio negócio.

Desafios do Day Trade no Brasil

A estatística referente ao mercado financeiro é conhecida: uma grande parte das pessoas que se dedicam ao day trade acaba enfrentando prejuízos e desistindo de suas atividades em um período curto de tempo. Um estudo divulgado em setembro pela Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que, entre os anos de 2020 e 2023, cerca de um milhão de brasileiros perderam, coletivamente, R$ 9,9 bilhões com operações de day trade.

Perspectivas de Gabriel Jardim

Gabriel Jardim, que atua como CEO e fundador da plataforma de treinamento Trade Arena, atribui a alta taxa de insucesso não ao mercado em si, mas sim à disposição mental dos operadores: “Day trade não é um jogo de azar, é uma questão de preparo”, explica. Jardim compartilha sua experiência, que vai ao encontro de pessoas que, como ele, enfrentaram dificuldades significativas. Aos 17 anos, após obter lucros consistentes em um simulador, ele decidiu operar em uma conta real, acreditando que se tornaria milionário. Contudo, o resultado foi devastador: em menos de uma semana, ele havia “quebrado” suas finanças.

Após enfrentar esse revés, Jardim entrou no mercado financeiro, trabalhando em instituições renomadas como Ágora e XP, sempre focado nas operações de trading. Sua surpresa foi descobrir que sua experiência era uma realidade comum entre seus clientes. “Os problemas enfrentados eram muito semelhantes aos meus”, ressalta. “Os clientes costumavam operar no simulador, onde ganhavam durante uma semana, mas, em seguida, rapidamente se lançavam a operações reais, onde não duravam nem uma semana e, em muitos casos, nem um mês”.

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Desafio da Transição do Simulador para a Conta Real

De acordo com Jardim, o problema principal reside no “abismo” existente entre o simulador convencional e a conta real. Ele aponta que os simuladores tradicionais não são envolventes, uma vez que não há um risco financeiro real em jogo. Por outro lado, as contas reais demandam um investimento financeiro e uma preparação psicológica que muitos iniciantes ainda não possuem. Jardim critica a percepção anterior que foi propagada sobre o trading, onde se afirmava ser uma maneira fácil de ganhar dinheiro, o que levou alguns a verem o mercado financeiro como um espaço de apostas. “Diferente das apostas que são realmente imprevisíveis, no mercado de ações há uma lógica subjacente”, explica.

No entanto, ele reforça que estudar e se preparar para operar em day trade pode ter um custo elevado, semelhante ao investimento em cursos universitários de medicina. Para mitigar essa dificuldade, a Trade Arena lançou a “Conta Safe”, que se tornou o seu produto principal. Este recurso funciona de maneira similar a um simulador remunerado, mas incorpora uma estratégia denominada “desalavancagem”.

Funcionamento da Conta Safe

A proposta prática consiste em que o usuário faça um pequeno aporte, que pode ser a partir de R$ 25, e escolha operar um saldo simulado maior. Por exemplo, ao aportar R$ 50, ele pode operar como se tivesse R$ 2.000 a sua disposição. Se conseguir dobrar esse montante, aumentando para R$ 4.000, o valor inicial dobrará para R$ 100, que poderá ser sacado. “A ideia é permitir que o usuário tateie o mercado e conheça o funcionamento do day trade sem comprometer valores altos. Eventualmente, ele pode perceber que essa modalidade não é a mais adequada para ele, mas nessa descoberta perderá R$ 300, em vez de R$ 30 mil”, conclui Jardim.

Crescimento da Trade Arena

Estabelecida em 2022, a Trade Arena já congrega 40 mil usuários e observou um crescimento impressionante em seu faturamento, que aumentou mais de dez vezes entre julho e dezembro do ano transato, decorrente da integração da plataforma ao Profit, da Nelogica.

A associação com uma das principais plataformas utilizadas em competições e por traders profissionais foi fundamental para impulsionar o desempenho financeiro da Trade Arena, que almeja atingir a marca de R$ 10 milhões em faturamento até 2025. A expectativa é de que esse montante supere os R$ 30 milhões no ano de 2026.

O Cenário do Mercado de Derivativos

Jardim contextualiza sua empresa em um panorama de mercado mais amplo. Segundo ele, a B3 está implementando iniciativas para tornar os derivativos mais acessíveis, diminuindo as margens de microcontratos, a fim de competir com a acessibilidade das criptomoedas e das apostas online. Ele destaca que a bolsa brasileira está estabelecendo parcerias para organizar competições, similar a algumas que a Trade Arena já promoveu com a própria B3, além de outras instituições como Warren e BTG Pactual, com o objetivo de fomentar esse mercado.

Na semana passada, por exemplo, a Copa BTG Trader, realizada em parceria com a B3 e a Nelogica, premiou o vencedor com R$ 1 milhão e distribuiu prêmios menores aos 100 melhores classificados. Apesar disso, a Trade Arena pretende expandir seus offerings em termos de treinamento. Após se focar no dólar e no índice, a empresa já implementou o contrato futuro de bitcoin e tem planos para incluir ações e outras criptomoedas nos próximos meses.

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